Capítulo 11

2.2K 144 27
                                    

Hariel. — 

— Te contei o que eu tive que ouvir esses dias? — Disse me lembrando da cena.

— Hum? — Made me olha colocando o garfo cheio na boca. 

A nossa mesa fica na parte externo do restaurante. O sol já está se pondo. O seu cabelo fica mais loiro no sol e os olhos mais castanhos mel.

Madelyin tem o olhar firme, é confiante e tem o ar de burguesa, mimada. Mas, embora ainda seja tudo isso, é a garota mais sensacional que conheci. Sempre que eu a chamo, ela topa, sem hesitar. 

Essa é a oitava vez em que saímos. Não que eu esteja contando, mas é bom saber que ela me permite conhece-la melhor. 

— O que foi? 

— Nada. — Disfarço. — Na noite em que ficou bêbada, aquela em que me ligou...

— Eu me lembro. Eu me lembro. — Seu rosto fica corado.

— Me lembrei de você falando algumas coisas, tá ligada? Pique assim, ain o seu beijo é tão bom e, — Forço uma voz feminina. — eu não quero ficar famosa... 

Paro assim que o meu rosto é atingido pelo guardanapo enquanto ainda rio. Em seguida ela fala vários "já chega" com uma gargalhada. 

— É bom saber que o meu beijo é bom. Você me proporcionou essa resposta, obrigado. — Zombo. 

— Eu podia estar arrumando as minhas coisas, mas estou aqui ouvindo você me zoar? — Seu rosto a traí, fazendo ela rir.

— Para qual praia vão? — Pergunto cortando a carne no prato.

— Não me lembro. São tantos nomes estranhos. — Ela da um gole na sua bebida.

— Claro, vocês só conhecem o Rio de Janeiro. Temos várias praias foda. Ubatuba é um lugar muito maneiro também, eu amava ir quando era pivete.

— Sim! — Seus olhos se iluminam. — A minha família biológica é de lá, mas vieram para cá.

— Então eles tem dinheiro?

— Os meus pais? Não.

— Como sabe? — Mastigo educadamente. — Você nunca me contou a sua história.

Ela demora um pouco para assimilar a pergunta, mas responde.

— Com sete anos de idade, os meus pais me adotaram. Eu conhecia os meus pais biológicos, não me lembro exatamente, mas... — Ela para por um momento, comendo — Eu fiquei doente, muito doente, e os meus pais não tinham dinheiro para bancar o custo aqui, no Brasil.

Ela me olha, sem nenhum sentimento.

— A minha mãe trabalhava como doméstica, sempre me levava depois da escola para ficar com ela no trabalho. Me apeguei muito aos patrões dela, os meus pais. — Explica. — Então eles fizeram a proposta de me levarem ao pais deles para me tratar melhor. Eu não sei como foi o processo, mas depois de um tempo, perderam contato com os meus pais biológicos.

— Mas os seus pais adotivos procuraram por eles, né?

— Sim. A minha mãe biológica morreu, o meu pai entrou em depressão depois disso. — Seu olhar se entristece — Bom... tenho dois irmãos. Vim para me aproximar deles ou, pelo menos, saber se estão bem.

— Se precisar, estou aqui para ajudar no que quiser. Tem alguma pista? 

— Obrigada. — Seu rosto se ilumina. — Bom, tenho o endereço de onde moram. Só preciso me preparar mais um pouco. 

— E tá certa. No seu momento. — Termino a minha refeição — O que você tinha? A doença...

— Ah... — Ela pensa por um tempo — Não me lembro, já faz tanto tempo. 

Continuamos comendo, desta vez, em silêncio absoluto. 

O toque de Nando Reis toca no restaurante enquanto esperamos o garçom trazer a conta. 

—  "Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado, e eu entendo

Por onde andei?
Enquanto você me procurava
E o que eu te dei? Foi muito pouco quase nada

E o que eu deixei?

Algumas roupas penduradas
Será que eu sei?Que você é mesmo

Tudo aquilo que me faltava" 

Canto assim que a música começa, junto com o cantor

Made abre um sorriso lindo, mostrando os seus perfeitos dentes. O seu rosto não tem maquiagem alguma. Gosto de como o seu olhar pareceu me admirar, então continuo a cantar. 

"Amor eu sinto a sua falta
E a falta
é a morte da esperança
Como um dia
Que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança

Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama"

— Que lindo. 

— Nando Reis, o cara é uma fera. — Respondo — Precisa conhecer mais da música popular Brasileira. Eu sei que na maioria das vezes, só escutamos assim; de fundo em algum lugar que não notamos. 

— Não me importo de ter você cantando para eu dormir. — Fico sem reação, que bom ouvir isso. — Você realmente ama música, né? 

— Sem duvida alguma. — Respondo olhando ao redor para ver se o garçom volta — A música literalmente me salvou. É o que sou hoje, foi o que me trouxe até aqui. 

— Até o restaurante? — Ela brinca depois de um tempo concordando. 

— De certa forma... 

Talvez eu não teria um real no bolso, não estaria aqui. 

O garçom traz a conta, vamos embora e eu a levo até a portaria do prédio de sua amiga. 

— Obrigada. — Agradece meiga, abrindo a porta. 

— De nada, na verdade eu que agradeço. — Sorrio fazendo o mesmo. 

Ouço Legião Urbana tocar baixo em alguma casa ali perto assim que dou a volta no carro, indo em sua direção. 

Madelyin usa um vestido claro florido.

— Vão que horas? 

João, o amigo delas, vai dar uma festa na casa de praia em Bertioga. Ele me chamou, mas tenho shows hoje e amanhã, sem descanso. 

— Helena disse que a noite, não sei que horas. — Espreguiçou-se com um sorriso de canto, sem graça. 

Me aproximei e a puxei para um abraço. Seus braços me prenderam, abaixei a cabeça e sentir o cheiro do seu condicionador. 

Coloquei as duas mão sobre o seu rosto, a puxando para um beijo. Ela levantou os pés e retribuiu com os braços no meu ombro. 

Encostei o seu corpo no carro atrás, passei a mão na sua cintura, descendo carinhosamente. Made grudou o corpo ao meu, me fazendo ficar mais duro. 

Massageei com a outra mão a sua nuca, e levei a boca até o seu ouvido. 

— Melhor ir agora. 

— Não... — Seus lábio desceram até o meu pescoço, deixando vários beijos. — Helena chega só mais tarde. Sobe comigo... 

HIPNOSEOnde histórias criam vida. Descubra agora