Capitulo 2

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Berlim, novembro 1933

Itachi e Sasuke cresceram numa família de militares, o avô Madara fez parte da guarda real do Imperador Guilherme II, o pai serviu na primeira guerra e era condecorado com a cruz de ferro, sendo um general  aposentado do exército, viram o novo governo crescer.

Fugaku criou os filhos com o maior rigor possível, queria que os dois seguissem seus passos e pretendia alistados no partido Nazista o quanto antes.
Na verdade Itachi  aos dezenove anos já fazia parte do partido e Sasuke já era membro da Juventude  Hitlerista.
O que não era dito as pessoas de fora, era que tudo isso  não passava de uma fachada de Fugaku. Ele havia percebido a muito tempo que algo estava errado no novo governo, a começar pelo chanceler que morrerá  de causas naturais as vésperas de tomar posse, e o candidato que ficou em segundo lugar assumiria, sem contar os inúmeros desafetos políticos que começaram a "sumir" ou "sofrer acidentes" , com isso ele percebeu que havia mais do que uma disputa de poder.
Em uma certa madrugada chamou seus filhos para seu escritório, a conversa não podia ser ouvida por ninguém, nem mesmos os empregados da casa, qualquer outro  poderia delatar Fugaku e ele seria fuzilado por traição. 

Itachi e Sasuke entraram no escritório apreensivos, o pai não costumava chamar os dois para conversar, a não ser que fosse algo sério,  extremamente sério. E o fato de chamar Sasuke também só confirmava essa teoria,  afinal o garoto só tinha dezesseis anos.

- Sentem-se, rapazes. - ele disse sério, batendo o cigarro no cinzeiro, ultimamente o pai deles andava fumando muito, prova disso eram as bitucas que já estavam lá.
- Mandou chamar ?- a mãe dos rapazes havia pedido a eles que se reunissem, mas pediu silêncio, nem mesmo Chyo a governanta a tantos anos, sabia da reunião. 
- Mandei, e o que direi aqui é  um segredo, ninguém, eu repito, ninguém pode saber do teor dessa conversa,  caso contrario seremos fuzilados sem a menor chance de defesa - ele tinha um aspecto sombrio que assustava os dois irmãos, que se olhavam e olhavam para o pai. - pois bem, como vocês sabem um novo Chanceler foi eleito, e com ele mudanças estão surgindo,  entre elas novas lei e...
- Você esta falando  das proibições a judeus ? - Itachi se adiantou. Lembrou de mais cedo, onde seu amigo Sora foi proibido de entrar no pub.
- Fale baixo. - ele reprimiu o filho mais velho, e praticamente sussurrando respondeu - sim e de ciganos, negros,  deficientes e qualquer um geneticamente diferente dos "arianos". - Itachi já havia entendido e olhou para baixo, buscando entender onde o pai queria chegar, ja Sasuke se aproximava da mesa em apreensão,  não havia entendido, talvez pela idade e pelo que aprendia na escola.
- Mas pai, o que isso quer dizer? O que isso importa para nós? - pai e filho se olharam e ambos olharam para o caçula.
- Sasuke, eles estão perseguindo essas pessoas - itachi começou a explicar, mas ele mesmo não sabia dizer o que iria acontecer com elas.
- Não só perseguir, como exterminar. - Fugaku explicou aos filhos os deixando chocados. - participei de uma reunião do partido hoje mais cedo e  a ideia do alto escalão do Reich é eliminar o que eles chamam de raça suja.
- Eles não podem fazer isso! - Sasuke se desesperou, ele tem amigos judeus na escola, ou melhor tinha, muitos deles não estavam mais indo, e agora percebeu o que isso significava. Se lembrou do garoto italiano que ainda ia para a escola, mas que com certeza logo não iria mais, afinal ele era descente de ciganos, contudo era seu melhor amigo.
- A questão rapazes é que se perceberem o que iremos fazer para essas pessoas seremos considerados traidores e seremos mortos...
- Que assim seja então! - Sasuke  se levantou da cadeira irritado e falando alto.
- Sente-se e fique quieto  - Fugaku foi imperativo. Sasuke obedeceu pois nunca virá seu pai tão sério e nervoso daquela forma. - quantas pessoas poderemos ajudar se nós quatro, inclua sua mãe,  formos fuzilados ? - deu uma pausa olhando para o filho caçula -  Responda Sasuke?
- Nenhuma. - ele respondeu cabisbaixo e com a voz irritada. 
- Exatamente, nenhuma. E essa não é  a minha intenção. Pretendo continuar fazendo parte do partido e quero vocês dois lá. - os dois iam começar com os protestos de novo quando ele ergueu a mão, em sinal de silêncio - estando nós  três lá saberemos os passos dos nazistas, e assim poderemos  saber o que fazer. Por hora somente itachi entrará no partido, mas Sasuke, você irá ajudar a esconder as pessoas nessa casa. Porém ninguém, absolutamente ninguém pode saber que há judeus ou ciganos aqui, vocês me entenderam? -
- Sim, senhor - eles disseram em uníssono,  como dois bons soldados que eram. Se levantaram e saíram, percebendo que não havia mais o que dizer.
- Tomem cuidado com tudo, as paredes tem ouvidos, e lembrem-se não aparentem ser bonzinhos de mais na rua. Isso irá denunciar vocês.  - o último recado foi recebido por cima do ombro, pois já estavam de saída, ambos assentiram e saíram. Cada um para seu quarto, mas ambos com o mesmo pensamento : Quando seriam fuzilados?


