♡ cap.17 - redenção

404 48 5
                                    

A semana seguinte foi definida por uma letargia dolorosa. Rapunzel não compreendeu porque foi assolada por tamanha tristeza. Não era isso, afinal, que ela queria? Que sua mãe fosse embora? "Houve momentos", ela tinha dito para Matt no dia anterior, "que ela só precisava ser minha mãe. E mesmo assim, ela me desprezou. Eu preferia ter sido abandonada." Então, após uma longa pausa, ela se corrigiu: "Não, não. Porque assim eu não teria você, nem a Vicki."

Um calafrio atravessou o corpo de Matt ao ouvir o nome da falecida irmã. De fato, Kelly sempre rejeitou Rapunzel – no bilhete que ela deixou de esclarecimento, mencionou o nome dela apenas uma vez: "Eu sabia que você e Rapunzel tinham essa conta..." E, no final, ela se desculpou com ele por ser uma péssima mãe para ele e para Vicki e lhe desejou boa sorte. Como se Rapunzel não existisse.

Pela primeira vez em um bom tempo, ele sentiu empatia pela irmã. No entanto, esse sentimento foi desintegrando-se à medida que as horas passavam. Ao retornar da escola e encontra-la deitada no sofá, apatia ilustrada em seu rosto, ele sequer se importou em perguntar se tudo estava bem. Não estava, ele já sabia, e não queria fazer parte disso, não queria fazer parte da vida dela. Naquela noite, ele desejou que, assim como sua mãe, ela fosse embora.

Matt não sabia lidar com pessoas difíceis. Uma mãe ausente, uma irmã drogada, uma irmã esquizofrênica. Ele as amava, sim... mas não sabia como amá-las.

Rapunzel, por sua vez, nunca achou que houvesse um manual de como amar as pessoas. Ela só tentava ser o melhor possível para elas. Entretanto, havia aquela desolação, o medo, o peso no coração, que atacavam sem aviso e sem misericórdia. Ela estava exausta, como se a própria existência lhe sugasse as forças. Contra a vontade de Klaus, ela deixara a mansão Mikaelson. Seus pertences, espalhados no chão, lhe pareciam estranhos e assustadores, como se fossem animais venenosos. A luz era intolerável. Não suportava sequer linhas de luz invadindo seu quarto pelas frestas da janela. O dia inteiro, cobria-se com o lençol como se o mesmo fosse um sudário, trancando-se no casulo. Fazer parte da vida era impensável. Não tinha vontade de comer, de levantar da cama. Ficava dias inteiros em um estado entre o sono e a semiconsciência. A realidade lhe escapava lentamente, e ela sentia que, se se esticasse só um pouquinho, poderia agarrá-la com as mãos. O coro de vozes ecoava pelas paredes do quarto, pregando-se ao papel de parede. Como sempre, ela não compreendia o que elas diziam, embora, dessa vez, lhe soassem como um canto, constante, regular. O alarme lhe lembrava de tomar os remédios, e como estes estavam próximos da cama, ela os tomava.

À noite, o sibilar das cobras era a trilha sonora de pesadelos e memórias fugazes de momentos cruéis do seu passado.

Klaus, por sua vez, estava preocupado com sua namorada. A semana foi turbulenta e, por mais que a última coisa que ele quisesse fosse deixa-la de lado, precisou resolver problemas em outra cidade. Agora, finalmente pôde ir até sua casa a fim de se certificar se ela estava bem. Não confiaria em mais ninguém para isso.

Foi Matt quem abriu a porta. "O que é?", ele perguntou, desrespeitoso e rude. Eu mataria por menos, Klaus pensou. Ele não respondeu. Ao invés disso, adentrou a casa sem permissão e seguiu para o quarto de Rapunzel. A porta estava aberta e revelava uma Rapunzel caminhando pelo cômodo, mordendo as cutículas, tremendo na escuridão. Ele chamou seu nome, mas ela não pareceu se afetar por isso, como se sequer o ouvisse, então ele se colocou à sua frente. Ao vê-lo, reconhecendo-o pela parca luz do corredor, ela deu um salto para trás. Tentou elaborar uma frase, mas sequer sabia o que dizer, saindo de sua boca apenas palavras aleatórias e sem sentido.

"Qual é o problema, amor?", Klaus perguntou cordialmente. Sua naturalidade ajudou a esvanecer a tensão que tomava conta de Rapunzel.

Ela percebia que estava alucinando, porém, as alucinações não a deixavam em paz. Ouvia vozes distintas, sobrepostas, como se estivesse no centro de uma sala onde todos discutiam, mas ela era incapaz de compreender as sentenças, como se falassem em outra língua. No porão, as cobras continuavam a se mexer, uma sobre a outra, a sibilar aquela cantoria incômoda. Ela poderia sentir seus movimentos como se eles acontecessem na sua frente. Sentia também o chão oscilando, como se a estrutura da casa balançasse, e isso a deixava enjoada e tonta. Tentou explicar isso a Klaus, embora fosse difícil formular as frases; era complicado parar para pensar no que queria dizer quando tantos estímulos a distraiam.

Rapunzel • N. MikaelsonOnde histórias criam vida. Descubra agora