Transições

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Rafa Kalimann
Passado

"Não há transição que não implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o que somos, para sabermos o que seremos."

(Novembro/2020)

Quantos erros você já cometeu?! Provavelmente, muitos. Todas nós cometemos erros e pagamos por eles. Se eu tivesse a maturidade de hoje, talvez não teria errado tanto no passado, mas se eu não tivesse errado tanto é certo que não teria a maturidade de hoje. Meu maior medo nunca foi errar, mas cometer um erro que colocasse fim no mais importante que tenho nessa vida.

-- Hey, filha! - meu corpo tremeu de susto e fechei os olhos forte, tentando controlar minha respiração.

-- Quer me matar de susto, pai?! - abri os olhos, limpando disfarçadamente as lágrimas, e vi seu sorriso num misto culpado e preocupado enquanto sentava na rede da varanda.

-- Eu que te pergunto, uai! - sua voz era carinhosa. -- Procurei ocê pela casa toda e nada, filha. O que tá fazendo deitada no chão da varanda, sozinha, com tudo apagado? - soltei um riso triste e me calei. O que eu iria responder? -- Rafaella? - revirei os olhos.

-- Não é nada, pai...- e ouvi seu suspiro frustrado.

-- Cê brigou com a Manu?! - olhei em seus olhos.

-- Nós não falamos da Manu, pai. Cê sabe que evito esse assunto com o senhor!

-- Do que cê tem medo? - sua voz era triste. -- O que aconteceu naquele jantar tem meses e já conversei com a Manu sobre isso, já até nos resolvemos. - encolhi os ombros.

-- Mas ainda me dói lembrar disso e ainda não confio no senhor pra conversar sobre meu namoro com ela. - ele revirou os olhos, mas notei que ouvir isso o afetou.

-- Não quer falar, eu respeito... só escuta uma coisa: tem meses que cê não vem pra cá direito, desde que aconteceu todo aquele bafafá naquela viagem pra Bahia que cê anda sumida, passa uns 2 dias aqui pra ver eu e os cachorros e vai embora...a Manu começou a gravar no Rio e cê foi pra lá, cê tava lá...eu acompanho as coisas, não sou besta...e agora cê me aparece por aqui do nada, resolveu sair com seus amigos que tem meses e meses que cê nem fala direito, saiu em um monte de perfil de fofoca ocê e Rodolffo conversando pertinho, e cê ainda quer insistir que não vai falar comigo sobre a Manu? Sua mãe não tá aqui nem seu irmão, tem quatro dias que cê tá aqui comigo e não se abre...só quero que cê confie em mim ao menos pra desabafar, filha. - suspirei pesadamente.

-- Não tem o que dizer direito, pai! Eu fiz merda pra variar. Pronto. Tá satisfeito?!

-- Não. - suspirei irritada.

-- Eu fui pro Rio atrás dela porque não tava dando certo a gente afastada, a gente tava brigando muito e eu só queria resolver as coisas. A gente conversou, ficou bem, eu resolvi ficar por lá com ela na casa da Bruna...- parei de falar sentindo as lágrimas quererem cair novamente.

-- E o que aconteceu? - encolhi os ombros.

-- Ela tá sem tempo pra mim. Comecei a perceber que tava atrapalhando, que ela tava sem graça de dizer que precisava trabalhar, ensaiar, ler o script da série. Sem contar que a Manu nunca faz uma coisa só, ela tem vários outros projetos. Eu senti que não encaixava na vida dela, sabe?! Não foi por mal, mas eu vi que tava prejudicando o trabalho dela...- comecei a chorar e ele levantou da rede, sentando com dificuldade no chão pra me abraçar. -- Ela ficou brava quando eu disse que iria vir pra chácara...não gostou nada quando eu falei que achava melhor passar uns dias aqui pra dar mais espaço pra ela. - disse com o rosto afundado no seu pescoço enquanto fungava e ele afagava meus cabelos. -- Ela disse que era nosso aniversário de 5 meses de namoro e que eu nem lembrei, que ela fez uma reserva pra gente num restaurante bem discreto e me encontrou de mala pronta pra ir sem sequer avisar antes ou conversar com ela sobre o que eu tava pensando e sentindo. Ela disse que sou egoísta, pai...que só penso em mim e não suporto ficar com ela sem ser o centro do seu mundo o tempo todo. - e comecei a chorar mais enquanto ele permaneceu quieto, apenas ali comigo, ajudando a segurar a minha barra.

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora