Six years old

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Hongjoong


Domingo. 22:30.


Silêncio. Eu amo o silêncio ao mesmo tempo em que o odeio.

O amo em momentos como agora, onde estou sentado na sacada do quarto e o silêncio é quase palpável. Mas também o odeio vindo das pessoas, de situações sérias, das pessoas que eu amo.

—Hongjoong, podemos conversar? —ouço minha mãe abrir a porta e respiro fundo.

—Conversar? De novo? —pergunto quando ela se senta em minha frente.

—Ainda precisamos falar sobre muitas coisas. —ela diz e eu a olho, puxando a fumaça do cigarro demoradamente.

—Sobre seu namorado? O filho dele? —pergunto indiferente e ela respira fundo.

—Por que você simplesmente não perdoa ele para nós voltarmos a ser uma família outra vez? —ela pergunta com a voz calma e eu dou uma risadinha estranha, apagando o cigarro.

—Quando a gente foi uma família? Ele sempre estava trabalhando e quando ficava em casa vocês dois viviam em uma bolha, como se eu nem estivesse lá. Você chama isso de "ter uma família"? —ela engole em seco e desvia brevemente os olhos.

—Eu já perdoei ele, não precisa pegar minhas dores. Se eu perdoei, por que é tão difícil para você fazer o mesmo? Ele nem fez nada demais.

—"Nada demais"? Quem disse que eu odeio ele por você? —franzo as sobrancelhas e ela passa a mão pelo cabelo— Se você quer viver um amor de adolescente com uma família feliz faça isso, mas não me peça para entrar no meio dessa palhaçada.

—Hongjoong...-

—Eu ainda não terminei. —falo ríspido e ela assente —Vocês têm um ao outro, tem uma criança que com certeza vai ficar muito feliz em ter outra mãe, mas eu não posso fingir que tudo o que aconteceu não me afeta como você faz. Eu não me importo se Soohun se sente mal por não ter minha confiança, se você vai voltar a viver com ele ou qualquer coisa. Eu só quero ficar em paz e ver você morrer aos poucos enquanto tenta ter um resto de vida feliz.

—Eu não vou morrer. —Hwayoung diz com a voz trêmula e eu olho para ela, me sentindo péssimo por fazer ela chorar.

—Não vamos mentir um para o outro, mãe. Eu sei, Soohun sabe e você também sabe que só voltou para casa porque não queria morrer no hospital. —falo sentindo o nó se formar em minha garganta e ela balança a cabeça.

—E é exatamente por isso que eu estou te pedindo para esquecer o que aconteceu pelo menos por um tempo, para que eu possa morrer com a ilusão de que todo aquele inferno que nós passamos foi só um sonho ruim.

—Eu não sei se posso fazer isso por você. —falo respirando fundo.

—Você já fez tanto por mim, pode só me fazer esse último favor? —sua mão gelada toca a minha e ela entrelaça nossos dedos— Eu não quero morrer sentindo culpa, sabendo que meu filho me odeia.

—Eu não odeio você. —falo encarando os olhos dela profundamente, sentindo meu coração doer com o sorriso triste estampado nos lábios dela.

—Pode fazer isso por mim? Quando eu morrer você pode chutar Soohun daqui, mas enquanto eu estiver aqui, pode fingir que somos uma família perfeita? —assinto sem conseguir dizer uma única palavra e ela sorri ainda mais.

Sem dizer mais nada ela se levanta e deixa um beijo em minha testa antes de sair do quarto, me deixando sozinho com o silêncio ensurdecedor.

Mesmo que a vontade de chorar aperte minha garganta, nenhuma lágrima chega aos meus olhos, é como jogar lava em um rio e esperar que ela continue quente e não vire uma pedra.

HEARTBEAT [seongjoong]Onde histórias criam vida. Descubra agora