Wand of the devil

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Seonghwa


09:00. Sexta-feira.

O dia mal começou e eu já me sinto péssimo. Minha cabeça está doendo pela ressaca de ontem e tudo ao meu redor parece ser irritante demais.

—Você vai até a Moonlight hoje? —Yuri pergunta e eu assinto passando as mãos pelo rosto.

Yuri é um tipo de parceiro sexual para mim, sei que sou o mesmo para ele. Nós nos conhecemos no terceiro colegial, no auge dos dezessete anos, onde qualquer sentimento poderia virar "amor" facilmente.

Foi assim com ele, começamos uma amizade forte e até tentamos um relacionamento mas no meio dele, depois de uma transa eufórica com álcool no cérebro, nós caímos na risada e chegamos a conclusão de que éramos melhores amigos que agiam como um casal.

Não houve aquela coisa de "vamos terminar", apenas seguimos a vida, se pegando vez ou outra nos banheiros da escola e da faculdade.

Desde então mantemos isso. Quando não temos alguém e estamos necessitados recorremos um ao outro e nada além disso. É uma transa casual entre dois amigos de infância.

—Eu preciso ir lá, saber se San está cuidando direito da minha filha. —falo com a voz um pouco rouca e ele sorri.

—Você fala do seu trabalho como se estivesse falando de um parente. —ele sorri ainda mais e se senta entre minhas pernas.

—Mas Moonlight é tudo o que eu tenho, sei que eu fundei várias outras empresas que são famosas e mais aceitas, mas Moonlight foi onde eu comecei. —falo simplista e ele assente.

—Lá é um lugar bastante acolhedor apesar de ser uma casa noturna. —Yuri diz e eu dou uma risada estranha.

O silêncio toma conta do espaço entre nós e eu respiro fundo, perdido no vazio da minha mente. As vezes eu gostaria de ligar para os meus pais e perguntar se estão orgulhosos do homem que eu me tornei, mas a culpa sempre amarga no fundo da garganta quando eu fico sóbrio no dia seguinte.

"Você não é isso, meu filho não seria assim"

"Você está morto para mim, se cure disso se quiser se orgulhar de ser alguém independente de quanto dinheiro você ganhar"

Essas palavras ecoam em minha mente desde quando eu completei dezoito anos e achei ser uma boa opção contar que eu sou gay. Eu estava enganado.

°°°

—Eu sou gay. —minha voz saiu num fio e ecoou por toda cozinha.

Tive a sensação de que toda a vizinhança ouviu minha confissão carregada de vergonha e medo. O silêncio ensurdecedor fez com que tudo ficasse pior.

—Como? —minha mãe perguntou enquanto apertava o forro da mesa entre os dedos.

Uma mulher aos seus quarenta anos, conservadora e cristã, com status na alta sociedade. Naquele momento tive certeza de que ela estava prestes a surtar.

Meus olhos foram até meu pai, ele se mantinha calado, nem um "a" silencioso saia de sua boca.

—Eu sou gay, mãe. —um sorriso nervoso tomou conta dos meus lábios enquanto minhas pernas tremiam para me sustentar em pé na porta que fazia a divisão entre cozinha e sala.

—Gay? —as palavras saíram cuspidas antes de uma xícara de café ser atirada contra mim e cortar meu nariz.

—Mãe? —apesar do que queria minha voz não saiu direito quando minhas mãos tocaram o machucado.

HEARTBEAT [seongjoong]Onde histórias criam vida. Descubra agora