Hariel. —
— Te contei o que eu tive que ouvir esses dias? — Disse me lembrando da cena.
— Hum? — Made me olha colocando o garfo cheio na boca.
A nossa mesa fica na parte externo do restaurante. O sol já está se pondo. O seu cabelo fica mais loiro no sol e os olhos mais castanhos mel.
Madelyin tem o olhar firme, é confiante e tem o ar de burguesa, mimada. Mas, embora ainda seja tudo isso, é a garota mais sensacional que conheci. Sempre que eu a chamo, ela topa, sem hesitar.
Essa é a oitava vez em que saímos. Não que eu esteja contando, mas é bom saber que ela me permite conhece-la melhor.
— O que foi?
— Nada. — Disfarço. — Na noite em que ficou bêbada, aquela em que me ligou...
— Eu me lembro. Eu me lembro. — Seu rosto fica corado.
— Me lembrei de você falando algumas coisas, tá ligada? Pique assim, ain o seu beijo é tão bom e, — Forço uma voz feminina. — eu não quero ficar famosa...
Paro assim que o meu rosto é atingido pelo guardanapo enquanto ainda rio. Em seguida ela fala vários "já chega" com uma gargalhada.
— É bom saber que o meu beijo é bom. Você me proporcionou essa resposta, obrigado. — Zombo.
— Eu podia estar arrumando as minhas coisas, mas estou aqui ouvindo você me zoar? — Seu rosto a traí, fazendo ela rir.
— Para qual praia vão? — Pergunto cortando a carne no prato.
— Não me lembro. São tantos nomes estranhos. — Ela da um gole na sua bebida.
— Claro, vocês só conhecem o Rio de Janeiro. Temos várias praias foda. Ubatuba é um lugar muito maneiro também, eu amava ir quando era pivete.
— Sim! — Seus olhos se iluminam. — A minha família biológica é de lá, mas vieram para cá.
— Então eles tem dinheiro?
— Os meus pais? Não.
— Como sabe? — Mastigo educadamente. — Você nunca me contou a sua história.
Ela demora um pouco para assimilar a pergunta, mas responde.
— Com sete anos de idade, os meus pais me adotaram. Eu conhecia os meus pais biológicos, não me lembro exatamente, mas... — Ela para por um momento, comendo — Eu fiquei doente, muito doente, e os meus pais não tinham dinheiro para bancar o custo aqui, no Brasil.
Ela me olha, sem nenhum sentimento.
— A minha mãe trabalhava como doméstica, sempre me levava depois da escola para ficar com ela no trabalho. Me apeguei muito aos patrões dela, os meus pais. — Explica. — Então eles fizeram a proposta de me levarem ao pais deles para me tratar melhor. Eu não sei como foi o processo, mas depois de um tempo, perderam contato com os meus pais biológicos.
— Mas os seus pais adotivos procuraram por eles, né?
— Sim. A minha mãe biológica morreu, o meu pai entrou em depressão depois disso. — Seu olhar se entristece — Bom... tenho dois irmãos. Vim para me aproximar deles ou, pelo menos, saber se estão bem.
— Se precisar, estou aqui para ajudar no que quiser. Tem alguma pista?
— Obrigada. — Seu rosto se ilumina. — Bom, tenho o endereço de onde moram. Só preciso me preparar mais um pouco.
— E tá certa. No seu momento. — Termino a minha refeição — O que você tinha? A doença...
— Ah... — Ela pensa por um tempo — Não me lembro, já faz tanto tempo.
Continuamos comendo, desta vez, em silêncio absoluto.
O toque de Nando Reis toca no restaurante enquanto esperamos o garçom trazer a conta.
— "Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado, e eu entendoPor onde andei?
Enquanto você me procurava
E o que eu te dei? Foi muito pouco quase nadaE o que eu deixei?
Algumas roupas penduradas
Será que eu sei?Que você é mesmoTudo aquilo que me faltava"
Canto assim que a música começa, junto com o cantor.
Made abre um sorriso lindo, mostrando os seus perfeitos dentes. O seu rosto não tem maquiagem alguma. Gosto de como o seu olhar pareceu me admirar, então continuo a cantar.
—"Amor eu sinto a sua falta
E a falta
é a morte da esperança
Como um dia
Que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrançaQue a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama"— Que lindo.
— Nando Reis, o cara é uma fera. — Respondo — Precisa conhecer mais da música popular Brasileira. Eu sei que na maioria das vezes, só escutamos assim; de fundo em algum lugar que não notamos.
— Não me importo de ter você cantando para eu dormir. — Fico sem reação, que bom ouvir isso. — Você realmente ama música, né?
— Sem duvida alguma. — Respondo olhando ao redor para ver se o garçom volta — A música literalmente me salvou. É o que sou hoje, foi o que me trouxe até aqui.
— Até o restaurante? — Ela brinca depois de um tempo concordando.
— De certa forma...
Talvez eu não teria um real no bolso, não estaria aqui.
O garçom traz a conta, vamos embora e eu a levo até a portaria do prédio de sua amiga.
— Obrigada. — Agradece meiga, abrindo a porta.
— De nada, na verdade eu que agradeço. — Sorrio fazendo o mesmo.
Ouço Legião Urbana tocar baixo em alguma casa ali perto assim que dou a volta no carro, indo em sua direção.
Madelyin usa um vestido claro florido.
— Vão que horas?
João, o amigo delas, vai dar uma festa na casa de praia em Bertioga. Ele me chamou, mas tenho shows hoje e amanhã, sem descanso.
— Helena disse que a noite, não sei que horas. — Espreguiçou-se com um sorriso de canto, sem graça.
Me aproximei e a puxei para um abraço. Seus braços me prenderam, abaixei a cabeça e sentir o cheiro do seu condicionador.
Coloquei as duas mão sobre o seu rosto, a puxando para um beijo. Ela levantou os pés e retribuiu com os braços no meu ombro.
Encostei o seu corpo no carro atrás, passei a mão na sua cintura, descendo carinhosamente. Made grudou o corpo ao meu, me fazendo ficar mais duro.
Massageei com a outra mão a sua nuca, e levei a boca até o seu ouvido.
— Melhor ir agora.
— Não... — Seus lábio desceram até o meu pescoço, deixando vários beijos. — Helena chega só mais tarde. Sobe comigo...
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HIPNOSE
RomansaMadelyn se apaixona mais pela cidade quando encontra motivos para permanecer. +14 | +16 28 capítulos - concluído. //2022