🌸


Berlim, novembro 1934


Sakura havia saído da escola, não aguentou as humilhações da grande maioria das colegas e das professoras, que em sua maioria eram freiras. Se perguntava que tipo de religião elas seguiam, em que era normal tratar uma pessoa como lixo daquela maneira.
Passava o dia ajudando a mãe e a tia nos afazeres domésticos, levava comida para o pai e o irmão na hora do almoço e depois  voltava para casa, pois a tarde ela quem cuidava da avó. 
Tsunade estava com Alzheimer e frequentemente se esquecia de tudo, de onde morava, achava que estava visitando alguém e cismada em ir embora, por isso a porta era sempre trancada, confundia Sora com Kizashi, realmente o irmão mais velho de sakura se parecia muito com o pai quando jovem. Não reconhecia Shizune, sua filha e  nem Mebuki sua nora. Para ela eram visitas de seus filhos e Sakura ela achava que era uma sobrinha que ela tinha em sua terra Natal.
A mulher que antes era robusta, forte, com voz de trovão, lindos cabelos loiros hoje parecia perdida. E por isso Sakura se preocupava muito e cuidava com todo o zelo e paciência possível, afinal a avó cuidava dela e do irmão com todo amor possível.
Sora trabalhava com o pai na joalheria, fazendo algumas joias e restaurando outras, ajudava a avaliar os objetos penhorados mas ultimamente eram poucas pessoas que os procuravam, o rapaz já não conseguia trabalho, havia se afastado dos amigos.
Deidara e Sasori agora eram soldados da Whermacht, apenas esperando o estopim da guerra, e Itachi, corria o boato, de que ele fazia parte da Gestapo, polícia secreta da Alemanha, que basicamente caçava judeus.
Não tinha um dia que Sora não se preocupava em acordar com Itachi em sua porta, levando ele e a família, chegava até mesmo a estranhar isso não acontecer, quando soube da posição do amigo, teve certeza de que ele iria aparecer no dia seguinte.

Hoje ele e o pai haviam tirado a manhã para limpar a fachada da loja, pois a mesma amanheceu pixada, mais uma vez, na semana, já era a terceira.
Normalmente ofensas antissemitas, mas seu pai era assim " limpe e continue a trabalhar", já Sora só queria encontrar o responsável e lhe dar uma surra, o que eles fizeram para receber essa punição? Pelo simples fato de ter  uma fé diferente, ou por se dedicarem ao trabalho duro ? Ou por mexerem com ouro ?
Tudo que seu pai tinha ele conquistou com muito esforço, não roubou nada de ninguém, nem fora desonesto, apenas trabalhou. Isso agora era crime?
Se questionava enquanto limpava os vidro pixados da vitrine.
- A vida é  assim filho, tem dias que você mexe com ouro, tem dias que tem que limpar a sujeira. - ele sorriu e Sora se perguntou como o pai conseguia manter o alto astral. Era um homem baixinho e careca, que sorria a toa, usa usa camisa branca e um colete por cima, sempre com seu relógio de ouro, o primeiro que comprou com seu salário, Sora se perguntava diariamente por que o pai tinha que ser mal tratado dessa dorma. Mas nesse momento em que o pai sorria para ele uma pedra acertou sua tempora, fazendo o momento se desfazer.
- MORRA JUDEU IMUNDO!
- PAI ! - alguém havia jogado a pedra e gritado para os dois. Sora correu para socorrer o pai e Sakura que vinha com o almoço dos dois correu até eles.
- Pai - disse chorosa - meu Deus, por que fazer isso com ele ? Pai fala comigo ! - o homem recobrava a consciência lentamente. Viu a filha chorando e o filho em pé irritado andando de um lado a outro, a procura dos responsáveis.
- Sora, não adianta - ele disse com a voz falha - vamos até em casa. Esqueça isso.
- Não pai. Isso não pode ficar assim ! - a irritação irradiava do filho. - se eu pego esses desgraçados... - levantou o punho.
- Violência só vai causar mais violência. - ele sangrava um pouco e Sakura chorava com a cena.  - vamos, sua irmã ficou abalada. - sussurrou como se ela não o ouvisse.
Os três seguiram juntos pra casa, Sora segurando o pai pelo braço, com medo dele desequilibrar, e Sakura ao lado deles, pronta para ajudar Sora a carregar o pai.
Próximo a casa deles um carro estava parado do outro lado da rua, Sora sentiu o sangue gelar quando viu Itachi no banco de trás de um veículo, olhando fixamente para os três. Ele parou de andar, estava en choque enquanto Sakura implorava para que ele entrasse, a essa altura ela também ajudava a carregar o pai machucado.
- Sora pelo amor de Deus vamos pra dentro - ela pediu chorosa já. Não havia visto o Uchiha do outro lado da rua.
- Sakura ... a Gestapo está nos vigiando. - sussurrou para a irmã que o olhou assustada. Ela ainda não sabia que Itachi  fazia parte do alto escalão.
- E agora ? O que a gente faz ? - as lágrimas começavam a surgir.
- Vamos entrar e fingir que foi um acidente apenas. Lá dentro a gente conversa. - ela assentiu.
Os dois entraram em silêncio, pois minutos antes Sakura xingava de todos os nomes os afiliados do partido que haviam feito isso.
- Misericórdia! o que houve ? - a mãe deles punha a mão na boca em desespero. - Sora...?
- Calma mãe, eu já explico. - disse num sussurro, colocando o homem com a cabeça ensanguentada sentado no sofá.  Sakura agradeceu mentalmente a avó estar no quarto, não presenciando aquela cena deprimente - traz água e gelo mamãe.  - Sora pediu com carinho, vendo a mãe tão abalada. Sakura havia sumido para dentro da casa e logo voltou com um kit de primeiros socorros . Com um pouco de água oxigenada limpou o local para fazer um pequeno curativo, do qual aprenderá em seu último ano na escola.
- Sora de onde você tirou essa ideia de Gestapo? - perguntou incrédula- sei que estamos num mau momento mas não precisava me assustar dessa forma.
- Não estou assustando ninguém - respondeu irritado - eu sei o que eu vi.  Era Itachi no carro e ele faz parte da Gestapo agora.
- O quê ?!? - Sakura estava atônita.
- Não pode ser ... - a mãe parecia perdida.
- O que houve aqui ? - a tia deles Shizune apareceu na sala para saber o motivo das vozes preocupadas, porém baixas de mais para a casa. Antes só acharia que era Sora querendo pregar alguma peça, mas na atual circustancia cochichos não eram boa coisa. - meu Deus Kizashi o que aconteceu? - a mulher magra, de cabelos castanhos e olhos da mesma cor apareceu na sala.
- Nada minha irmã, não foi nada... - ele falou pela primeira vez desde a agressão e suas palavras só serviram para irritar Sora. 
- Foi sim tia, nós fomos atacados, ele levou uma pedrada. - disse com irritação na voz.
- Sora calma - a mãe pediu.
- Como vou ficar  calmo mãe? - ele estava cansado de tudo isso, e ver um de seus melhores amigos vigiando a casa deles como se fossem criminosos só fazia sua irritação piorar. 
- Sora você me pediu para agir normalmente e agora você que perde as estribeiras - Sakura falou baixo e irritada  - explica o que está acontecendo. - ela suplicou. Ele respirou fundo, ele e o pai tentavam de toda forma proteger as mulheres da casa. Diziam para elas não saírem, a meses não compravam mais jornais, que só denegriam a imagem dos judeus e mais importante não diziam a elas das ofensar que ouviam nas ruas. Sora achava um erro pois poderia acontecer exatamente o que estava acontecendo agora. Seria inevitável que elas descobrissem, assim como era inútil tentar protegê-las visto que elas eram vítimas também. Era uma questão de tempo até uma delas ser ofendida ou pior, agredida. 
- Itachi Uchiha faz parte da Gestapo agora, até onde sei, ele prende e deporta judeus e ciganos para o leste da Polônia. -  elas achavam que eles capturavam apenas imigrantes ilegais e terroristas.
- Mas nós somos alemãs -  Shizune exclamou chorosa.
- A questão não é  apenas ser alemã...
- Sora ! - o pai o interrompeu. Não queria que ele falasse mais nada.
- Elas precisam saber a verdade pai. Mentir para elas só vai servir pra chocar quando elas souberem a verdade por outra pessoa - as três mulheres na sala olharam os dois espantadas, esperando a explicações.
- Kizashi me diz o que está acontecendo! Por favor! - suplicou Mebuki para o marido.
- Estao caçando judeus Mebuki, assim como caçam ratos. Estão deportando os mais rebeldes e por enquanto apenas calando os que estão fazendo mais barulho. Mas logo será a nossa vez. - Sora continuava quieto, na verdade estava apavorado, não tinha certeza das intenções do Uchiha, e se ele pretendia deporta-los? O que ele faria ? Precisava pensar num jeito para salvar sua família. Nem que para isso precisasse se sacrificar. Era o risco que ele correria.
Já Mebiki olhava para Kizashi com preocupação,  ambos tinham um plano que se desse certo salvaria os quatro,  a irmã e a mãe de kizashi e os filhos, mas eles tinham certeza de  que haveriam protestos, e os filhos não aceitariam deixar os pais.
- Vocês vão para a América. - Kizashi proferiu, esperando os gritos.
- O QUE !? - Sora e Sakura disseram em uníssono.
- É  exatamente isso! - o pai disse resoluto - vamos colocar vocês quatro num navio o quanto antes e vocês vão viver na América. Lá não está tendo perseguição, segundo o que eu ouvi. Vocês vão fugir desse caos.
- Eu não vou  - Sora respondeu irritado - mande a mamãe no meu lugar, eu me recusou a sair daqui.
- Não é  você quem decide. - kizashi já tinha imaginado esse diálogo tantas vezes em sua cabeça que ele já sabia exatamente o que dizer.
- Você acha que eu vou ter coragem de fugir e deixar você e a mamãe aqui? Você só pode estar ficando louco!
- Respeite seu pai Sora - Mebuki o corrigiu.
- Não pai. Mande a mamãe no meu lugar. Eu fico com você aqui. Nós podemos fugir para a França ou a Inglaterra.
- Ei eu não quero fugir para lugar nenhum- Sakura se pronunciou. - eu vou ficar aqui. Mande a mamãe, tia Shizune e a vovó.
- Não diga tolices minha filha. - kizashi já esperava essa reação dos filhos, mas era preciso, ele não aguentaria ver os filhos sendo levados. - vocês quatro vão, irão cuidar da sua avó  e de sua tia, e assim que pudermos vamos eu e sua mãe.
- Pai eu que devo ficar ! - Sora suplicou.
- Quem vai cuidar delas Sora ? Três mulheres sozinhas em uma terra estrangeira. Você deve ir.
- Mas  eu...
- É  seu dever como irmão mais velho... - Kizashi o cortou com uma voz triste. O mesmo sabia que as chances dele e de Mebuki conseguirem escapar seriam nulas e se o que seus poucos clientes disseram for verdade o futuro na Alemanha ia ser terrível.
- Eu vou ver as passagem para o quanto antes, quero vocês longe daqui o quanto antes.
- A situação é  tão crítica assim meu irmão? - Shizune se pronunciou pela primeira vez.
- Esta começando a ficar. - a apreensão dentro da casa estava quase palpável.  Pois a família sempre tão unida iria ter que se separar e todos sabiam que a probabilidade de se verem de novo era mínima - a mamãe tem que ser a primeira a sair daqui. - ela olhou para o irmão espantada. Sabia o que as palavras dele queriam dizer e isso a apavorou.
- Não! - disse chorosa.
- Se ela não sair daqui o quanto antes será inevitável.  - Shizune começou a chorar, tentou se controlar para não se desesperar e não acordar a mãe,  mas já era tarde. A idosa estava em pé atrás dela.
- Tá chorando por que menina ? - ela não se lembrava quem era a mulher a sua frente. - Kizashi traz água pra ela. Não tá vendo que ela tá desesperada - disse se direcionando a Sora. Kizashi apenas afirmou com a cabeça. No momento não era bom que ela tivesse um choque e entendesse que quem estava chorando era sua filha. Isso acarretaria em ter que explicar tudo para ela. O que seria apenas dor e sofrimento.
Ele foi até a cozinha e buscou o que lhe foi pedido, respirou fundo, a imagem de Itachi dentro do automóvel ainda o aterrorizava. " o que ele queria ali ? Espionar o que eles fariam? E se ele levasse a família? " era os pensamentos de Sora e ele jurou a si mesmo que se Itachi tentasse qualquer coisa ele esqueceria que foram amigos um dia e o mataria.
Qualquer coisa para salvar sua família.

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