Capítulo 15

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Olho uma, duas, três vezes a hora no meu celular. As minhas pernas se balançam em ansiedade, o gloss nos meus lábios já saiu de tanto que eu os mordo. 

No banco do condomínio fechado, eu vejo várias pessoas passando. Gente com cachorros de pedigree, adolescentes entrando e saindo rindo de alguma besteira, um casal com sacolas de mercado onde mostra claramente algumas cervejas dentro e até uma garota gravando story enquanto passa, mas nada do Hariel. 

Os minutos passam e o tempo muda. O clima quente e fresco, se torna em um tempo frio. A minha ideia de entrar e trocar de roupa some quando vejo Hariel do lado de fora do condomínio, apoiado no seu carro luxuoso preto enquanto me observa. 

Falho assim que tento esconder o meu sorriso. As minhas mãos soam assim que eu levanto e vou ao seu encontro. 

Ele tem as duas mão dentro do bolso da calça, usa uma camisa preta lisa e o boné preto para frente. Ele não esconde o sorriso quando me vê mais de perto.

— Pensei que não iria vir.

— Nunca. — ele se aproxima — Está linda. 

O meu cabelo está em um coque frouxo, o meu vestido é de alça e aperta bem a minha cintura. Joguei um lenço de tecido fino por cima da clavícula, evitando mostrar muito o decote do vestido escuro na minha pele pálida. 

Ele arruma a postura, ficando alguns centímetros maior que eu. Sinto o seu hábito de menta e o seu perfume madeira. 

Suas mãos vão até o lenço e o tira com cuidado, pedindo permissão. Meu coração acelera, como se fosse a primeira vez que ele me toca, olho para cima encarando o seu rosto sereno... ah que sensação boa de paz

— Preparada? — sua voz sai rouca. 

— Para que? 

Ele não responde. Abre a porta do passageiro e, com um sorriso bobo, estende a mão para que eu possa entrar. 

Ele entra no banco do motorista e liga o aquecedor, deixando o clima gostoso. 

— Para você. — ele estende uma caixinha de porta joias. 

— Para mim? — minhas mão recuam um pouco antes de pegar. 

Abro sem jeito, tentando adivinhar o que é. Meus olhos se iluminam quando vejo um pingente de ouro com um ponto de luz azul delicado. 

— Você combina com azul. 

Eu fico sem palavras, mas sei que ele sabe que eu amei só pelo seu olhar orgulhoso e satisfeito. 

— Obrigada. — pego delicadamente o presente. 

Ele coloca o pingente no meu pescoço, dando um beijo delicado em seguida no mesmo lugar. 

— Eu amei. Como adivinhou? — a minha felicidade com certeza está estampada no meu sorriso. 

— Não adivinhei. Quando eu vi, já sabia que era seu. 

Uma das minhas mãos vai até o seu rosto e o segura, levando os meus lábios em seguida. Dou um selinho demorado, sentindo um sorriso surgir. 

— Espero que nenhum playboy americano esteja te esperando — seus olhos analisam todo o meu rosto, me permitindo fazer o mesmo com ele. — , porque já perdeu. 

Sinto as minhas sobrancelhas se juntarem, de inicio eu não entendo. 

Ele liga o carro e sai de onde estávamos. Os seus olhos estão normais, na maioria das vezes que nos encontramos, eles estão vermelhos e cansados. 


— Que lugar é esse? — os meus olhos se perdem dos grandes prédios e avenidas de São Paulo quando ele entra em uma rua longa de paralelepipedos. 

Avisto um portão grande na rua um pouco estreita. Ele passa por ele e segue um caminho onde de um lado tem uma parede de arbusto e do outro da para ver as luzes e a cidade de São Paulo, uma perfeição de vista. 

— A minha casa. 

A minha cabeça se vira automaticamente para confirmar se ele está brincando, mas assim que me viro, os meus olhos encontram a mansão de vidros. 

— Vamos. — ele estaciona em frente a entrada, saindo do carro em seguida.  Abro a porta e saio junto. Meus olhos ainda viajam pelo lugar. — É linda, né. Comprei faz pouco tempo, você é a primeira pessoa que eu trago, nem a minha família sabe ainda. Não se sinta importante, viu. 

— Ok, me sentir importante. Tá anotado. 

Ele ri, destravando a porta da entrada com a senha digital. 

— Que chique. — observo. 

— Como se a sua casa não fosse assim. 

A minha gargalhada sai alta, me fazendo fechar a boca com a mão. 

— Por favor, né. Eu sou da Flórida mas o meu custo de vida não é como o de uma famoso de milhões aqui. 

Ele não responde, só abre a porta e entra. A sala tá escura, mas tem luzes acessas nos fundos. 

Ele sobe a escada grande que tem no centro da casa e pega a minha mão. Ele me mostra as partes maiores, explicando como quer deixar o lugar futuramente. A casa tem as paredes externas de vidro, mas o lugar é bem rústico. 

Ele me mostra a sacada enorme, onde mostra a vista toda de São Paulo. No canto, uma mesa pequena onde ele ascende quatro pavios de velas. 

O meu sorriso, mais uma vez, se ascende junto as velas. 

— Pedi para um dos porteiros improvisar. — ele termina de ascender e vem em minha direção. 

— Numa mansão vazia, temos uma mesa com velas — observo a mesa. — , duas taças, um vinho, nozes, castanhas... frutas e queijos? 

— É que umas stripes ficaram de vir junto com uns amigos mas nem rolou. — ele brinca se sentando. 

— Pensei que stripes gostassem de Champanhe e músicas. 

— São diferenciadas. Estão ficando mais avançadas com o tempo. 

— Idiota. — rimos. 

Durante toda a noite, Hariel foi atencioso, ouvinte e brincalhão.

— Você queria mesmo ser advogado? — pergunto apoiada no muro de vidro da sacada, olhando a cidade com uma taça de vinha na mão.

— Sim, carai. No meu ensino médio todo eu sonhava em ser famoso, mas um famoso formado, sabe? Se fosse para dar entrevistas e falar bem, eu queria saber trocar ideia certas com argumentos válidos. Não ser só mais um zé ruela. 

— E por que não se formou? 

— Porque me toquei que ninguém é um zé ruela. E hoje, a constituição é sem lei, sabe? Falam que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, que todos tem direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade e esses bagulhos todos, mas essa não é a nossa realidade. É muita hipocrisia pra muito estudo, entende? 

— E quando você percebeu isso?

— Desde quando um amigo meu morreu com três tiros por confundirem ele com traficante. — ele me olha, decifrando a minha reação em meio a ventania. — Ele estudava comigo, nós tinha dezoito anos. Foi quando o meu sonho morreu, fizemos protestos e eu vi a família dele sofrer, mas os policiais estão até hoje jurando a farda que usam. E é isso que é foda. 

Ele conseguiu. Na sacada da mansão dele, ele fala bem e tem argumentos válidos, mas não é formado, é famoso. Fazendo o que ama e não o que abomina. Ele conseguiu. 

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