O dia seguinte ao primeiro encontro de Rapunzel e Klaus foi uma caminhada no parque – "Eu não sou tão criativa quanto você", ela dissera, mas o original fez questão de transformar isso em um hábito, e a partir de então eles passaram a passear juntos diariamente. Segundo ele, um tempo na natureza e sol matinal fariam bem para ela.
Havia algo naquele homem que era ao mesmo tempo áspero e suave; ele não era a melhor das pessoas, ela perceberia com o passar das semanas, mas havia uma ternura intolerável nele que Rapunzel ainda estava tentando decifrar, o modo como ele agia diferente quando estava com ela. Ao questioná-lo sobre isso, ele lhe dissera que se importava com pouquíssimas pessoas e ela era uma delas. Mas Rapunzel acreditava na bondade, e ela sentia que estava conhecendo Klaus como ele verdadeiramente era em seu coração.
"Hoje é o último dia do verão", ela disse. Eles sentaram-se no chão, recostando as costas numa enorme árvore que havia ali. Eles sempre faziam o mesmo percurso e sentavam-se ali, na "árvore deles". Em algumas manhãs, Rapunzel preparava uma cesta com comidas deliciosas para levar. Então, uma hora depois, ou talvez mais, levantavam e tomavam o rumo para a casa de Rapunzel, onde às vezes Klaus passava mais algum tempo, e, em outras, a deixava na porta. Aquela era, para o original, a melhor maneira de começar o dia. "E eu ainda estou desempregada."
"Eu já falei com Pearl, e ela prometeu arrumar um lugar pra você na boutique."
"Se John Gilbert vender pra ela. Então acho que temos poucas chances."
"Eu posso ser bastante convincente."
Ela riu. Seu sorriso aos poucos se desfez, e, já planejando o que iria falar, ela brincou com os próprios dedos, como se isso pudesse amenizar a situação, distrair sua ansiedade. "Você estava me contanto sobre seu irmão."
Klaus suspirou. Ela falava sobre Vicki com frequência, e ele até mesmo prometeu ajuda-la em sua investigação, mas até hoje ele não tinha mencionado sua própria perda. Herink era uma memória enterrada que ele decidiu desenterrar a fim de que isso o ajudasse a conectar-se com ela, ganhar sua confiança. E, no meio do caminho, ele precisou se questionar se realmente superou o que acontecera. Rapunzel olhou para ele fixamente por mais tempo do que ela costumava. Ela tinha olhos delicados, um pouco perdidos, sobrecarregados de compaixão. Sua luz, essa proximidade, essa compreensão, isso o incentivava a ser o mais verdadeiro possível em sua história.
"Como eu estava dizendo, nós gostávamos de caminhar por bosques, florestas. Em uma madrugada, cruzamos com lobos..." Ele fez uma pausa. "Eu tentei impedir, tentamos fugir, lutar, mas não adiantou. Ele foi estraçalhado. Eu o carreguei..." Klaus engoliu em seco, tentando não demonstrar sentimentos demais. "ele morreu em meus braços."
"Oh, não." Ela não soube o que dizer. As palavras flutuavam em sua mente, mas ela era incapaz de identificar alguma que fizesse sentido para o momento. Pôs uma mão no ombro dele, um tanto mecanicamente. "Você não poderia prever nada assim."
"Sair naquela noite foi minha ideia."
"Você não poderia prever", ela repetiu.
"Nos primeiros anos, a culpa me corroeu. Destruiu partes de mim hoje irrecuperáveis. Eu levei séculos para entender o que você me disse agora." Camadas e camadas de crueldade serviram bem para apagar sua culpa; agora, visto a dor que causou e continua causando deliberadamente aos seus irmãos, aos outros, Klaus não mais se sentia culpado. Além disso, ele entendia que boa parte dessa culpa fora alimentada por Mikael, e seu ódio por ele contribuiu consideravelmente nessa superação.
Rapunzel acariciou seu cabelo, de primeira cautelosamente, como se estivesse tentando ganhar a confiança de um cão desconhecido. Como Klaus não se mexeu, ela afundou os dedos no emaranhado loiro e os deslizou de uma ponta a outra, desfazendo alguns cachos no meio do caminho. E mais uma vez, só pra testar, só pra ter certeza de que não estava incomodando. Um jeito estranho de demonstrar carinho e solidariedade, mas ele captou sua intenção. Quando ela parou, recolhendo-se novamente a si, reestabelecendo a muralha do seu espaço pessoal, ele teve o ímpeto de pegar sua mão e pedir, por favor, não pare. Mas ele se conteve.
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Rapunzel • N. Mikaelson
Fiksi PenggemarA vida de Rapunzel Donovan sempre esteve de cabeça para baixo: diagnosticada com esquizofrenia na adolescência, ela ressente o fato de não ter podido assumir a responsabilidade pelos irmãos e se culpa pela negligência da mãe. Mas ela tinha sua própr...