Segunda chance

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Manu Gavassi
Presente

Após minha sogra sair daquele jeito, claramente contrariada, Rafa abaixou a cabeça e continuou a comer. A mesa permaneceu calada esperando uma reação dela, mas nada veio a seguir. Eu tentei segurar sua mão em apoio, mas pela primeira em muito tempo, ela não me deixou. Rafa se fechou e nossas demais companhias perceberam o peso da situação para ela.

A partir daí, todos apenas trabalharam juntos para amenizar a sensação de mal estar que ela parecia viver internamente. Flavina começou a falar sem parar e passou um resumo de tudo que ela fez enquanto estivemos afastadas. Dani a ajudou contando as peripécias de Sofia, que tinha desmaiado cedo depois de brincar com meu amigo e minha irmã quase o dia todo. Aos poucos, pairava um clima bom entre todos. Se não fosse o fato de eu tanto conhecer minha noiva, diria que ela estava bem, mas não era o caso eu sabia que não.

O jantar se alongou bem mais do que o esperado. Meu sogro parecia aflito de preocupação depois de saber sobre a retirada do ovário, o que era compreensível. Porém, até mesmo ele, entendeu que a filha precisava de algum porto seguro e se calou sobre o assunto. Aposto que por isso ele ficou conosco, tentando ser agradável, interagindo com meu pai e buscando aliviar a pressão que Rafa tanto quis não ter sobre os ombros.

Eu contava para todos os que não estavam presentes mais cedo sobre o fato da Rafa ter me ajudado, e sobre como seria o meu álbum. Estava mergulhada respondendo as perguntas, tentando dar atenção para todos e buscando incluir Dani nas conversas. Eu estava quase feliz por ela parecer melhor, por meu sogro aparentar mais naturalidade, por minha família e amigo terem entendido o momento delicado e se comportarem tão bem. Flavina falava e eu estava absorta em como ela sempre foi uma excelente amiga e companheira para a Rafa, pra mim, pra toda essa família. Um verdadeiro pilar. Foi quando eu senti saudade da Marcela, do Tato. Veio forte. Saudade de nos ver juntos, das risadas, das conversas carregadas de sentimentos e, claro, das besteiras.

-- Preciso deitar um pouco...- Rafa disse baixinho quase no meu ouvido, roubando meus olhares, sentidos, sentimentos. Era sempre assim, ela tirava tudo de mim.

-- Tá se sentindo bem? Quero dizer...sem contar toda essa situação de merda? - ela deu um meio sorriso, tristeza brilhando ali. Meu coração quebrou um pouco. Ele sempre foi tão dependente dela.

-- As coisas vão se ajeitar...- a afirmação resignada me causou estranheza. Era da Rafa que estávamos falando, ela não é do tipo centrada, paciente e conformada. -- Eu não tô sentido nada além de cansaço. Só quero deitar e ficar quietinha até dormir.

Assenti. Meus pensamentos ainda confusos, tentando entender esse jeito novo dela de encarar as coisas.

-- Tudo bem. - sorri do jeito que deu. Não queria questionar qualquer coisa agora, ela não precisava disso. -- Nós podemos ir, princesa. - sua mão pousou na minha e ela me deu um sorriso meio culpado. Franzi o cenho perdida no significado daquele gesto.

-- Preciso ficar sozinha. - ouch. meu cérebro parou por alguns segundos. -- Só quero pensar e me conectar comigo mesma. - explicou enquanto eu a olhava sem compreender o motivo dela estar se fechando tanto. -- Pode fazer isso por mim? - era golpe baixo pedir desse jeito. Normalmente ela não faria isso, mas por alguma razão Rafa sentiu que precisava me manipular usando esse meu instinto de fazer tudo e qualquer coisa por ela. Apenas assenti. -- Mesmo? Não vai ficar brava? - neguei sem saber como reagir.

-- Não, amor. - o que mais eu podia dizer? -- Só não esquece de tomar os remédios, tá bem? - passei minha mão por seu rosto e ela me beijou rapidamente. Aliviou um pouco o meu coração, mas não o suficiente.

-- Eu vou tomar...obrigada. - e me beijou novamente pra logo levantar. Aquilo foi estranho demais. Uma sensação esquisita se formou no meu estômago sem eu entender o motivo. Talvez porque ela estava distante. -- Tá meio tarde pra mim, pessoal. - ela disse olhando para todos. -- Vou deitar um pouco e descansar. - percebi seu pai olhando pra mim de um jeito questionador. -- Flá, foi o melhor jantar que eu comi em meses! - sua voz carinhosa. -- Obrigada por cozinhar pra gente.

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora