Capítulo 10

2.1K 149 13
                                    

— Que merda Madelyin, você sempre esquece o que acontece! — Helena chamou a minha atenção séria, com uma xícara de café na mão.

— Eu não me esqueci. Foi como eu disse...

— Mas foram só relances, nada concreto. Aliás, até agora eu não entendi do porquê você ligou para ele.

— Nem eu? — Massageei as têmporas, com dor — Quer dizer, eu estava brava com ele não tem sentido isso.

— Brava porque ele estava com outras. — Helena fingiu uma tosse.

— Dessa parte eu me lembro, obrigada viu.

— To aqui para isso. — Ela disse se levantando e indo atender o interfone.

— Sabe quem são elas? — Perguntei — As meninas que estavam com ele ontem.

— Não faço a mínima ideia. Mas a Thalita disse que a ex namorada dele começou a seguir ele de novo, e ele seguiu ela. Coisa que tinham deixado de fazer faz um tempo.

— Ele namorava? — Perguntei franzindo o cenho.

— Pelo jeito, sim. Mas eu acho que foi por pouco tempo, sei lá. — Ela deu de ombros desligando o interfone — Falam que eles eram loucos um pelo outro.

— Eu não sabia...

— Sai dessa enquanto ainda pode, Made. Não quero te ver machucada.

Olhei para o meu celular que tinha algumas mensagens da minha mãe e Hariel.

Respondi a minha mãe que perguntou várias vezes como eu estava. Evitei olhar as mensagens de Hariel.

Antes de desligar, outra pessoa me mandou mensagem.

— Helena, eu passei o meu número para o carinha de ontem? — Perguntei olhando a foto do rapaz.

Henrique.

— Eu nem sei de quem você tá falando. — Ela fez careta — Não sabia nem quem era eu ontem.

Revirei os olhos a ignorando e indo responder.

Antes de desligar o celular, de novo, o nome de Hariel apareceu me ligando.

— "Deixa eu te falar, vamos almoçar? Preciso conversar com você" — Ele disse assim que atendi.

Senti um frio na barriga.

— "Claro."

— "Ok. Daqui quinze minutos eu passo ai." — Ouvi o barulho da rua e a sua voz tremida.

— "Ok."

— "Tá tudo bem?"

— "Tá sim, só precisamos realmente conversar"

Olhei para a Helena que tentava saber o que ele queria.

— "Tudo bem, até já já." — Ele encerrou a ligação.

Respirei fundo e de repente várias perguntas vieram a tona na minha mente...

Helena me olhou confusa.

— É melhor assim mesmo... — Penso em voz alta. Helena continua confusa. — Não estou querendo me envolver com ninguém, nem dei o primeiro passo de fazer o que realmente vim fazer.

— A sua família biológica, né?

— Sim, preciso disso.

— E como vai o tratamento? — Helena disse meio receosa — Eu sei que você odeia falar sobre, mas uma hora ou outra precisamos conversar. Esse foi o acordo que eu e os seus pais tivemos; preciso cuidar de você aqui.

Estava evitando falar disso faz tempo, nem pensei no assunto desde quando cheguei. Pelo menos, tentei não pensar.

— Estou bem. Sem nenhum efeito colateral, nem novos sintomas. — Forcei um sorriso. — Começo a passar com o novo oncologista na segunda.

— Ok, vou marcar na minha agendinha — Ela riu apontando para um caderno velho.

— Cria vergonha na cara. — Rimos.

Enquanto eu me arrumava, uma sensação horrível de que parece ser uma despedida tomou conta do meu corpo.

Fiz um rabo de cavalo não suportando mais a bipolaridade do clima de São Paulo. Calcei uma Havaianas branca e sai.

Desci o elevador olhando o meu look simples.

Chequei o meu celular, onde tinha uma mensagem do Hariel falando onde estava.

— Oi. — Entrei no carro sentindo o seu cheiro.

— Oi. — Ele me olhou com um sorriso de canto.

Olhei para frente sem saber o que dizer, ele fez o mesmo.

— Como está? — Ele pergunta voltando os olhos a mim. 

— Bem. — Respondo sem hesitar. — Quer dizer, acordei morrendo de dor de cabeça, mas bem. — Sorrio sem graça assim que vejo o seu sorriso discreto surgir enquanto me olha. — E você, como está? 

Ah, eu bem. Tirando que uma maluca me ligou ontem de madrugada e eu tive que ir ao seu resgate... tirando isso eu tô belezinha

Sorrio sem graças com as mãos no rosto. 

— Devia ser uma maluca mesmo. 

— Totalmente. — Sinto a sua mão acariciar o meu cabelo na nuca. 

Volto com os olhos para ele. 

A luz do dia clareia os seus olhos, os deixando mais marrons possíveis. Completamente lindo. 

Apoio a cabeça no seu ombro enquanto ele continua com o carinho. Não conversamos, não falamos absolutamente nada, só permanecemos assim. 

O meu celular vibra no meu colo. Atendo assim que vejo o nome da minha mãe na tela. 

"— Hello!! — Ouço a sua voz como um eco. 

Hi! — A minha voz sai abafada por estar apoiada em Hariel.

How are you doing? I thought you were avoiding me. (como está? Pensei que estivesse me evitando.) — Ela brinca. 

I? Of course not. (eu? Claro que não.) — Tento me animar quando vejo o rosto de Heriel perdido. 

Oh, honey. I miss you so much! (ah, querida. Eu sinto tanta a sua falta). 

Me too. (eu também sinto) — Sinto o meu coração apertar e a minha voz falhar.

Okay, okay! I need to get back to baseball. Have fun and tell me everything. Everything! (ok, ok. Preciso voltar para o basebool. Se divirta e me conte tudo, tudo mesmo!) — Sinto a sua voz calma, como sempre. É tão bom, transmite paz. — Especially when going to the doctor (Principalmente quando for ao médico). 

Droga.

Ok, mom

Bye, honey. I love you! (tchau, querida. Eu te amo!). 

Pisco várias vezes, tentando conter as lágrimas. Que saudade. 

Bye, mom. I love you so much! (tchau, mãe. Eu te amo muito!)  

Ela desliga. Não de forma fria, mas de forma que não nos faça sofrer mais. Ela me ama e deseja que eu sigo o meu caminho, mas sei o quão doloroso é para ela me ver longe. Muito, muito longe... 

Me desperto dos pensamentos e vejo Hariel ainda me olhando. Ele está calmo, há tanta ternura em seus olhos. 

— Da brisa te ver falando outra língua, ainda mais com a sua mãe — Ele continua com o carinho. —  É tão fofa. Tão natural. — Passa o polegar na minha bochechar, carinhoso — Estava com saudades sua. 

— Eu também, mesmo que tenhamos nos visto ontem — Sorrio ainda sem graça.

Hariel de uma forma ou de outra, faz com que eu me sinta em casa. Como se não fosse tão difícil estar longe da minha família quando estou com ele.

É complicado e, ao mesmo tempo, bom. 

HIPNOSEOnde histórias criam vida. Descubra agora