Céu e Mar

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Naquela noite, Beidou subiu mais uma vez ao terraço Yujing e, tendo certeza de que não havia ninguém prestando atenção, adentrou a mansão provisória da Tianquan. A porta estava aberta, como se esperasse por ela. Ou talvez Ningguang fosse muito confiante de que ninguém invadiria sua casa – a não ser Beidou. Tudo estava silencioso, as luzes eram baixas e agradáveis lá dentro mas não tinha interesse em admirar os arredores e as decorações. Procurava sua habitante, a mulher mais poderosa de Liyue.

Depois dos eventos da mesma tarde, Beidou estava inquieta e seu coração batia furiosamente. Naquele silêncio, podia jurar que era possível ouví-lo através das paredes. Havia uma luz mais forte vinda do escritório.

"Claro" a marinheira pensou, com uma risada baixa " Ela não consegue largar o trabalho".

Realmente, foi lá que encontrou a mulher dos cabelos brancos e olhos vermelho-brasa. Estava tão compenetrada que nem notou sua presença, de forma que a marinheira aproveitou e recostou-se no portal para observá-la trabalhar. O cenho franzido de concentração, a meticulosidade que movia o pincel e pressionava seu selo nos documentos era curiosamente fascinante. Como tudo nela era.

-Beidou! Quer me matar do coração!? – ela finalmente percebeu a presença da outra com um pulo de susto.

-Definitivamente ainda não. – ela riu e adentrou o espaço – O horário comercial já acabou há algum tempo, você nunca descansa?

-Eu tenho a legislação de uma nação inteira para organizar. Acredito que seja trabalho suficiente para me manter ocupada além do horário comercial – ela disse, uma mão sobre o peito, respirando fundo para se recuperar do susto. – De qualquer forma...acredito que seja um momento oportuno para encerrar o dia.

Ela levantou-se circundando a grande mesa de mogno e com sua pose usual de impassível elegância e altivez, passou pela marinheira como se mal se importasse com sua presença.

-Venha comigo. – ela indicou para que a seguisse, e assim Beidou o fez, mais obediente do que o normal. Quem poderia julgá-la? Ela ainda tinha muitas perguntas sobre o que acontecera e aquela recepção a fez ter pensamentos de insegurança. Não sabia o que esperava, na verdade não esperava nada mas dentro de si ainda vagava o pensamento de que ela não merecia aquela mulher. E se tivesse entendido tudo errado? E se Ningguang tivesse se arrependido?

Beidou engoliu em seco e se obrigou a afastar tais pensamentos enquanto seguia a empresária escada acima, para uma mesa numa varanda. Sobre a mesa estava uma garrafa e duas taças.

"Huh? Ela planejou isto?" a capitã pensou.

-Me acompanharia para um drink? – ela finalmente falou, virando-se para Beidou em sua forma elegante. Entretanto, seus maneirismos não eram como aqueles que usava com parceiros de negócios comuns. Ela agia de uma forma mais íntima, mais como Ningguang e não a Tianquan. Com o tempo Beidou aprendeu a notar as sutis diferenças entre as duas faces.

-Um drink é? – Beidou conseguiu forçar sua voz a sair. A luz baixa e difusa da varanda fazia Ningguang parecer quase etérea, uma deusa entre os mortais. – Não era você que sempre me diz que eu deveria beber menos?

-Tch – a outra fez – Aquela sua bebida de baixa qualidade com certeza, mas isto aqui.

Ela pegou a garrafa e girou sob a luz amarelada

-Isto é um dos melhores vinhos de Mondstadt, especialmente vendido durante o festival anual de vinhos. Nada comparável àquela obsenidade.

Dois Lados da Mesma MoedaOnde histórias criam vida. Descubra agora