Canto de Malibu

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- Então vocês vieram do México até aqui, de Kombi? - Isla perguntou outra vez, só para confirmar.

- Bem, a gente teve que pegar a balsa para chegar na ilha. A Frida precisou ficar em Malibu - o homem de cabelos compridos falou enquanto tomava um gole da latinha de Coca-Cola. Ele suspirou. - Sinto falta dela todos os dias. A Ilha da Rocha é incrível e tudo mais, mas não sem minha Frida.

- Frida? - Isla com certeza estava perdendo parte da história.

- A Kombi - a mulher (Felipa, como ela tinha dito ser seu nome) explicou. - Nós demos um nome a ela depois que a encontramos no ferro velho. Ela precisava de um nome, sabe? Não dava para dirigir quase trezentos quilômetros até aqui em uma Kombi sem personalidade.

- Ella se convirtió en el amor de mi vida. - O outro rapaz, que alimentava um macaquinho empoleirado em seu ombro, disse em espanhol. Os outros tinham explicado que ele não falava uma palavra em inglês, mas Isla, por ser metade brasileira e falar português fluente, conseguia entender um tantinho de espanhol também.

- Isso é fofo - ela disse, se arrastando na areia para mais perto do homem e seu macaco. - Você parece muito devoto ao seu... carro.

- Frida é mais que um carro - o rapaz da Coca-Cola continuou. - Foi nossa passagem para a liberdade. Nossa casa por semanas enquanto chegávamos até aqui.

Os outros dois companheiros, o homem e a mulher, assentiram com uma expressão solene. Até o macaco parou de mastigar a banana.

- Deve ter sido incrível - Isla falou baixinho -, a viagem.

- Foi. E valeu a pena toda refeição horrível de beira de estrada, o gambá que se escondeu no estofado do último banco e as rodovias esburacadas para chegar até aqui. - Felipa sorriu consigo mesma. - A Califórnia é tudo aquilo de que ouvi falar e mais um pouco. Malibu e a Ilha da Rocha então... Garota, você vive em um paraíso na Terra.

Isla abriu um sorrisinho sem graça e baixou os olhos pra areia branca aos seus pés. Ela não disse que até mesmo o paraíso podia acabar ficando chato de vez em quando.

- Eu adoraria conhecer o México um dia - ela disse. - Já li tantas coisas incríveis a respeito do país... Poderia passar muito tempo lá, só explorando.

- Você poderia mesmo. Sempre há algo para se fazer no México e as pessoas são as melhores. - Felipa lhe lançou uma piscadela convencida. - Se um dia decidir aparecer, já sabe para quem ligar.

Ela sacou um bloquinho e uma caneta do bolso de trás dos shorts jeans e rabiscou um número de telefone.

- Você foi muito simpática, Isla. E pode ter certeza que vamos seguir seus conselhos a respeito de onde ir enquanto estivermos na ilha. Ah! - ela exclamou de repente, abrindo o zíper de uma mochila jogada aos seus pés e a revirando. - Fique com isso. O Juan aqui faz artesanato. Vendemos muito da sua arte na beira da estrada.