- Eu tive uma ideia. – Grace disse, sentando-se no sofá em frente a amiga.
- Aham. – Mary assentiu sem tirar os olhos do livro que estava lendo.
- Uma instituição. – A outra continuou, se servindo um pouco de chá.
- Aham. – Lady Dudley virou a página, os olhos percorrendo as palavras vorazmente.
- Seria um orfanato, na verdade. Uma grande casa, onde as crianças pudessem ser acolhidas.
A morena assentiu ainda sem erguer a cabeça.
- Mary, você está prestando atenção no que estou dizendo? – Grace perguntou indignada.
- Instituição. Crianças. Algo do tipo. – Se limitou a dizer.
A Shelby puxou o livro das mãos da amiga.
- Ei! – Ela protestou – Estou no meio de uma parte importante!
- O que eu tenho para dizer também é importante!
- Você não pode esperar eu terminar de ler? – A lady esticou o braço tentando pegar o livro de volta.
- Você não pode esperar eu falar para voltar a ler? – A outra replicou.
- Não!
- Mary!
- Grace!
As duas se encarraram por um tempo antes que a aristocrata cedesse e revirasse os olhos.
- Tudo bem, diga.
A loira bateu o livro na mesa de centro e respirou fundo.
- Como eu estava dizendo, tive uma ideia. Uma instituição para crianças órfãs.
- Você quer construir um orfanato? – Mary perguntou vendo a amiga aquiescer em resposta – É uma ótima ideia.
- Na verdade, gostaria que fizéssemos isso juntas. – Admitiu.
- Por quê? – Lady Dudley franziu as sobrancelhas.
- Seria bom ter ajuda e você é ótima em relações sociais. Vamos precisar do máximo de doações possíveis. – Grace deu de ombros.
- Então você quer aproveitar meu nome e meu rostinho bonito? – Mary estreitou os olhos para a amiga.
- Está mais para o seu nome, seu rostinho bonito e suas piadas horríveis. – Ela segurou o sorriso.
- Ah, Senhora Shelby! Minhas piadas são ótimas! – A lady fingiu indignação.
As duas beberam um pouco de chá em silêncio até que Grace voltou a falar:
- Por favor, Mary. Seria ótimo ter sua ajuda. E teríamos algo só nosso, algo para fazer além de tomar chá e correr atrás de Charlie o dia inteiro.
- Eu leio também, quando você não está interrompendo. – Mary retorquiu.
A loira revirou os olhos.
- Olha, eu sei que você quer mais do que isso. Você era ótima na administração das propriedades do seu tio e todas aquelas instituições que ele era patrono... Você sabe o que fazer, com quem falar. E eu lembro que você gostava disso.
- Tem dez anos, Grace. – Murmurou, a tristeza tomando conta de seu rosto.
- Eu sei. E é por isso que é uma boa ideia voltar a ativa agora. – A Shelby sorriu – Você é brilhante, aquelas crianças precisam de toda ajuda possível.
Lady Dudley mordeu o lábio enquanto absorvia as palavras da amiga. Ela havia ficado tanto tempo fora, em férias permanentes, que não mais sabia se era capaz de fazer aquilo com maestria, como quando tinha apenas dezessete anos. Era bom, resolver todos aqueles problemas, fazer os cálculos, conversar, ordenar e convencer os doadores e funcionários. Mas também a lembrava dolorosamente de uma vida que ela não mais tinha, de quando seu título não era apenas um mero nome e seu tio estava vivo. Ela pensou no que ele diria se estivesse ali agora, vendo a mulher ociosa em que ela havia se tornado. Ele certamente não ficaria feliz, pensou.
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Grace e Mary - Thomas Shelby
RomansaO amor de uma amizade pode transcender tudo, até mesmo a morte? Grace e Mary são amigas desde que se conheceram no colégio interno, aos onze anos. Mais de uma década depois, as vidas das duas amigas haviam tomados rumos diferentes - Grace seguiu os...