Capítulo 18

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O som estridente do telefone se confundia com as risadas e gritos das crianças. Katie Shelby revirou os olhos, cansada da bagunça de seus irmãos, e se levantou do sofá, arrastando os pés até a mesinha do telefone no canto da sala. Ela ainda pode ouvir a voz de sua madrasta gritando com algum dos meninos mais novos – provavelmente o pequeno Arthur, que como o tio que tinha o mesmo nome, era extremamente agitado.

- Alô? – Sua voz saiu lenta, tomada pelo tédio.

- Alô. – Uma voz animada respondeu do outro lado – É da casa de Esme Shelby?

Katie franziu as sobrancelhas. Ninguém nunca havia lhe perguntado isso. As pessoas questionavam se aquela era a casa de John Shelby quando ligavam, mesmo se o telefonema fosse para outra pessoa.

- Hmm, sim. – Ela respondeu.

Bem, aquela era a casa de Esme também, não era? Katie se perguntou como seria se perguntassem se aquela era a casa dela. É da casa de Katie Shelby? Ela deu um pequeno sorriso ao pensar em como a frase soaria, como seria ter uma casa grande, como a que eles moravam agora, sendo só dela.

- Quem é? – Perguntou.

- Mary Dudley. – A voz do outro lado da linha respondeu e os olhos verdes de Katie se arregalaram.

Ela já tinha visto Mary Dudley, a Lady, na casa do tio Tommy algumas vezes, até mesmo trocado algumas palavras com ela. Mary era o mais próximo do que Katie, no ápice dos seus treze anos, tinha chegado de uma princesa. E ela parecia mesmo uma, apesar de não ser. Bem, era quase isso, não é mesmo? Ela já devia ter tomado chá com uma alguma vez na vida. A filha mais velha de John se lembrava com clareza as duas vezes em que a mulher tinha dirigido a palavra a ela – as guardava com carinho no fundo de sua mente. A primeira, quando se conheceram: Mary havia sorrido calorosamente para ela, assim como para seus irmãos, quando o pai os apresentara em algum almoço em Arrow House, quase não tendo que abaixar muito a cabeça para falar com ela, já Mary era baixa e Katie era alta para a idade. Ela se recordava em como ela tinha exclamado "Nossa, você é realmente muito bonita, não é mesmo?" e Katie tinha ficado muito feliz, não só porque tinha sido elogiada, mas porque era a primeira vez que um adulto próximo da família falava daquele jeito com ela – diretamente e não através do pai. Na segunda vez, as duas tinham se esbarrado na cozinha da mesma casa – a Lady estava sempre lá, na casa do tio Tommy – e ela a cumprimentou, como se fossem grandes amigas, acrescentando em seguida: "Adorei seu vestido, ressalta seus olhos". Katie sabia que era bobo, mas achava que Mary a tratava como adulta, diferente dos outros Shelby que ainda a viam como uma criança. A primeira das crianças Shelby.

- Ah, oi Lady Dudley, é a Katie. – Seus dedos torceram nervosamente o fio do telefone.

- Olá Katie! Pode me chamar de Mary, sem formalidades entre nós duas, sim? Como você está?

A menina sorriu de novo. Estava ali, outra vez, a Dudley lhe tratando como a mulher que ela já achava que era, ao invés de simplesmente pedir para que ela passasse o telefone para quem quer que fosse.

- Estou bem. Estava lendo Mary Shelley antes de atender o telefone. – Disse, porque achou que soaria inteligente, e então, lembrando que seria educado devolver a pergunta, acrescentou: - E como a senhorita está?

- Oh, Katie, desculpe interromper sua leitura! Eu estou muito bem sim, obrigada por perguntar.

- Não, não! – A menina falou depressa, não querendo que a mulher do outro lado achasse que ela não gostaria de conversar – Eu nem estava conseguindo ler direito na verdade, meus irmãos estão bem agitados hoje.

Mary riu e então disse o que deixaria a pequena grande Shelby feliz pelo resto da semana:

- Ora, eu não tive o prazer de ter irmãos, mas sei como é chato ler um bom livro e não conseguir. Porque não combinamos de você vir a minha casa um dia desses, quando seu pai vier a Londres, sim? Tenho uma biblioteca que aposto que uma menina inteligente como você iria gostar e você poderia ler em paz. O que acha disso Katie?

Grace e Mary - Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora