A mansão que Mary possuía no Mayfair não era a tradicional casa Dudley – essa, sendo propriedade da família, passara, assim como o título, para seu primo distante, aquele que ela nunca tinha visto na vida antes de seu tio falecer. Mas diferentemente da propriedade em Newcastle, que Mary se amargurava por não poder dormir mais em seus quartos frios e caçar no bosque que guardava suas colinas, a perda da mansão Dudley em Londres não fizera a menor diferença para ela. Primeiro, porque ela quase nunca vinha a Londres nos anos dourados de sua infância e adolescência ao lado do tio e, segundo, porque nas raras ocasiões que eles estavam na cidade, era na rua Hill, nº 18, em que eles ficavam hospedados. A mansão pertencia a sua mãe, portanto já era de Mary desde muito nova, e era a única propriedade que continuava com ela. O tio dizia que preferia ficar ali por causa da localização – bem melhor do que a da casa Dudley, na Balderton – e porque ela era maior. Mais espaço para você correr, menina do campo, era o que ele falava. Agora, Mary desconfiava que ele fazia isso para que ela não sentisse falta de outra coisa que jamais seria dela, como o título. Bem, não importava por qual motivo fosse, ela amava aquele lugar. Amava as lembranças que tinha com o tio ali, onde ocorreram as raras festas que ele dava e que permitiram que ela fosse devidamente apresentada a alta sociedade, amava os móveis, que em sua maioria tinham sido escolhidos pelos dois, ou por seus pais e avós maternos antes deles, e, principalmente, amava os quadros que decoravam a sala de jantar – pinturas que a retratavam ainda criança, ao lado do tio; bebê, no colo da mãe; os avós e bisavós maternos e toda a linhagem Lowell, que, mesmo não pertencendo a nobreza, sempre tinha sido muito abastada. Mary não tinha o sobrenome Lowell, mas era a única que restava, e era devido a isso e aos bons investimentos do tio em seu nome que havia tornado possível ela se firmar como uma das mulheres mais ricas da Inglaterra.
Naquela noite a mansão estava cheia novamente, como não ficava há muito tempo. Lucy subia e descia as escadas afoita, conferindo os quartos de hóspedes e os pratos que seriam servidos no jantar. Apesar de ser a governanta nos últimos cinco anos, sua experiência em eventos era quase nula, se limitando as vezes em que Mary recebia duas ou três damas para o chá ou as visitas que Grace fazia com o pequeno Charlie. Mas naquela noite a Lady Dudley receberia seis convidados que dormiriam lá e Lucy podia sentir o coração disparado contra o peito, as mãos suando frio, temerosa de que alguma coisa desse errado na única vez em que a patroa exigia um real trabalho dela. A mulher só respirou aliviada quando os últimos pratos foram retirados e Mary levou os convidados para a sala de estar azul para as últimas bebidas.
- Nem pense nisso. – Esme disse, retirando a taça de vinho da mão da enteada.
Katie revirou os olhos, tentada a cruzar os braços e fazer uma careta, mas se conteve, com medo do que a Lady Dudley podia achar dela. As duas, junto com sua madrasta, haviam passado o dia entrando e saindo das mais variadas lojas de Londres e Katie tinha ganhado o vestido mais lindo que já vira. Era o melhor dia de sua vida e ela não ia deixar nada estragar isso. Ela deu de ombros, seguindo até a mesa lateral onde alguns copos de limonada estavam dispostos e que com toda certeza haviam sido deixados ali para ela – todos os adultos já estavam com suas bebidas em mãos.
- Ela está quicando de felicidade. – Esme comentou com Mary assim que a menina se afastou – Acho que tenho que te agradecer por isso.
- Você que deu o vestido. – A lady sorriu, observando John puxar a filha para perto.
Esme estalou a língua.
- Mas eu não a teria convidado se fosse você. – Confessou, dando um gole no vinho – É tão idiota, compras, como eu não pensei nisso antes? Todas aquelas crianças... As vezes esqueço que Katie já está mais velha.
- Filhos não vem com manuais. E você está fazendo um ótimo trabalho tendo em vista a quantidade deles.
As duas riram.
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Grace e Mary - Thomas Shelby
RomanceO amor de uma amizade pode transcender tudo, até mesmo a morte? Grace e Mary são amigas desde que se conheceram no colégio interno, aos onze anos. Mais de uma década depois, as vidas das duas amigas haviam tomados rumos diferentes - Grace seguiu os...