Prólogo

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Espanha, 1919

Mary Dudley se encontrava deitada preguiçosamente na cama, cercada de travesseiros, quando o telefone da sala tocou. O barulho estridente que soou pelos cômodos do extravagante quarto de hotel não foi o suficiente para acordá-la e sua dama de companhia, a adorável Lucy, se levantou do sofá em um salto para atendê-lo.

- Lucy Brown em nome de Lady Dudley, em que posso ajudar?

- Lucy, é Grace aqui. – A voz saiu abafada do outro lado – Preciso falar com Mary urgentemente.

- Ah, Grace. – A garota soltou um suspiro de alívio. Atender telefonemas não era sua atividade favorita, especialmente quando as pessoas do outro lado da linha podiam ser bem rudes com uma simples dama de companhia – Mary está dormindo.

- Deus, que horas são aí? Não é de madrugada, é?

- Não, não. Já passa de meio-dia. – Lucy se inclinou para fitar a patroa pela porta entreaberta. Os longos cabelos castanhos avermelhados foi a única coisa que ela conseguiu ver na confusão de cobertas e travesseiros.

- Então a acorde para mim, por favor. É realmente urgente.

A dama de companhia torceu a boca, ponderando se deveria fazer mesmo isso. Grace Burgess era a melhor amiga de Mary e talvez essa última ficasse mais brava por não ser acordada em uma situação dessas do que por ser tirada do seu sono.

- Tudo bem. Espere um minuto.

Ela deixou o telefone de lado e se encaminhou até a cama. Delicadamente, sacudiu o ombro da sua patroa:

- Lady Dudley...

- Hmmm. – A mulher se virou na cama.

- A senhorita Burgess está no telefone.

- Ela não pode ligar mais tarde? – Murmurou ainda de olhos fechados.

- Disse que é urgente...

- Ah, que seja. – Mary se levantou – Tem como trazer o telefone aqui?

- Sim, acho que o fio é bastante longo. – Lucy respondeu, já voltando para a sala no intuito de pegar o aparelho.

- Obrigada, Lucy. Você é um anjo.

Mary respirou fundo antes de pegar o telefone e levá-lo a orelha.

- É bom você ter um ótimo motivo, Grace. Eu fui dormir excepcionalmente tarde...

- Mary. – A Burguess interrompeu a amiga com um tom choroso – Eu fiz uma coisa horrível...

- Ei, ei. Calma. O que aconteceu?

- Não posso te contar desse jeito. As telefonistas...Podem ouvir, Mary completou mentalmente – Mas eu estou na América.

- O que?! – A morena se engasgou – Onde?!

- Em Nova York. Olha, Mary, eu...

- Espera. O quão ruim foi o que aconteceu?

- Muito. – Sussurrou.

- Ok. Vou comprar passagens hoje, mas não sei quando devo chegar aí...

- Não, Mary. Eu não quero que você atravesse o oceano. Eu só queria... – Dudley ouviu a amiga bufar – Poder desabafar.

- Bem, eu estou indo para Nova York, você querendo ou não. Acho bom estar aí quando eu chegar e, então, poderemos conversar apropriadamente. Vai ser realmente bom sair da Espanha, já estou aqui há quase cinco meses... - A Lady torceu o fio do telefone enquanto divagava.

- Eu não queria ser um problema para você. – O tom choroso do outro lado da linha voltou a se intensificar.

- Ah, pelo amor de Deus Grace, cale a boca. – Ela perdeu a paciência – Não te vejo pessoalmente há anos e eu estou sempre viajando. Ir para a América não é um problema, especialmente quando posso gastar um tempo com você.

- Tudo bem, eu só estou... Bem, eu estou na merda. – Riu sem humor – Vai ser bom ter você aqui.

- Então, me passe o número do lugar que você está ficando que amanhã eu ligo para avisar quando irei chegar.

Instantes depois, quando as duas amigas desligaram o telefone, Lucy pode ouvir a voz animada de sua patroa gritar do quarto:

- Lucy, querida, o que acha de viajar para Nova York?

Grace e Mary - Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora