Capítulo 23

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Visitar o túmulo da minha mãe foi um mistério total.
Eu não a conheci, não sei sobre as suas características, os seus pontos fortes e fracos. Mas estar ali, ao lado do seu túmulo, me trouxe paz.

Eu não converso com ela, não imagino o que ela iria responder sobre as coisas que fiz ou faço, então nas três vezes em que vim, só fechei os olhos e senti o vento, como um sinal de paz.

...

Assim que saio da faculdade, avisto Hariel encostado no seu carro.

— Boa noite, moça — ele se arruma ao lado do carro, me envolvendo nos braços em seguida. — Como foi lá?

— Me matriculei — sorrio feliz. — Começo no próximo semestre, daqui duas semanas.

— Sério? — Ele sorri mostrando os dentes. — Então a minha namorada vai ser médica?

É impossível evitar o sorriso crescer quando ouço.

— Sim, a sua namorada será doutora daqui a poucos anos.

Ele não responde, em vez disso, com um sorriso ainda no rosto, Hariel me beija com carinho. As suas mãos estão pousadas no meu pescoço, me puxando cada vez mais para si.

Permito que a sua língua entre na minha boca com delicadeza, em seguida faço o mesmo.

É um beijo calmo e sincero.

— Vamos, antes que eu tire a sua roupa aqui mesmo.

Fingo surpresa com as suas palavras, mas entro no carro imaginando como seria tê-lo agora mesmo.

No caminho, finalmente ligo para o meu pai e conto que fiz a minha matrícula na faculdade. Ele fica feliz, claro, mas me pergunta várias vezes se estou bem.

Evito tocar no assunto da minha mãe biológica por agora e concordo em visitá-los no próximo final de semana, antes que as aulas comecem.

— A sua mãe ficará tão feliz quando saber que você concordou em vir. — Ele se esforça ao máximo para falar em português.

— Sim, eu sei — concordo. — Preciso conversar com vocês, algumas coisas sobre o Brasil.

— Claro! É o que eu mais quero saber — ele diz entusiasmado, mas logo é interrompido por alguém. — Querida, preciso desligar.

— Ok... — Penso por um tempo. — Te amo, pai.

— Te amo, minha vida.

Sorrio com a última palavra, me lembrando da história.

— O que foi? — Hariel tira os olhos da estrada.

Encerro a ligação e o olho.

— Ele costuma de chamar de vida quando diz que me ama.

— Que foda — ele procura a minha mão com a sua mão que está livre do volante. — Ele parece ser muito legal.

— E é — concordo pegando em sua mão. — Quando eu era criança, ele contava uma história de um rei. Esse rei tinha uma filha, a princesa. Ela não era a filha de sangue dele, mas ele a amava mais que tudo. Então, em uma noite de guerra entre os soldados do rei, um dos adversários fez a princesa de refém — sorrio só de lembrar a imaginação que o meu pai teve para inventar a história. — Então o rei desistiu de tudo, do reino, dos suditos e até da própria vida em troca da segurança da princesa.

Olho para Hariel, imaginando que ele zombaria, mas não, ele me olha esperando por mais.

— E? — ele pergunta, ainda esperando. — O rei morre?

— Sim. É o amor dele pela princesa que a salva.

— Ele desistiu de tudo — Hariel me olha inconformado, depois muda de expressão. — Agradeça pelo pai que teve, Made. Você não sabe direito o porquê, mas de um jeito ou de outro, ele realmente te salvou.

Ele aperta a minha mão, a levanto na boca e a beijando.

Olho para a estrada a nossa frente, pensando no tanto que fui ingrata com os meus pais. Ambos sempre quiseram o meu bem, em todos os momentos e situações.

Ele realmente te salvou.

HIPNOSEOnde histórias criam vida. Descubra agora