Capitulo 15

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Varsóvia, Dezembro de 1930

Ela havia ensaiado o semestre inteiro, cada nota estava gravada em seu cérebro como ferro quente, mas isso não a impedia de estar nervosa, haveriam muitas pessoas ali, inclusive seus pais, aos quais tinham muita expectativa para com ela. Izumi respirou fundo, buscando coragem, oxigenou a mente e decidida pegou seu instrumento no pedestal e o tocaria para a plateia, mesmo que sua mente gritasse para que ela corresse para dentro de tanto nervoso.

No palco um enorme tablado de madeira que ecoava os passos que dava, haviam muitas pessoas ali inclusive um dos maiores maestros da Polônia, segundo diziam ele poderia oferecer a ela uma vaga na Orquestra Sinfônica de Varsóvia, isso deveria ser um combustível, mas neste momento estava sendo apenas mais um gatilho para seu nervosismo, seria um milagre se ela não derrubasse seu arco.

A luz batia em seu olho e não a deixava enxergar com clareza quem estava ali, além dos pais que ela já havia visto na coxia, não conseguia identificar mais ninguém.

Respirou fundo mais uma vez, era sua hora, segurou firme o arco e o passou pela primeira vez nas cordas do violino e o som doce saiu, entrou em seus ouvidos e agora nada mais importava, fechou os olhos e imaginou que estava sozinha no estúdio que seu pai construiu para que ela ensaiasse.

A composição de Mozart fazia seus pelos se arrepiarem, e lembrar que ela quem as reproduzia a deixava ainda mais animada, ela tocava com a alma e ela sentia que ninguém podia tirar isso dela, o prazer em tocar cada nota. Tocava com tanta paixão que ao fim se assustou com os aplausos acalorados da plateia, fez uma reverência e sorriu, seus olhos castanhos úmidos pelas lágrimas, tão feliz que ela tinha certeza de que poderia flutuar como uma pluma.



Varsóvia, Agosto de 1940.



A jovem violinista se viu sendo mandada para os tais guetos, ela e os pais acreditaram que o fato de serem abastados os salvaria de serem mandados para o bairro que seria apenas de judeus, um ledo engano, nem todo o dinheiro do pai dela ou até mesmo dela, foram aceitos pelos nazistas que os mandaram para um pequeno apartamento.

Diferente do que estava acostumada, ela tinha que dividir seu quarto com os pais, a comida era racionada e nas ruas via muita miséria e desespero, crianças comendo comida do lixo, velhas pedindo, pessoas sendo roubadas, o caos e o desespero espalhados pelas ruas, e com os passar dos meses tudo só foi piorando, as pessoas começaram a ser caçadas pelas idades, as propagandas diziam que eles iriam para asilos onde seriam cuidados por médicos, mas os judeus que viviam no gueto sabiam que não, segundo os boatos os velhos iriam ser mortos em campos de trabalho forçados, trabalhar até morrer. E quem quisesse sobreviver devia arrumar um emprego e vistos de trabalho.

Izumi se desesperou, nunca teve um ofício além da música, desde os dezesseis anos ela tocava na Orquestra e ganhava um salário considerável para isso, ela nunca havia lavado um prato na vida.

Para sua sorte ou azar uma amiga de sua mãe lhe arrumou um visto de cozinheira, o que lhe garantiu ficar em Varsóvia, contudo ela não sabia fazer um ovo, aprendeu na marra a preparar pratos sofisticados, apanhava quando errava, mas se dedicava a aprender, assim como fez com o violino. Com o tempo estava se tornando uma verdadeira chef de cozinha.

Mas o que para ela se tornou solução para os pais já não foi possível, pela idade avançada os pais de Izumi iam ser levados para os campos de trabalho forçado, o que ela não iria deixar, achou que se comprometer a cuidar deles seria suficiente. Ao invés disso ela iria ser levada também, o que causou desespero em seus pais, Hannah sua mãe, implorou para que a filha desistisse daquela ideia estapafúrdia, mas não havia uma viva alma que a fizesse mudar de ideia.

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