Flores que nascem na pedra

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Depois do incidente com a Câmara de Jade Beidou percebeu que as pessoas estavam ainda mais reverentes à Ningguang. Não somente ela era a líder da cidade como sua maior heroína.

"Pft, como se ela precisasse ser ainda mais foda" pensou. Entretanto, os últimos aconteciementos mexeram com a capitã de uma forma bastante inesperada. Inconscientemente, ela procurou a Câmara de Jade no céu em seu lugar costumeiro apenas para encontrar o espaço vazio. Ningguang já estava planejando construir outra Câmara e não tinha tempo nem para encher o saco de Beidou.É claro, isso levaria um tempo absurdo como da primeira vez. A engenharia daquele negócio não era brincadeira.

Milellith e voluntários estavam fazendo várias buscas em Guyun atrás de coisas que pudessem ser encontradas do falecido prédio e por incrível que pareça muita coisa foi resgatada. Muita coisa também não foi devolvida por alguns "voluntários" atrás dos tesouros de Ningguang. Bem, Beidou preferia deixar esse trabalho na mão deles por enquanto. Tinha coisas mais importantes para se preocupar como seus negócios "paralelos". Há poucos dias tinha deixado uma carga em Inazuma junto com Lumine, a viajante.

"Quantos problemas essa garota enfrentou" a capitã pensou. Ela era bem jovem e já tinha ajudado a salvar duas nações. Beidou simpatizava bastante com ela e a criaturinha flutuante Paimon. Até mesmo Ningguang lhe falara sobre seus feitos com admiração, o que não era pouca coisa e se mostrou bastante verdadeiro já que Lumine tinha sido de muita importância durante o incidente com Osial, o Deus do Vórtice.

Interrompendo seu fluxo de pensamentos, Beidou saiu de sua calma contemplação da vista alta próxima ao ponto de teleporte ao norte da cidade para descer ao porto e perguntar sobre sua próxima encomenda. Logo ali embaixo perto do píer ficava seu fiel negociante. Mas tinha que ter muito cuidado já quem não eram apenas os Milellith que ficavam de olho nela, mas outros comerciantes também. Tentavam conseguir favores de Ningguang dando informações sobre Beidou e suas trasações obscuras.

Bolai era um que às vezes tentava sair por cima com algumas maracutaias, mas soube que da última vez Ganyu deu um jeito. Ela preferia ter cuidado em não se expor perto dele. Ao passar por sua banca entretanto, um vasto estoque de lírios-de-vidro chamou-lhe a atenção e sem pensar muito, parou na frente das flores. Alcançou uma e levou ao nariz, sentindo aquele aroma familiar que Ningguang usava.

"Hunf" pensou, com um sorriso "parece que até aqui ela me segue"

-A capitã Beidou está interessada em flores? – o comerciante tirou-lhe de seus devaneios.

-Ah, olá Bolai. Sim, vou levar três dessas flores.

-Com certeza, tudo pela capitã! -ele disse, escolhendo três das mais belas e juntando num pequeno e elegante buquê – Não sabia que se interessava por essas coisas.

- Todo mundo tem um fraco por coisas belas. – disse apenas, pagando o buquê e se retirando. Não estava se referindo às flores, porém, mas Bolai nunca saberia disso. Nem ninguém.

Não era do feitio de Beidou fazer coisas desse tipo mas desde os últimos incidentes com Ningguang...ela se sentia, como colocar isso? Uma idiota. A líder dos Quixing de Liyue agora mexia com a capitã de maneiras totalmente diferentes da irritação e do pé no saco usuais de antes. Agora ela fazia essas coisas bestas como lembrar dela observando flores e sentir falta até mesmo das broncas. Essa nova crush que Beidou estava tendo poderia muito bem ser a sua ruína. Até porque sabia muito bem que a outra só lhe via como uma aliada importante para fazer suas buscas obscuras por tesouros raros. Ou um problema.

Encontrou seu parceiro de negócios e depois de uma conversa em códigos ficou satisfeita que o pedido já havia sido recebido em Sumeru e logo chegaria em Liyue. Mais alguns dias e a próxima parada era levar até Inazuma.

"Agora acho que só resta voltar ao Alcor mesmo" pensou. Olhou as flores na mão. Tinha comprado por impulso, nem sabia o que fazer exatamente com elas. Teve então a brilhante ideia de dá-las à Ningguang. Provavelmente iria irritá-la a visita sem aviso mas Beidou não ligava. Até gostava dessa implicância.

Sem a Câmara agora ela trabalhava no escritório dos Qixing junto aos outros. Quem foi a primeira a encontrá-la assim que entou no prédio foi Ganyu.

-Capitã Beidou, o que faz aqui?

-E aí, Ganyu? Trabalhando muito como sempre? Vim ver a Ningguang.

-Uh, Lady Ningguang não comentou que esperava você. – a pequena adeptus era bastante correta em seu trabalho. Seus olhos passaram pelas flores por um segundo mas não comentou nada.

-Ela não está mesmo.Onde é a sala dela? É ali?

Beidou dirigiu-se a uma sala que parecia ser de alguem importante mas Ganyu interceptou-a.

-Ah, é sim mas ela não está lá agora.

A marinheira driblou a de cabelos azuis.

-Eu espero lá dentro então.

Ganyu fez menção de dizer algo mas desistiu. Deixou que Beidou fosse para a sala e saiu para buscar a Tianquan. Só esperava que ela não ficasse muito irritada.

A sala de Ningguang era bem menor que seu escritório na Câmara mas continha algumas das coisas que foram resgatadas e uma decoração que tinha cara de riqueza mesmo num local mais simples. A sala tinha o cheiro do fumo de seu cachimbo, pousado na mesa. Beidou demorou-se sorvendo os detalhes do lugar, enxergando em cada coisinha a meticulosidade de sua dona. Alcançou um pequeno vasinho que estava dando bobeira e colocou as flores nele sobre a mesa. Percebeu então, logo no que seria a linha de visão de Ningguang um outro vaso familiar. Aproximou-se e viu que era um vaso que dera à Tianquan anos atrás. Uma antiguidade que encontrara numa ruína, era azul com desenhos intrincados delicadamente gravados na porcelana.

"Uau, como será que isso sobreviveu a queda?" pensou, tocando levemente com a ponta dos dedos no objeto.

A porta abriu de sopetão com Ningguang entrando por ela. Beidou recolheu a mão com os susto e virou-se para olhar a outra.

- Beidou, você tem assuntos urgentes para tratar comigo?

-Hm... não. – ela não pensara bem num motivo que pudesse dar para estar ali. Não podia simplesmente dizer que tinha ido apenas lhe entregar flores.

-Então o que você veio fazer aqui além de desperdiçar meu tempo? – ela cruzou os braços.

-Vim ver como você está e é assim que sou recebida? – Beidou disse, tentando dizer algo para não ser expulsa. A Quixing levantou uma sobrancelha.

-Eu estou bem, obrigada. Isso é tudo? – ela parecia meio desconfiada. Virou para sua mesa com menção de sentar-se. – Ora, que flores são essas? Não lembro de ter pedido para comprarem.

-Ah, eu trouxe.

-Você? Por quê?

Beidou deu de ombros.

-Você parecia tão deprimida da última vez que te vi que pensei em te trazer alguma coisa. E essas flores me lembram você. Têm cara de coisa chique.

Ningguang silenciosamente tocou as flores, ajeitando-as com cuidado. A falta de resposta deixou a capitã ansiosa.

-Obrigada. – disse enfim, com um leve sorriso.

- *cof* - Beidou pigarreou, tentando esconder o rosto que sentia estar ficando vermelho – Disponha. E-era só isso, eu vou indo então.

Ela escapou pela porta, fechando-a atrás de si sentindo o coração quase sair pela boca de tão violentamente que batia. Por um minuto achou que que Ningguang não ia gostar do que tinha feito. Respirou fundo, rindo para si mesma.

"Eu sou muito idiota. Que diabo eu estou fazendo?"

Dois Lados da Mesma MoedaOnde histórias criam vida. Descubra agora