|duas bobas|

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•pov gina•

Observei Rosa dormir. Ela ameaçava cortar a garganta da avó. Era assustador, mas quem sou eu pra julgar? Minha vó nem chorou ao saber que eu havia morrido, família é algo complicado.

Senti um arrepio na espinha. Meu cérebro não parava de me levar para o dia anterior. Rosa no meu apartamento, ela segurou o meu celular da hello kitty. O celular de Giselle. Usei-o durante dois meses pra sustentar uma identidade falsa. Quase a revelei ontem, se Rosa não tivesse me interrompido, talvez eu contaria. Se a coragem surgisse. Como ela reagiria? Ei Rosa, eu te mandei mensagens fingindo ser outra pessoa, até flertamos. Cê tá de boa? Jura! Nossa, eu sabia.

Às vezes eu me odeio. Se Rosa tivesse me notado antes. Antes de Pimento, antes de Giselle. Talvez, estaríamos juntas. Talvez, hoje estaríamos comemorando nosso 5 ano de namoro. Fechei os olhos quando Rosa se moveu. Por sorte, acordei antes e me maquiei, passei base e corretivo, para disfarçar as olheiras e as diferentes tonalidades da minha pele. Abri os olhos e me deparei com Rosa me olhando.

- Bom dia. - ela falou manhosa.

Me derreti. Podia acordar todos os dias ao seu lado.

- Bom dia.

Coloquei uma mecha atrás da sua orelha. Ela piscou, surpresa com o meu ato, mas não reclamou. Juntei a coragem para contar sobre Giselle e pedir um milhão de desculpas.

- Rosa...

Seus olhos encontraram os meus e eu desmoronei. Depositei um selinho em seus lábios, fazendo-a sorrir sem mostrar os dentes. Se eu contar, vou perder isso.

- O quê? - perguntou, os olhos refletindo a luz solar.

- Você é linda.

Ela sorriu.

Me sinto uma covarde.

- Quer comer?

Normalmente eu faria alguma piada de duplo sentido, mas por estar muito nervosa, apenas assenti. Rosa levantou-se. Fiquei a observando, seu corpo parecia ter sido esculpido pelas deusas. Ela cruzou os braços e me olhou.

- Você não vai me ajudar?

Deixei uma risada escapar.

- Cadê o grande gesto?

- Já te trouxe pra cá. - gesticulou. - Agora, você ajuda a cozinhar ou fica com fome.

Levei a mão ao peito, fingindo indignação. Ela riu. Eu a segui até a cozinha. Fizemos ovos mexidos e bacon.

•pov rosa•

Gina grunhiu frustada. Eu olhei embaixo dos móveis e por azar, não encontrei nada.

- Achei que fosse grudada com seu celular, como conseguiu perdê-lo?

- Eu estava distraída.

Minhas bochechas ameaçaram corar, eu neguei. Sempre que possível, impeço minhas a demonstração das minhas emoções, a maior parte do tempo funciona, mas em outra...

- Vou ligar de novo.

Ela assentiu, o rosto cheio de lágrimas. Nunca vi uma pessoa tão desesperada com um celular. Comecei a ligar, tocou uma, duas, três e caixa postal. Gina roía as unhas nervosa, perder seu telefone era como perder parte de si, ela quem disse, não eu. No meu exterior, eu estava calma, afinal não tinha nenhum motivo aparente para surtar. Mas por dentro, eu corroía.

Só faltava o maldito celular para irmos embora. Se ela se irritasse e deixasse-o, um dia ele seria achado e eu sofreria as consequências. Se o dono da cabana o encontrasse e visse o papel de parede da tela de bloqueio, eu estaria morta. Pimento nunca me perdoaria, ele me perseguiria até os meus últimos dias. Trazer Gina para a nossa cabana?

- Acho melhor irmos. - as palavras me atingiram como uma bala de canhão, mas minha expressão permaneceu intacta. - Eu tenho seguro, só preciso falar que fui roubada.

- Isso é fraude.

Ela fez uma careta.

- Às vezes esqueço que você é policial.

Eu sorri sem dentes.

- Vou ao banheiro. - falei. - Te encontro lá fora.

Ela assentiu. Entrei no quarto e revirei-o de cabeça para baixo, não encontrei nada. Não obtive sorte na coxinha e na sala. Por fim, realmente fui ao banheiro, ao lavar as mãos me deparei com o aparelho na pia. Soltei uma risada aliviada. Não ouvirei nada de Pimento.

- No banheiro. - entreguei à Gina.

Ela riu de si.

- Obrigada.

Ficamos em silêncio. Meus braços atrás do meu corpo, inquietos, queriam tocá-la.

- Então... - comecei.

- Você...

Nós duas paramos de falar ao mesmo tempo.

- Pode falar. - falamos juntas.

Rimos. Parecíamos duas bobas.

- Pode falar. - Gina repetiu.

- Nós estamos ficando? Ou foi só por uma noite?

Um sorriso brotou em seu rosto, parecia se divertir com o meu sofrimento.

- Fico feliz em não ter sido eu quem perguntou.

Eu revirei os olhos.

- Eu sei o que eu quero e você? O que quer, Diaz?

Você.

- Ir com calma. - me arrependi assim que disse. - Ainda preciso terminar com Pimento, mas assim que eu terminar, sou toda sua.

Ela sorriu e eu me derreti por inteiro.




Autora: oi gente, como vocês estão? Gostando da fic?

Muito obrigada pelas 600 leituras, me deixa muito feliz <3

Message In a Bottle - Dianetti |Concluída|Onde histórias criam vida. Descubra agora