Assim que os Mikaelson se estabeleceram em Mystic Falls, ficou evidente para todos que ninguém ali sabia dar festas melhor do que eles.
Rapunzel não ousaria contestar tal certeza, mas também não fazia questão de descer de seu quarto confortável para a agitação latejante do salão. Klaus, no entanto, estava entusiasmado, pois teria a oportunidade de conversar tanto com vampiros quanto com humanos sobre as vantagens de unirem-se a sua família. Ao saber que ele e Elijah prometeram doar o dobro do valor do total das doações para a reconstrução da Ponte Wickery, Rapunzel comentou, ironicamente: "Eu deveria ter gastado mais com o cartão que você me emprestou."
"Ainda podemos ir comprar um vestido para você, nem que signifique chegarmos um pouco atrasados", Klaus respondeu, retirando sua camisa do guarda-roupa.
"Não estou nenhum pouco afim", ela contradisse. "Pessoas, pessoas, barulho." Ela soprou o ar, considerando se iria mesmo pronunciar o que acabara de passar pela sua cabeça. "Mas é gentil da sua parte oferecer, já que o vestido que comprou pra mim não cabe mais." Ela bateu os braços, na tentativa de dar um ar espontâneo à sua frase, como se esta fosse comicamente autodepreciativa, porém, assim que ele se virou para ela – e ela já poderia prever suas palavras gentis que, embora bonitas, não a acalentavam o suficiente –, ela abaixou o olhar. Brincando com os dedos, encarando-os como se eles fossem muito mais interessantes do que tudo que a rodeava, ela se arrependeu do que disse.
"Basta de ser cruel consigo mesma, Rapunzel", o original afirmou. Ela assentiu, como uma criança obediente recebendo uma lição. Na tentativa de dispersar o assunto, ela afastou uma mão da outra e obrigou-se a abotoar a camisa dele.
Sem pressa para concluir o trabalho e ainda cabisbaixa, ela pôde observá-lo bem, apreciando cada centímetro de pele botão após botão. Depois, apressou-se em pegar seu paletó e o ajudou a vesti-lo. Mas o tecido espesso e macio era uma barreira, uma muralha que a separava do que ela queria. Uma distância impiedosa se instalou, invadindo aquela intimidade; ou, Rapunzel considerou, talvez ele não faça ideia. Klaus alcançou sua gravata e a ajustou com maestria em frente ao espelho. Ele não podia vê-la, ele não a viu chupar o interior das bochechas, de modo a fazer um biquinho com a boca, nem trocar o peso de um pé para o outro, e então balançar em passos leves, tudo na tentativa de dissuadir o incêndio que se alastrava dentro de si. Sua mente ocupava-se em formular possibilidades e, em todas elas, Klaus estaria dentro dela.
"Você está lindo", ela elogiou, sentando-se na cama. "Se alguma mulher der em cima de você, diga a ela que sua namorada está no andar de cima, e ela é maluca."
Klaus soltou uma gargalhada, e ela sorriu de volta, orgulhosa. Ele despediu-se dela, arrancando-a das correntezas do lago do desejo.
Sozinha, sem sono e sem alucinações, ela viu-se imbuída em tédio. Sabia lidar com o tédio melhor do que seu companheiro, conseguia apreciar os momentos de ócio, mas, dessa vez, ele não era bem-vindo.
No entanto, no andar de baixo a festa se desenrolava pulsante. As figuras mais importantes da cidade compareceram, entre elas, evidentemente, o prefeito Richard Lockwood, acompanhado pela sua esposa e seu filho. Ele recebeu muita atenção, cortejos com os quais já acostumara-se. Mas seus olhos perscrutavam um rosto familiar em meio a crescente multidão.
Quando Klaus apareceu para cumprimenta-lo, ele resignou-se de que Rapunzel não iria comparecer.
"Você sabe de quem tá puxando o saco?" – Damon Salvatore, adentrando o círculo, perguntou retoricamente.
Carol pegou um champanhe de uma bandeja próxima. "Nós pensamos no bem da cidade, Damon."
O prefeito, entretanto, estava alheio ao falatório. Sentia-se vazio, melancólico. Frustrado. Os Mikaelson mostraram-se dispostos a negociar muitas coisas, mas havia algo que Klaus tinha que ele nunca abriria mão: Rapunzel. Consternava-o pensar como ela era capaz de amar alguém tão cruel, tão profano. E, por ter Klaus na mais baixa consideração, quando ele, seu irmão e mais alguns membros do Conselho foram para o escritório para uma breve conversação, disse que iria ao banheiro e foi à procura de Rapunzel.
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Rapunzel • N. Mikaelson
FanfictionA vida de Rapunzel Donovan sempre esteve de cabeça para baixo: diagnosticada com esquizofrenia na adolescência, ela ressente o fato de não ter podido assumir a responsabilidade pelos irmãos e se culpa pela negligência da mãe. Mas ela tinha sua própr...