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- Grace Cameron -

Uma semana passa e eu não me sinto em casa, eu estou de volta, mas nada voltou a ser como antes. Eu entro pela gigantesca porta de vidro, de cara encontro minha irmã mais nova na cozinha comendo suas panquecas favoritas, mas minha irmã mais nova já não é mais tão nova, já tem 15 anos e eu percebo que perdi os seus 14, não estive com ela em sua festa e não fiz meu papel de irmã mais velha quando ela virou mocinha...eu a preparo suco em compensação mas a culpa que instala em meu peito não é capaz de se dissipar. Eu a beijo na testa e sigo ao meu quarto, subo degrau por degrau da escada de mármore enquanto encaro a decoração da casa, os quadros da família quais eu fazia parte foram embora, junto de todos os vestígios de coisas que eu gostava, apagada. Como um borrão errado no desenho perfeito.

Eu paro na porta do primeiro quarto, instalo um sorriso e penso em conversar com minha irmã do meio mas quando abro a porta o quarto está vazio e eu não a encontro porque ela não está em casa. Está na rua. Com os novos amigos. Aqueles quais não conheço porque não estava aqui quando ela ficou sozinha e precisou de novas companhias, mais uma vez o nó aperta meu estômago, mais uma vez a falha por algo que não tive como contornar, a irmã perfeita é imperfeita e não cumpriu com as obrigações, o irmão gêmeo está no trabalho, sufocado até o pescoço de responsabilidades e obrigações, ele provavelmente não estaria atolado se sua irmã gêmea tivesse o ajudado além do mais os dois tem a mesma idade, são donos das mesmas responsabilidades mas agora a gêmea mais nova é uma doente que foi exilada da família então o irmão se sufoca tomando a obrigações dos dois porque mais uma vez eu não fiz meu papel de forma correta, falhei. Com meus três irmãos, com minha família, e quando chego ao meu quarto e meu primeiro pensamento é cheirar uma carreira de cocaína, eu percebo...eu também falhei comigo mesmo.

Eu não lembro e não me sinto em casa mas em nenhum momento a minha cabeça deixa de ser uma grande bagunça e um lar de torturas.

[...]

— Fala sério, Sarah está mesmo namorando um Kook — eu e rafe estamos sentados no telhado, eu fico aliviada por me lembrar disso

Quando ainda éramos pequenos fazíamos questão de dividir o quarto, mas nossos pais acharam melhor separar além do mais estávamos crescendo e tínhamos nossas diferenças de menino para menina na puberdade, desde então, o telhado do meu quarto é nosso lugar favorito, a janela é gigante mas não tem sacada, apenas pulamos dela e engatinhamos pelas telhas nos deitando encostados nas telhas inclinadas que levam até o terceiro andar, a visão é a mais bela e aqui sobre efeito da cocaína eu sinto que posso alcançar a lua só em esticar a mão. Vivemos no telhado desde crianças e deste fato me lembro inconfundivelmente.

— Você não perde por conhecê-lo — rafe espira a fumaça do beck que estamos dividindo e fico hipnotizada na fumaça densa que paira sobre nós e em segundos se esmaecia na escuridão.

— Eu achei que a Sarah ia namorar o cara mais Kook que ela conhecia...pelo visto eu não conheci mesmo minha irmã — digo quando seguro o beck e puxo o fumo para meus pulmões

— Se isso é uma auto crítica preciso que cale a boca antes que eu te de um soco — rafe diz me fazendo dar uma leve risada nasalada — Não perdeu nada, Caramelo...sinceramente você deu sorte em ter ficado fora daqui nesses anos, Ward teria te transformado em um monstro —

— Mesmo assim...agora vocês são obrigados a conviver com uma doente que não se lembra das coisas que fez...mesma coisa que morar com uma desconhecida — rafe vira rapidamente a cabeça me fuzilando com o olhar

CAMERON'S - (JJ Maybank )Onde histórias criam vida. Descubra agora