Uma comoção no porto captou a atenção de Beidou e seu primeiro oficial Juza, interrompendo a conversa de ambos. A capitã sentava-se numa das amuradas de madeira do deque e esticou o pescoço para ver do que se tratava o burburinho. Uma figura branca e dourada caminhava pelo local, elegante e despreocupada.
-Ah, é a senhora Tianquan. – Juza observou.
-Hmpf – Beidou bufou em desaprovação.
- Capitã, não é você que trabalha com ela?
-Sim – ela suspirou – Mas não compro essa pose de boazinha. Ela não liga ou se importa com nada além de mora.
-Hm. – o homem olhou na direção da mulher de branco e ouro, que cumprimentava os comerciantes e pescadores no caminho – Os trabalhadores parecem gostar muito dela. Sua atuação sobre as leis melhorou a vida de muita gente.
Beidou observou em silêncio, o cenho franzido. Ningguang era uma presença a ser reconhecida, decerto. Ela chamava atenção como um holofote ao entrar em qualquer lugar, seus movimentos eram leves e elegantes e sua aura misteriosa era intrigante. Os pescadores e trabalhadores do porto e dos estaleiros a cumprimentavam com sorrisos, que ela retribuía polidamente. Beidou reconhecia sua inteligência e capacidade, mas haviam algumas coisas que lhe irritavam profundamente na mulher.
-Venha Juza, vamos sair das vistas antes que ela nos veja. Não quero que ela venha perguntar sobre todos os documentos que eu não entreguei e as multas atrasadas. – ela rolou o olho, saltando da amurada do deque e voltando em direção ao Alcor.
-Achei que vocês duas se davam bem. Há quanto tempo vocês estão trabalhando juntas novamente?
-Dois anos, mais ou menos. E nós estamos bem - disse Beidou, seca, ainda olhando para Ningguang enquanto ela ia - é só essa pose de menina rica dela que me irrita, essa máscara de perfeição.
Juza deu de ombros e não insistiu mais. Ele conhecia muito bem a capitã para saber que ela estava de mau humor e se afastou para procurar alguma atividade que necessitasse sua atenção no navio, deixando-a debruçada na amurada do mesmo. Ela observava enquanto a figura desaparecia a distância e pareceu nem perceber a saída do contramestre.
O problema é que Beidou era uma má notícia. Ela não queria chegar muito perto de Ningguang. Muito perto para ela se importar, muito perto para sua maldição agir.
Um longo suspiro precedeu uma realização que ela negava. Ela estava se enganando, e no fundo ela sabia. A verdade é que ela precisava encontrar motivos de irritação e afastamento porque...ela já simpatizava com a Tianquan. Ao longo dos dois anos de parceria, ela foi capturada pela inteligência, sagacidade e capacidade da mulher. Ela gostava de seus jogos, suas conversas e suas brigas, ela gostava de seus debates e ela gostava de seus olhos cor de brasa que pareciam ver através das intenções das pessoas. Ningguang podia ser um pé no saco, mas ela também era tão hipnotizante em tudo que fazia.
Ela era toda sobre mora, mas sabia que era apenas a superfície. Durante todo esse tempo, Beidou não tinha visto ninguém interagir com a Qixing, a não ser para fins de trabalho ou conseguir favores. Os pretendentes que a cortejavam também pareciam buscar nada mais do que um troféu e parte da sua riqueza. Ela não vira nenhum amigo ou família em sua companhia também, o que fez a capitã pensar que a mulher poderia ser... muito solitária. Mesmo que mora fosse a coisa que ela mais amava, uma existência tão afastada de afeto era meio... triste.
Não ousava chamar a mulher de amiga. Elas estabeleceram uma distância educada, uma linha que concordaram quase que inconscientemente em não cruzar e ainda assim ... Essa linha às vezes era borrada e os limites tornavam-se vagos. Para Beidou, Ningguang ainda era um enigma. Um que despertava seu interesse ao mesmo tempo que a afastava.
É melhor assim - pensou ela. Talvez manter as coisas dessa forma também mantivesse Ningguang a salvo dela.
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Dois Lados da Mesma Moeda
Roman d'amour*EM REVISÃO* Desde o início Beidou tinha uma visão um tanto fria e imóvel da Tianquan de Liyue. Elas sempre se alfinetavam, nenhum das duas aceitando sair sem a última palavra. Mesmo após anos de colaboração, ela acreditava que era melhor que perman...