♡ cap 21 - a consciência dos peixes

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Rapunzel abriu os olhos lentamente. Suas pálpebras pesavam, e seu corpo inteiro parecia se recusar a se mexer. Ainda deitada, coçou os olhos e se espreguiçou na cama bagunçada. Uma dor de cabeça irritante ameaçava transformar-se em enxaqueca.

Diante dela estava Klaus, em pé, as mãos atrás das costas, o olhar fixo nela. "Oi", ela murmurou.

"Olá, dorminhoca. Você dormiu a manhã inteira?"

"Acordei pra tomar o remédio e usar o banheiro."

Ele sentou perto dela, que remexeu-se, apertando os lençóis que a cobriam. "Sinto muito por ter saído sem avisar, mas seria um pecado acordar você depois de ter-te levado à exaustão."

Ela encolheu os ombros, encarando o teto. "Tudo bem. Mas você mentiu pra mim. Disse que não tinha compromisso hoje."

"Foi uma emergência." Klaus sorriu ao pensar que a cidade estivera em crise, queimando em conspirações e execuções, enquanto sua amada dormia tranquilamente, distante de todos esses problemas. Rapunzel se sentou, recostando-se contra a cabeceira. O original tocou seu pescoço, analisando as marcas que deixara. "Prometo ser mais carinhoso na próxima vez."

Ela deu de ombros. "Não me importo com algumas manchas", disse, para não dizer que gostou daquilo. Elas eram uma reverberação do momento que tiveram, uma continuidade do prazer estampada em seu corpo.

Klaus a notou um tanto distante. "Está dolorida?"

Ela abaixou a cabeça. "Sim", murmurou. "Meu corpo inteiro arde. Estou exausta. Deveria voltar a dormir."

"Não", o original proibiu. "Vamos para a banheira. Vou cuidar bem de você, e então sairemos para almoçar."

Rapunzel suspirou, derrotada. "É, parece bom. Você vai me carregar de novo?"

Klaus riu, incapaz de negar o pedido dela. Pegou-a no colo e a levou até o banheiro. Ligou a torneira, e enquanto a água quente enchia a banheira, Rapunzel aproveitou para testar a água: cuidadosamente pôs uma mão dentro da banheira, e soprou o ar aliviada ao não sentir nenhum choque. Essa era uma alucinação que não aparecia com tanta frequência, mas costumava atormentá-la em seus momentos depressivos.

Rapunzel engoliu em seco ante a visão de Klaus se despindo. Ele era tão seguro de si, enquanto ela cobria os seios com os braços cruzados, nervosa e envergonhada apesar de ciente de que ele já conhecia todo o seu corpo.

Dentro da banheira, não houve o que esconder; ela ficou de costas para ele e Klaus a ensaboou. Suas mãos passaram por todos os lugares.

Apesar do silêncio contribuir para sua serenidade, Rapunzel precisou perguntar: "Para onde você foi?" Sua voz era tão suave, tão ingênua, uma doce canção para os ouvidos de Klaus. "Você parece chateado."

Ele iniciou uma massagem intensa nas costas dela. Se ela ao menos soubesse que alguns membros do Conselho tentaram exterminar os vampiros da cidade; se ela ao menos soubesse dos vampiros. "Bem, você sabe que eu não suporto objeções."

Ela riu. "Tenho pena daqueles que agem contra você."

Ele não tinha. Não demonstrou misericórdia para aqueles que tramaram sua destruição. Agora, no entanto, sua fúria estava domada. A água, o cheiro açucarado do sabonete de mel e o corpo de Rapunzel contra o seu foram suficientes para acalmá-lo.

Quando ela deu-se por satisfeita, Klaus fez questão de enxuga-la e pentear seu cabelo. Ela rapidamente foi até o guarda-roupa, ávida por vestir-se – a mistura de vergonha e desejo mostrava-se desafiadora. "Pensei que você tivesse comprado roupas com a Rebekah", o original comentou.

Rapunzel observou o vestido que acabara de vestir, enquanto Klaus vestia a si mesmo. "Eu não preciso de roupas novas."

Ele puxou uma blusa pendurada num cabide. "Você precisa se livrar desses trapos."

Ela franziu os lábios. "Essa era da Vicki", explicou, tirando-a das mãos dele, que rapidamente pediu desculpas. Rapunzel deu de ombros. "Você não tinha como saber." Ela devolveu a blusa ao guarda-roupa com um suspiro. De fato, a maioria de suas roupas eram velhas, e algumas até rasgadas. "Não tenho dinheiro pra comprar roupas novas", admitiu. "A Pearl já começou a contratar?"

Klaus desviou, a fim de pegar sua jaqueta em cima da cadeira. "Na verdade, sim. Mas você não precisa disso."

Ela cruzou os braços. "Isso seria injusto. Você simplesmente me dar dinheiro. Já é demais eu morar aqui."

Ele quase revirou os olhos. "Vamos discutir isso durante o almoço, sim?"

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Rapunzel não pôde contrariar os argumentos de Klaus. No restaurante, ao notar os números no cardápio, ela pensou consigo mesma que talvez suas finanças não fossem fazer tanta diferença na vida dos Mikaelson.

Ela largou o cardápio sobre a mesa. "Escolhe pra mim", pediu, impaciente. Levantou-se, seu desequilíbrio repentino obrigando-a a se segurar na cadeira, e caminhou alguns passos em direção ao aquário. Deu meia volta apenas para completar: "Uma salada, por favor."

Klaus assentiu e deixou que ela observasse o grande aquário enquanto ele fazia seus pedidos. Rapunzel se perguntou se os peixes tinham consciência que viviam num aquário. Ao comentar isso com seu companheiro, ele disse "evidente que não, peixes não têm consciência de nada", como se fosse a coisa mais simples do mundo. Mas ela se importava com a consciência dos peixes.

Klaus Mikaelson não dava a mínima para isso, e, no entanto, ele compreendia a reflexão de Rapunzel. Sua necessidade de silêncio, como se este, também, fosse um gesto de amor. Ela não comentou sobre a comida, exceto quando pediu para ele escolher sua sobremesa – um doce de limão com chocolate que a agradou bastante. Mas Klaus sabia que ela estava contente: o brilho nos olhos, os sorrisos ao acaso, a postura relaxada.

Depois do almoço, ele a levou para fazer compras, e ela deixou que ele a mimasse com tudo que ela desejasse. Ao final disso tudo, ela estava exausta, e mais ainda: ébria por estar na cama com ele outra vez. Então, ao invés de transmutar pensamentos em abstrações matemáticas, seu corpo explodiria em erupções vulcânicas de prazer. Ela sorriu ao vislumbrar essa imagem.

"Esse sorriso", Klaus imediatamente comentou. "É esse sorriso que eu desejo ver todos os dias."

Ela se recostou na poltrona do carro. A cidade estava fria e tranquila, e ninguém a não ser ela tinha conhecimento de que aquele dia aparentemente tão comum estava sendo um dos melhores de sua vida. "Ah, eu sempre tento ser alegre", disse, dando de ombros. "Alguns dias são mais difíceis do que outros." Ela respirou fundo. "A linha entre o que nos traz dor e o que nos sustenta é mais tênue do que alguns conjecturam."

"Eu não discordo, mas por que está me dizendo isso agora?"

Como se você não soubesse. "O corpo pode ser uma humilhação. Uma prisão feita da própria carne. E o sexo, bem..."

"Pode ser um tipo de automutilação", ele completou, citando o que ela dissera para ele uma vez.

Rapunzel assentiu. "Os homens com quem estive disseram que eu era frígida."

"Eles não mereciam você", ele retrucou. Esboçou um sorriso resignado. "Verdade seja dita, talvez eu também não."

"Não me importo", ela disse, elevando a voz. "Você é a única pessoa que eu realmente quero."

Havia séculos que uma simples constatação tocara tão profundamente a alma de Klaus.


Rapunzel • N. MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora