Capítulo 22

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Duas semanas.
Duas semanas se passaram desde quando conheci Renata.

Nos primeiros dias eu senti um vazio enorme no peito. Agora, uma mistura de tristeza toma conta do meu corpo, como se eu pudesse voltar atrás e dizer um "Oi." a minha mãe.

Os meus pais me ligaram, eu não atendi. Eu não conseguia atender o telefone e fingir normalidade. Tudo o que eu queria era xingar e liberar toda a minha dor sobre eles, mas eu me arrependeria, então apenas os ignoro.

Eu sabia que a minha mãe estava morta, mas o que excluíram de mim foi que ela lutava contra uma doença, excluíram que eu tinha que estar aqui quando ela pediu....

— Será que ela está na fase de negação? — Ouço do meu quarto Kiara na sala.

— Ela consegue te ouvir — Helena avisa.

— Acho que para entrar em negação no luto, você precisa conhecer a pessoa, né? — João pergunta para as duas.

— Fica quieto, não fica lembrando disso. — Kiara repreende o amigo em um sussurro.

Eu estava sem sair da cama fazia dias. Não só evitei os meus pais como também os meus amigos e Hariel.
Eu sabia que estava um caos.

Eu não tenho mais uma mãe, perdi qualquer oportunidade de conhecê-la. Embora isso me corroa, eu prefiro me lembrar de que ainda tenho um pai, vivo.

As vezes paro para pensar se um dia já fui carente de bons pais, mas não.
A necessidade é das comparações, das histórias e dos traços que eu não tive com os meus pais adotivos.

Uma pessoa sem família, é uma pessoa sem história.

Na terceira semana tudo mudou.
Eu acordei determinada a visitar o túmulo da minha mãe e a pedir o número do meu pai para a minha prima.

E então foi aí que tudo mudou.

Eu já tinha conversado inúmeras vezes com a minha prima, também saímos várias vezes para nos conhecer.

Com a sua confiança, eu descobri muitas coisas sobre a minha família, principalmente sobre os meus pais.
A minha mãe era professora, trabalhava em duas escolas. Já o meu pai sempre trabalhou em restaurantes, embora nunca tenha feito nada para se especializar em culinária.

Mas a decepção veio logo em seguida.

— Made, não. Não me força a fazer isso — Renata me olhou triste. — Não vejo uma forma mais direta de dizer isso, mas ele não quer contato com você.

— Me escuta — comecei. — Eu só preciso do número dele. Por favor.

— Made eu não quero te ver triste. E olha que eu sei que se eu fizer isso, você ficará.

— Prometo não ficar.

— Sinto muito, não posso ultrapassar a vontade de alguém. Principalmente sabendo que vai machucar ambos. — Ela me respondeu, forçando um sorriso. — Ele já deixou claro isso, não força a barra.

Eu simplesmente não podia aceitar. O meu pai não queria me conhecer. O meu pai, o meu sangue.

Renata me explicou que eu traria muita dor a ele se ele voltasse ao passado.

E tudo bem, eu o entendo. Mas a minha vontade de conhecê-lo era tão grande.

Eu concordei e troquei de assunto, tentando fazer a minha mente esquecer essa história. Ter alguém do meu sangue ao meu lado, alguém que realmente me queria por perto, já era o suficiente.

Naquele mesmo dia, com o coração doendo, eu liguei para Hariel.

"
— Oi.

— Oi. — A sua voz rouca deixava nítido o sono.

— Te acordei?

— Não, eu já estava acordado. Tá tudo bem?

— Sim — minto. — E com você?

— Eu estou bem. — Ele diz firme, mas logo falha — Já se passaram três semanas, Madelyin. Se eu não perguntasse para a sua amiga sobre você, você simplesmente me deixaria para lá...

— Eu não te deixaria para lá, Hariel. Eu descobri sobre a minha mãe e...

— Não, não foi isso. Você sabe do que eu estou falando.

O "Eu te amo", claro.

Eu não disse mais nada, mas sabia que ele podia ouvir a minha respiração pesada.

— Tá tudo bem, Made. Eu entendo o que você está passando, sei que esta confusa sobre a sua família, mas eu não sou um nada para você me deixar de escanteio. Bom, eu espero não ser.

Ele conseguiu ser tão dramático.

— Não é.

— Então o que eu sou? — a sua voz rouca era de pura confusão.

O que Hariel era para mim?
Eu não sei. Ele é a pessoa que me traz segurança e conforto quando está por perto, mas um ponto de interrogação quando está longe. Só longe dele eu consigo pensar sobre nós.

Isso teria continuidade?
Isso daria certo?
Eu iria continuar no Brasil?
Hariel realmente me amava?

Mas sobre amar ele eu não tinha dúvida alguma. Foi naquele dia que eu tive a certeza do que sentia por ele. O meu coração é dele, mas vale apena?

É tão clichê e tão sério que eu preferia deixar tudo como estava, para não dar errado. Mexer nas coisas só piora.

Depois de um tempo pensando sobre, eu finalmente respondi. 

— Eu não sei.

E então ele respirou fundo, como se estivesse sem paciência. Eu sabia que ele tinha acabado de fazer um show, ele devia estar cansado.

— Você está cansado... amanhã conversamos.

— Não. — Ele disse sério. — Sem essa Madelyin. Eu estou sempre aqui, cara. Eu acho que no mínimo eu merecia uma resposta melhor. Eu sempre aprendi que as coisas são "ou sim, sim. Ou não, não".

— Hariel...

— Que isso tio, isso cansa. — Ele me interrompe. — Eu também tenho uma vida, eu também tenho questões, mas eu não coloco tudo na frente. Eu não meço palavras, eu já falo logo. E é isso mano, eu te amo. Te amo mesmo. Quero tudo com você, das pequenas até as grandes coisas. Eu quero você do meu lado Madelyin, mas eu não preciso de você.

Eu sorri. Sorri mesmo sabendo que ele não podia ver. Sorri só pelo fato dele ter dito aquelas palavras.

— Eu sei — senti algumas lágrimas na minha bochecha. — Eu não sabia que pensava assim.

— Penso.

— Eu também.

— Eu também o que? — ele pergunta sem entender.

— Eu também te amo.

"

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