"Assuma", disse Rebekah. "Você tá doida pra bisbilhotar."
A original ajudara Rapunzel a arrumar suas coisas no guarda-roupa, aproveitando para complementar o que ela tinha esquecido. Terminado o trabalho, ela não cessou de instiga-la a invadir a privacidade de seu namorado. "Tudo bem", ela admitiu, batendo as mãos no quadril. "Eu tenho curiosa. E antes de você chegar eu dei uma olhada nos desenhos" – Rebekah abriu a boca em um O, com uma animação contagiante que levou Rapunzel à risada – "Mas foi só isso, eu não quero parecer... intrometida. Eu já tenho esquisitices suficientes."
O quarto de Klaus ficava mais agradável ao decorrer das horas. Tentando escapar da quantidade imensa de estímulos que sua mente insistia em debater, Rapunzel tirou um longo cochilo, no meio do qual acordou e viu Klaus arrumado para a festa. Ela o elogiou timidamente – "Você está bonito" – e voltou a dormir. Estava cansada, seu corpo parecia mais pesado do que o normal.
Quando, horas depois, ela resolveu sair da cama, deparou-se com uma Rebekah ávida por companhia.
Diferente do que Rapunzel pensou de primeira, em seu instinto de reclusão, a Mikaelson mais nova e ela se deram maravilhosamente bem. Rebekah tinha uma gentileza amarga e uma sinceridade doce, o que lhe conferia uma personalidade autêntica e distinta do que Rapunzel pressupôs antes de conhece-la: uma adolescente mimada, uma espécie de imagem típica dos filmes de ensino médio americanos.
"Você é boa demais para ele, sabe disso, não é?" – a voz de sua nova amiga adentrou seus pensamentos.
Ela balançou a cabeça. "Kol me disse a mesma coisa. Vocês jogam bem mas é tão óbvio o quanto se amam."
Rebekah uniu as sobrancelhas, os olhos semicerrados. "Acha mesmo?"
"Com certeza", afirmou, franzindo os lábios. Rebekah virou as costas para ela e continuou a remexer a escrivaninha do irmão, buscando algo que fosse distraí-la, algo nem tão terrível mas interessante o suficiente para iniciar um novo assunto entre ela e sua convidada. Rebekah queria criar novos laços, estava farta de se sentir sozinha nessa cidade. Rapunzel permaneceu parada no meio do quarto, distante mas ainda ali, ainda firme na realidade. "A relação de vocês é tão... bonita, eu acho. Apesar das brigas vocês permanecem juntos. Nem todos os irmãos são assim", concluiu melancolicamente.
Rebekah parou sua investigação. A original soltou um longo e pesado suspiro e mostrou a Rapunzel um pequeno cavalo de madeira. Ela mirava o objeto como se ele fosse um diamante que acabara de encontrar após horas de procura. "Oh, Deus", murmurou.
"O que foi?", Rapunzel perguntou com sua ávida curiosidade.
Rebekah engoliu em seco. "Nik esculpiu isso pra mim quando éramos crianças." Ela não conseguiu conter um ligeiro e tênue sorriso de canto. "Eu tinha medo de tempestades. Ele fez esse cavalinho pra mim e disse que ele iria me proteger. Besteira. A verdade é que a única coisa que me acalmava era fugir pro quarto dele." Ela abaixou o olhar. "Era com ele que eu me sentia segura. É, acho que você tem razão. Sempre ficamos juntos, afinal."
Rapunzel trocou o peso de um pé para o outro enquanto Rebekah devolveu o cavalo para seu devido lugar. "Vocês eram mais próximos. Quando isso mudou?"
A original suspirou. "Ah, Rapunzel. Klaus nem sempre foi assim." Ela revirou os olhos antes de pronunciar: "Maléfico."
Rapunzel tremeu com a escolha de palavra. Ela se sentou no canto da cama, e Rebekah puxou a cadeira da escrivaninha para si. "Nós somos unidos porque os nossos pais eram uma porcaria."
Ela assentiu. "É, Klaus me contou sobre Mikael e... como era mesmo o nome dele? O pai biológico?"
"Ansel", disse Rebekah.
"Ele não fala muito sobre Ansel."
"Porque foi Mikael quem causou os piores danos. Ele te contou sobre como Ansel morreu?"
Rapunzel tomou um momento para refletir. "Não, não contou."
A original se ajeitou na cadeira. "Foi Mikael quem o matou. Assim que descobriu sobre a traição de sua esposa, ele caçou seu amante e o matou. Nik..." Ela soltou o ar. "Nik também o estava procurando, queria conhece-lo. Mas Mikael tinha chegado primeiro, e foi o Nik quem encontrou o corpo."
Rapunzel sentiu um aperto. Sua memória cavou a imagem de Klaus enquanto ele lhe contava cenas de seu passado e ela desejou que agora mesmo ele aparecesse no pé da porta. Ela o abraçaria, lhe diria que ele era inocente, que não deveria carregar a culpa e a vergonha como se ser filho de uma traição fosse sua responsabilidade.
"Não surpreende que ele seja tão perturbado", Rebekah acrescentou. O olhar de dela pesava sobre si, mas não de forma negativa.
"Eu também presenciei coisas horríveis", ela disse. "Minha mãe... era uma alcoólatra agressiva que me batia e me humilhava sem perdão."
Rebekah apontou para o seu braço. "Ela fez esses?"
Rapunzel engoliu em seco. Instintivamente ela tocou as cicatrizes: em um braço, uma abaixo do pulso, e, no outro, uma que ia até a metade do pulso. Ela exibiu a primeira. "Esse daqui, foi durante um surto psicótico. Eu pensava que tinha sangue demais no meu corpo e que precisava drenar o excesso. E esse... foi quando eu tentei desistir de tudo." Ela exibiu um sorriso triste. "Não deu muito certo."
A original arrependeu-se de imediato de sua pergunta. "Sinto muito."
"Tudo bem, já faz muito tempo. Estou melhor agora."
Ela quis dar um abraço em sua nova amiga, mas Rapunzel saiu da cama e marchou para a janela. Um vento suave balançava as cortinas e esfriava o cômodo. Ela observou Rapunzel recostar-se no caixilho, os braços cruzados. Ponderou se deveria ir embora, deixa-la à vontade, mas ela soltou um gritinho. "O que foi?"
"Ah, Rebekah, nada, nada", disse, afastando-se da janela. Pôs as mãos no rosto."
A original dirigiu-se ela mesma à janela e avistou o lobo.
Vai pro inferno, ela amaldiçoou mentalmente. "Foi só uma alucinação", disse Rapunzel.
Rebekah assentiu. "Você deve estar cansada."
"Estou, sim."
"Bem, eu vou te deixar sozinha. Preciso revisar a matéria do dia, afinal, eu faltei a aula só pra te conhecer. E valeu a pena!"
Rapunzel riu timidamente. "Obrigada. Foi bom conhecer você também."
Com um sorriso simpático para ocultar sua preocupação, Rebekah saiu do quarto e foi direto para o jardim. Iria despedaçar aquele desgraçado membro por membro. Como ele ousou invadir a sua casa e ameaçar sua nova amiga?
E você deveria agradecer – ela pensou,adentrando o jardim – que sou eu quem voute matar, porque o Nik faria sua morte durar dias.
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Rapunzel • N. Mikaelson
FanfictionA vida de Rapunzel Donovan sempre esteve de cabeça para baixo: diagnosticada com esquizofrenia na adolescência, ela ressente o fato de não ter podido assumir a responsabilidade pelos irmãos e se culpa pela negligência da mãe. Mas ela tinha sua própr...