Capítulo 2

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Era mais uma tarde chuvosa em Londres e Mary suspirou inconformada ao olhar o tempo feio através da janela. Ela tinha se acostumado com o calor do Egito e, depois, com os dias mais amenos em Paris, então o clima melancólico inglês não lhe parecia nem um pouco aprazível.

Ainda inconformada, a morena se virou para os vestidos postos em cima da cama, desejando que o clima do dia seguinte estivesse melhor. A Derby seria horrível se estivesse chovendo daquele jeito.

- Lady Dudley, a Senhora Macmillan está aqui. – Ouviu Lucy gritar.

Por Deus, seu tio a mataria se soubesse como seus empregados agiam. Gritando pelos corredores ao invés de educadamente avisá-la, a chamando pelo primeiro nome, entre outras pequenas transgressões que deixariam o falecido Lorde Dudley de cabelos em pé. Bem, ele não está mais aqui para reclamar, está?, pensou.

- A mande subir. – Mary gritou de volta. O titio me colocaria de castigo por isso também, riu internamente.

Instantes depois, quando a porta foi aberta, a aristocrata se virou para a amiga, segurando um vestido vermelho em mãos.

- Ah, Grace, é bom que esteja aqui, o que acha desse vestido para Epsom?

- É lindo. – A loira forçou um sorriso, que logo foi percebido pela amiga.

- Nossa, com essa cara ele parece tudo menos lindo. – Mary fitou o vestido novamente, tentando enxergar o que de tão ruim a outra tinha visto nele.

- O problema não é o vestido. – Grace engoliu em seco, pondo a pequena bolsa sob uma das cômodas do quarto.

- Bem, então, o que é? – Perguntou ainda concentrada na peça em suas mãos.

- Eu estou grávida. – A Macmillan soltou se sentando na poltrona perto da janela.

- Você o que? – O vestido vermelho foi jogado de qualquer forma na cama – Isso é ótimo! – Mary correu para abraçar a amiga – Vou ser titia!

- Mary... – A voz de Grace saiu abafada pelo abraço apertado da amiga – Não é do Clive.

A ex-policial viu quando sua amiga se afastou, a boca pintada de batom formando um "O" perfeito.

- Acha que é do Tommy? Daquele dia?

- Eu tenho certeza. – A loira fechou os olhos e passou a mão sob as têmporas – O que eu vou fazer?

Mary se ajoelhou na frente dela, pegando suas mãos.

- Grace, vamos ser honestas aqui. Você o ama, não é? Todo esse tempo com Clive, você tem amado o Thomas. – Falou delicadamente e lágrimas silenciosas começaram a descer pelas bochechas da loira – E agora que você está grávida dele, por que continuar evitando isso?

- O que você sugere? – Grace fungou.

- Conte para o Thomas. Se ele aceitar assumir esse bebê, acho que você deveria pedir o divórcio de Clive.

A Macmillan ponderou um pouco antes de assentir.

- Tudo bem, vou fazer isso.

***

As duas amigas chegaram juntas na Derby, fazendo alguns homens inclinarem as cabeças quando as viam.

- As vezes é tão irritante andar do seu lado quando você está toda arrumada assim. – Grace falou impaciente, apertando as mãos.

Mary franziu as sobrancelhas perfeitamente desenhadas para a amiga:

- Como se esses olhares também não fossem para você.

- Tenho certeza que nem um terço deles... – Ela resmungou, fazendo a outra revirar os olhos – Argh, onde ele pode estar?! – A loira parou e bateu o pé impacientemente no chão.

- Você sabe o que ele veio fazer aqui?

- Não, não! Eu nunca sei nada direito quando se trate de Tommy. – Grace passou as mãos nervosamente pelo pescoço.

- Hmmm.... Então por que não damos uma volta por aí? Uma hora ou outra vamos acabar o vendo.

- Tem certeza de que isso foi uma boa ideia? Eu posso fingir para o Clive... Ele nunca suspeitaria...

- Grace. – Mary repreendeu a amiga – Você realmente quer passar o resto da vida sendo infeliz?

Ela suspirou antes de responder:

- Não. Tudo bem, nós podemos fazer isso. Dar uma volta por aí até achá-lo.

Lady Dudley entrelaçou o braço com o da amiga, a puxando entre o público eufórico da Derby. Quase uma hora mais tarde, Grace reconheceu Thomas em uma das escadas que levavam a parte reservada da corrida.

- Vá lá. – A aristocrata incentivou – Eu te espero perto de onde fazem as apostas.

- Não vai para o camarote? – Grace perguntou sem tirar os olhos das costas do homem.

- Não se eu puder evitar. Ande, vá logo. – A empurrou delicadamente e se virou para seguir seu rumo.

A área de apostas estava lotada e Mary se arrependeu da escolha do lugar no instante em que pôs os pés lá. A Lady aproveitou para pegar uma bebida e fazer algumas apostas aleatórias – ela realmente não fazia menor ideia do potencial dos cavalos que estavam correndo no dia. Quando ela já estava na segunda taça de champagne, Grace chegou.

- Como foi? – Perguntou.

- Acho que bem. – Deu de ombros – Vou esperá-lo aqui, ele virá depois da corrida.

- O que ele disse?

- Que eu fiz certo em não contar para Clive.

Mary sorriu.

- Estou feliz por você, Grace.

A loira riu antes de pegar a taça da mão da amiga e bebericar a bebida.

- Eu também.

- Ah, eu vou ser titia. – A morena desceu os olhos para a barriga da amiga – Eu vou mimar tanto essa criança!

- Tenho certeza de que vai. Deus me ajude. – Grace revirou os olhos divertida – Mas eu acho que titia não é um termo bom o suficiente.

- Ah, não? Nem ouse me tirar esse...

- Acho que madrinha seria melhor. – Ela interrompeu os protestos da amiga.

Os olhos escuros de Mary se encheram quase que instantaneamente de lágrimas.

- Madrinha? – Sussurrou.

Grace assentiu:

- Sim. O que seria da minha vida sem você? Eu não poderia pensar em pessoa melhor para cuidar do meu filho. – Sorriu.

Lady Dudley a puxou para um abraço, chorando silenciosamente em seu ombro.

- Obrigada, Grace. Esse é o melhor presente que eu poderia receber. – Sussurrou.

- Só prometa que vai proteger esse bebê como sempre me protegeu.

- Não, querida. Eu vou protegê-lo ainda mais. – Garantiu – E eu sinto muito, mas acho que já o amo mais do que amo você.

- Tudo bem. – A loira riu – Acho que posso conviver com isso.

Grace e Mary - Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora