A sala que Ally Fell usava para atender seus pacientes era pequena, mas aconchegante: graças a grande janela, era bem iluminada, uma estante de livros e as quadros de plantas e flores decoravam as paredes. Uma mesa a separava do paciente e ambos sentavam em uma poltrona. Sua paixão por botânica também interferia no aroma do ambiente, pois quase sempre havia um vaso de rosas por ali. Rapunzel gostava de se atentar aos detalhes da sala quando não sabia o que dizer, ou como dizê-lo. Agora, ela não sabia como concluir seu relato sobre o que acontecera algumas horas atrás. Seu batimento cardíaco ainda estava acelerado, ela mordiscava o interior da boca e seus pensamentos eram como flechas atravessando um céu de confusão e medo, sem destino certo, arriscando atracar em qualquer lugar.
"Eu não deveria ter saído de casa hoje", disse. "Eu odeio ir ao supermercado. Não sei porque eu fui." Ela bateu na testa. "Porque eu sou uma estúpida!"
Mais cedo, Rapunzel foi ao supermercado e, na saída, deparou-se com Stefan Salvatore. Ele não estava bem, cambaleava e parecia perdido, e isso bastou para que ela largasse as compras e atravessasse a rua a fim de ajudá-lo. Ela perguntou o que ele estava sentindo, e ele lhe disse que sua cabeça parecia prestes a explodir. Ela disse que ia chamar uma ambulância, ao que Stefan respondeu incisivamente - não, chame a Elena.
Rapunzel não tinha o número de Elena, mas tinha o de Jenna, e mobilizou-se para chamar as duas. Era cedo, e a rua estava praticamente vazia. Ela foi até um café perto deles e pegou uma cadeira para Stefan se sentar. Ela não sabia se deveria conversar com ele, consolá-lo - e se sim, como fazer isso. Mas foi antes que Jenna e Elena chegassem de carro para leva-lo dali que ela viu, viu sob a boa luz daquela manhã de agosto, os olhos avermelhados de Stefan e as veias escuras que palpitavam abaixo dele. Ela deu um pulo, porém não se permitiu ir embora, deixar Stefan sozinho. Ela fez um comentário aleatório sobre o clima e perguntou-lhe como estava sendo voltar às aulas. O Salvatore respondeu objetivamente. "Você precisa se acalmar", ela disse, quando ele fez menção de levantar. "Respire, respire, elas já estão chegando!" Stefan respirou, mas não pareceu se acalmar, e o terror interno de Rapunzel só cessou quando Jenna e Elena apareceram.
"O problema foi ir ao supermercado?", Ally perguntou, calmamente.
"O problema é a minha cabeça. A segunda vez que tenho essa alucinação, Ally! Eu estou piorando?"
"Você está sofrendo porque sua irmã faleceu. Isso é normal, Rapunzel."
"Ver pessoas com olhos malignos e presas não é normal!"
"Se você tivesse alucinado aranhas, cobras ou latidos, isso teria te assustado tanto assim?"
"Claro que não."
"Por que?"
"Porque é o que eu vejo sempre, oras. É que... novas alucinações..."
"Exigem novos esforços."
Ela assentiu. "Eu não quero mais me esforçar. Quero desistir."
"Do que?"
"Da vida."
"Da vida, ou da sua vida como ela é agora?"
Rapunzel encolheu os ombros. "Não tenho como mudar."
"Você estava mudando sua vida quando voltou à Mystic Falls. Queria um recomeço. Queria que fosse melhor, e estava se esforçando para tal."
"Às vezes eu fico cansada. Minha mente me cansa, as pessoas me cansam. Não tem como descansar."
"Mas você pode aprender a lidar com isso. Com as alucinações da sua esquizofrenia e com as decepções da vida. Você pode melhorar, sabe disso. Já esteve melhor do que está agora e pode ficar ainda melhor. Você merece ser feliz, Rapunzel. E precisa parar de evitar as coisas que você sabe que te fazem feliz."
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Rapunzel • N. Mikaelson
FanfictionA vida de Rapunzel Donovan sempre esteve de cabeça para baixo: diagnosticada com esquizofrenia na adolescência, ela ressente o fato de não ter podido assumir a responsabilidade pelos irmãos e se culpa pela negligência da mãe. Mas ela tinha sua própr...