Quando a rocha é gentil

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 Beidou realmente não era do tipo que deitava em uma cama como uma doente e via os outros trabalharem. Talvez até devesse descansar, mas ignorou o conselho da Tianquan dos Qixing e no dia seguinte já estava no cais dando ordens para sua tripulação e ajudando a descarregar as coisas do porão do navio. Foi ingênua porém, em pensar que Ningguang a deixaria em paz depois do dia anterior. Não era nem hora do almoço quando sentiu-se observada. Algo lhe encarava com uma fúria gélida. Veja bem, Ningguang não era uma mulher de levantar a voz para nada. E ela tinha um prazer especial de pegar as pessoas no erro. Ela era mestre em enredá-las em seus planos e fazê-las trairem a si mesmas. E lá estava ela, esperando pacientemente lhe lançando um olhar afiado como facas.

A Rainha do Mar virou-se e quando a viu, imediatamente rolou os olhos enquanto esta se aproximava.

- O que eu lhe disse ontem? Você não está em condições de fazer esforço.

-Você não precisa ficar monitorando meus passos. Não tem coisa melhor pra fazer, não? Uma reunião, um almoço de negócios, sei lá.

-Não quando você está querendo se matar. Olhe para você. – ela apontou na direção do ferimento de lança nas costelas da capitã. O tecido estava manchado de sangue.

"Merda" Beidou pensou.

-Anda, você vem comigo para a Câmara de Jade. Você precisa descansar.

-Ningguang, eu estou bem.

-Você deve ter estourado seus pontos. Você vem comigo e ponto final.

Cada vez que ela tentava dar uma de chefona e cuspir ordens para Beidou, ela sentia ainda mais vontade de contrariá-la. Eram duas líderes, leoas brigando pelo topo e Beidou, como boa rebelde fincou os pés no chão e cruzou os braços.

-Todos dessa cidade podem fazer o que você quer como cachorrinhos e lamber suas botas. Mas você não vai ter o que você quer comigo dessa forma. Eu não sou sua empregada.

A de cabelos brancos suspirou, visivelmente irritada.

-Certo, então vamos fazer o seguinte: uma aposta. – a capitã levantou a sobrancelha visível – Se me ganhar no xadrez eu te deixo em paz, mas se eu ganhar tem que fazer o que eu disser.

-Lembre-se que eu já ganhei de você duas vezes.

Ningguang deu de ombros. Ela parecia terrivelmente confiante.

-Então você não tem nada como que se preocupar.

Beidou bufou, mas acabou aceitando. A perspectiva de um jogo sempre a animava e Ningguang provavelmente não arredaria pé dali até que conseguisse o que queria. Aquela mulher tinha a determinação de uma rocha. Como também não queria fazer cena e nem que as pessoas a vissem sangrando no meio do porto, achou que ao menos mal não faria.

...

Dentro do palácio flutuante, Ningguang guiou a marinheira para sua mesa de xadrez em seu escritório. Como tudo ali, a mesa era de excelente qualidade e as peças eram intrincadamente esculpidas em mármore branco e negro. Beidou lembrava desse jogo e das vezes que ganhara da outra. Sorriu de canto de boca com a lembrança. A expressão da Tianquan tinha sido impagável.

Como de costume, Beidou sempre deixava as brancas para Ningguang.

-Milady – ela disse zombeteiramente, indicando que a outra podia iniciar a partida.

A Qixing iniciou seu jogo com um peão, movendo-o duas casas a frente com seus poderes Geo num aceno de mão. Beidou respondeu de forma semelhante. Não demorou muito porém para Beidou estar balançando a perna e com as sobrancelhas franzidas em raciocínio. Ningguang era um monstro do xadrez, e sua expressão calma e impassível de quem não estava preocupada era ainda mais desconcertante. A marinheira moveu sua torre remanescente para a direita e assim que terminou o movimento percebeu o canto da boca da outra se curvar para cima. Era uma armadilha. Movendo a rainha para a reta do rei de Beidou como se fosse óbvio, Ningguang declarou:

Dois Lados da Mesma MoedaOnde histórias criam vida. Descubra agora