♡ cap.12 - um lugar seguro

460 57 1
                                    

A casa dos Mikaelson era muito distante da dos Donovan, embora tudo em Mystic Falls fosse relativamente perto. A extensão da floresta pela qual Rapunzel um dia pegara um atalho encostava na propriedade dos Mikaelson. Klaus dissera que eles tinham um jardim tão grande que não se via o fim dele a olho nu. Ela achou aquilo um exagero. Se fosse rica, um pequeno jardim com suas flores favoritas lhe seria suficiente: girassóis, hortênsias, margaridas.

Daphne, a mulher que foi a sua casa busca-la, disse que estaria "por aí" e que qualquer coisa bastava chamar. Kol e Rebekah, por sua vez, ofereceram uma calorosa boas-vindas e um tour pela casa, o qual Rapunzel negou. Não estava em condições. Então, Daphne a acompanhou ao que primeiro ela pensou ser o quarto de hóspedes, mas logo percebeu que era o de Klaus; a mulher pôs no chão a mochila e a mala, que tinha pegado de suas mãos antes mesmo de saírem da casa, e, com um sorriso gentil, foi-se.

Ela sentiu seus pés flutuando acima do chão. Deslizou pelo cômodo. Primeiro, fechou as cortinas rispidamente.

Queria espionar o quarto dele. Desvenda-lo, revirar os papéis em cima da escrivaninha, contemplar as pinturas, analisar a decoração – clássica, exuberante. No entanto, não conseguia focar em nada. A luminosidade a incomodava e ameaçava transformar-se numa dor de cabeça fulgurante. Os objetos dispostos ao seu redor pareciam ameaçadores – não que tivessem consciência própria ou significados ocultos, porém, a própria presença deles lhe sondava claustrofóbica. Como se a composição de tudo aquilo fosse um amontoado sem sentido, cada vez mais perto, cada vez mais longe, opressor, prestes a esmaga-la em tontura. A confusão dos sentidos, como em um sonho do qual ela não pudesse escapar.

Rapunzel engoliu o choro. Mesmo que estivesse sozinha no quarto, era vergonhoso chorar. Era vergonhoso sentir qualquer coisa.

Ela entrou no banheiro. Olhou-se no espelho. Uma vermelhidão em suas bochechas marcava os tapas que sua mãe lhe dera mais cedo, ainda ardentes.

Kelly foi cruel. Rapunzel estava pronta para ir, quando ela surgiu atrás dela. "Você quer ir embora? Então vá! Você já me fez bastante mal."

"Isso não é sobre você", ela respondeu.

Ela riu com escárnio. "Você é tão egoísta. Eu queria que você nunca tivesse nascido."

Tais palavras não eram inéditas, mas doíam, doíam toda vez. Rapunzel fez menção de abrir a porta – queria sair dali o mais rápido possível, distanciar-se de sua mãe antes que ela a machucasse, e, como o predito, ela o fez. Puxou-a pelo seu cabelo e desferiu um tapa em seu rosto, depois, outro, e outro, apesar das tentativas dela de se defender. Daphne chegou antes que a briga piorasse, mas aquela seria mais uma para uma longa lista.

"Suma da minha frente, desapareça! Dissimulada, sonsa, burra. Você me enche de nojo", foram as últimas palavras que Rapunzel ouviu antes de deixar a casa.

Rapunzel abriu a torneira cuidadosamente, como se manuseasse um objeto perigoso. Enfiou um dedo na linha da água e, ao não sentir nada além do convencional, fez uma concha com as mãos e lavou o rosto.

Sua relação com a água era complicada. O contato com a água podia parecer eletricidade, uma alucinação que comumente acontecia quando ela ia lavar as mãos. Quanto ao banho, tanto quando estava embaixo do chuveiro como dentro da banheira, tinha um medo irracional de afogar-se – o que era mais raro, portanto, quando este temor a perseguia, era sinal de que ela não estava bem.

Ela resolveu tomar um banho. Talvez o conforto da água quente em seu corpo fosse melhorar sua situação. Apenas ligou o chuveiro e deixou a água escorrer. Estava trêmula, mas aquele calor e a pressão eram como um abraço. Era bom.

Rapunzel • N. MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora