Rio de Janeiro

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Presente
Manu Gavassi

(15 dias após o término)

"A vida pode nos derrubar, mas podemos escolher se levantamos ou não."

Dizem que o ser humano tem dois grandes recursos para obter êxito e bem estar: educação e atividade física. Por isso, resolvi há alguns dias aliar os dois. Estava finalmente aprendendo francês enquanto corria. Sim, correr tem me feito bem para extravasar, para limpar a mente, para sair do buraco profundo onde eu estava. Depois de alguns dias de disciplina, eu vi luz, parei de abrir o perfil dela no Instagram. Sim, já sorri muito fazendo isso em um passado não muito distante, mas nos últimos dias estava me fazendo muito mal. Eu olhava para sua vida com desânimo, com saudade e uma certa mágoa. Porque eu tinha que ter a deixado? Porque eu estava nessa posição de ter que colocar de lado o que eu sentia? Porque eu tinha que ser assim? Uma vida onde você se vê obrigada a fingir que está viva nem é vida.

Aumento o ritmo da corrida porque minha vontade ao pensar nessas coisas é de esmurrar, de ligar para ela e perguntar porque ela desistiu. Depois de tanto chorar, de me amaldiçoar, de me ridicularizar por amá-la tanto a ponto de me destruir...estou fingindo pra mim mesma que a estou deixando ir de vez. Sim, estou frustrada porque embora eu tenha saído do fundo do poço, dado passos pra fora do meu quarto, pra fora do apartamento, embora eu tenha ganhado a rua, voltado a trabalhar, me mudado, estabelecido uma nova rotina...não consigo deixar de pensar nela nem mesmo ocupando todo o meu tempo. Eu penso nela, a cada dia, a cada escolha, a cada maldito plano. Estou irritada porque enquanto corro eu imagino o seu rosto em todo lugar, confundo sua silhueta com a de diversas pessoas. Ao menos enquanto estou correndo meus pensamentos nela não vão muito além disso, diferente da maioria das vezes, e acho que é por esse motivo que até corrida noturna dentro do condomínio da Bru eu estou fazendo.

Rafa é tudo pra mim, minha esperança, meu futuro tão sonhado, mas hoje eu não sei o que mais esperar. Flavina garante que ela me ama, que sente saudade, que chora por mim e que ainda me quer de volta. Ela tenta alimentar minhas expectativas sobre um possível retorno, todos os dias ela liga para me dar notícias, mas nada tira da minha cabeça como Rafa desistiu rápido demais, como ela simplesmente se refugiou e me deixou ir tão fácil. Talvez seja a minha dor falando, mas eu não a vi lutando. Rafa não agiu como imaginei que agiria, e com o passar dos dias, olhar sua rede social foi a tornando apenas um perfil, a um abismo de distância de mim, e eu me perguntava: sequer é ela quem está postando, porque eu sempre volto aqui? Porque eu continuo dando pause nos seus stories pra olhar para cada milímetro do seu rosto e tentar ler sua expressão? Eu realmente acreditava que iria perceber como ela se sente por uma rede social? Eu merecia estar nesse lugar? Ser só alguém que a acompanhava nas redes e tentava imaginar como era a vida real dela e o que passava de verdade em seu coração?

-- Nossa! - ela assobiou. -- Você fica uma delícia suada assim, sabia?! - sorri revirando os olhos. Ela amava mexer comigo.

-- Acho que hoje bati todos os recordes! - minha voz era ofegante e ela riu me olhando de cima abaixo.

-- Toda essa dedicação é pra entrar em forma de agulha ou tem um certo motivo especial? - revirei os olhos. -- Tem dias que você tá nessa já, Manoela! - suspirei.

-- Me ajuda a limpar a mente, tô aproveitando pra aprender Francês por áudio...tá me fazendo bem! - e fui em direção a cozinha.

-- Realmente acha que pode fugir de mim na minha própria casa? - encolhi os ombros pegando uma garrafa de água.

-- Não custa tentar, né? - dei de ombros e ela riu.

-- Ainda tá nessa de que ela te esqueceu? Que desistiu de vocês? - abaixei os olhos e não respondi, só bebi a água. -- Você não tá pensando direito, Manu...isso é a dor falando por você, seu cérebro tá te pregando uma peça pra doer menos, isso é autoproteção!

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora