Capítulo 11

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Todo mês os Shelby se reuniam em Arrow House para um jantar de família e, como sempre, a criação desse costume tinha sido ideia de Tommy. O chefe dos Blinders não só via tais encontros como uma forma de fazer com que seus parentes lentamente aceitassem sua esposa, mas também como uma maneira de saber como as relações intrafamiliares estavam.

Desde que Mary havia voltado da sua última viagem ao Marrocos, havia se tornado um hábito que ela ocasionalmente comparecesse em tais jantares, inicialmente por insistência de Grace. "Ela é o que eu tenho mais próximo de uma família, aqui, Thomas.", a loira havia dito, "Se sua família vem, também quero que ela venha." Agora, parecia que Grace não era a única a apreciar a presença de Mary, já que Michael, naquele momento, abria um largo sorriso ao conversar com a mulher. Os dois estavam sentados lado a lado em um dos sofás da sala, conversando com Ada, e, mesmo que discretamente, era possível ver a mão do Gray descansando na cintura de Mary.

- Eles foram um belo casal. – Linda disse ao se aproximar de Thomas, acariciando a barriga que ficava cada dia mais redonda.

O Shelby se limitou a erguer as sobrancelhas, puxando a fumaça de seu cigarro.

- Eu gosto dela. – A esposa de Arthur sorriu – É bom para o Michael ter alguém assim. E para a família, é claro.

- Você acha? – Thomas soprou a nicotina de seus pulmões, nem um pouco interessado no que a cunhado tinha a dizer.

- Ah, Tommy. Quem imaginaria que a família Shelby poderia chegar tão longe? – Linda riu – Mas imagino que Mary nunca poderia saber de todos os negócios, não é mesmo?

Os olhos azuis do homem se desviaram do mais novo casal e passaram a analisar o rosto da esposa do irmão. Linda era esperta e ele sabia que tinha que tomar cuidado com ela.

- Eu suponho que não. – Ele deu de ombros, agora fingindo desinteresse.

- Da mesma forma que as outras esposas sabem de tudo, certo? – O sorriso dela continuava impassível e Tommy levou o copo de Whisky que segurava aos lábios.

- O que você quer Linda? – Perguntou, sem paciência para joguinhos naquela noite.

Ela suspirou com um falso desapontamento.

- Você sabe Tommy, Arthur é um bom homem. Está mais perto de Deus agora. E se for da vontade Dele, teremos um lindo bebê em dois meses. – Ela se aproximou ainda mais do cunhado – Arthur me conta coisas, Tommy, coisas que eu sei que você e John não contam à Grace e Esme.

- E você pretende contar a elas? – O olhar frio dele em cima dela era impassível, mas Linda não se abalou.

- Não. Eu não vou contar. Como você e John resolvem tratar suas esposas não é meu problema. Eu só queria que você soubesse que eu sei. Sobre tudo. E nem tente colocar a culpa em Arthur porque, no fundo, você sabe que ele está certo. É sobre isso que deveria ser o casamento, não é? Confiança.

- Você já acabou seu discurso, Linda? – A voz dele era indiferente e a mulher se perguntou por que ela havia se dado ao trabalho. Thomas Shelby gostava de fingir que os negócios eram da família, mas era sempre ele que tomava todas as decisões e aqueles que não eram de sangue eram deixados frequentemente no escuro.

Ela assentiu.

- Bem, então... – Thomas elevou a voz se virando para as pessoas na sala – Hora do jantar!

***

Para o descontentamento de Grace, Polly acabou se sentando ao seu lado na mesa de jantar. Honestamente, ela não achava que as coisas entre elas fossem se resolver nunca, mas, se fosse para agradar o marido, ela fingiria ao menos estar tentando. Isso era mais fácil quando nenhuma das duas faziam questão de ficar muito próximas em qualquer ambiente, mas quando o assento a sua direita, que normalmente era ocupado por Mary, ficou vazio – com John obviamente pulando a cadeira de propósito, uma vez que também não gostava dela – a Gray marchou até lá como se não tivesse lugar melhor para se sentar.

- Polly. – Grace se viu obrigada a cumprimentá-la, lhe dirigindo as primeiras palavras da noite.

- Grace.

A mulher abriu um sorriso brilhante e, no mesmo instante, a Shelby soube que o jantar não seria fácil. Ela olhou de esguelha para o marido, sentado na cabeceira da mesa, com esperança de puxar assunto com ele antes que Polly começasse a lhe importunar. Infelizmente, Thomas já estava entretido com Arthur, e Grace percorreu os olhos pela sala até encontrar Mary, entre Michael e Linda, longe demais para que elas pudessem conversar.

- Espero que não tenha se demorado muito escolhendo o cardápio de hoje. – Polly disse – Você sabe, nós não somos muito exigentes.

Grace respirou fundo, sabendo que havia perdido sua oportunidade de fugir daquele embate.

- Tommy que escolheu os pratos. – Ela forçou um sorriso.

- Ah, claro. Você não se rebaixaria a isso, organizar um jantar para um bando de ciganos. – O tom da Gray era condescendente.

- São a família do meu marido. – A loira se limitou a dizer, levando sua taça de vinho aos lábios.

- Sabe quem não parece se importar com isso? – Polly ignorou sua resposta, inclinando a cabeça de forma sutil – Sua amiga. Ela parece bem feliz.

Grace mordeu o interior da bochecha. É claro que em algum momento a mulher, que era o que ela tinha mais próximo de uma sogra, falaria a respeito daquilo. O seu adorado filho com a melhor amiga dela. Por Deus, Grace odiava aquilo. Seria até mesmo melhor que Mary estivesse com um dos irmãos de Tommy, mas Michael... Era óbvio que Polly a atormentaria. A única razão pela qual ela ainda não havia se posicionado abertamente contra o relacionamento para Mary era porque achava que aquilo não iria para frente, como sempre acontecia quando a Dudley estava com algum homem, e ela ansiava pelo olhar que lançaria a Polly Gray quando sua amiga quebrasse o coração do filho dela.

- Você sabe... – A cigana recomeçou – Eu sempre achei que Tommy fosse excepcionalmente inteligente. Mas, como todo homem, ele se torna um idiota quando está pensando com a cabeça de baixo. Eu vejo, no entanto, o que atrai ele em você... a classe... a elegância... esse rostinho bonito... não é algo que se encontra facilmente nas ruas de Small Heath..., mas eu me pego pensando... – O sorriso cruel que se desenhou no rosto da Gray preparou Grace pelas palavras dolorosas que viriam a seguir – Será que se ele tivesse conhecido você e sua amiga juntas, antes de ter colocado um filho na sua barriga, sua escolha teria sido a mesma? Porque é bastante óbvio que Michael ficou com a melhor mulher.

Os punhos fechados da Shelby e o olhar mortal que ela lhe lançou fizeram com que Polly gargalhasse internamente. Ela tinha atingido seu objetivo, irritando a esposa do sobrinho até que ela chegasse ao limite.

- Michael não ficou com nada. – A loira disse entre dentes – É estúpida se acha que isso vai dar em alguma coisa.

- Oh, querida, acho que você perdeu o ponto aqui: Mary é bem superior a você, em todos os sentidos. Eu vejo como você tenta ser como ela, mas nunca vai chegar lá, não é mesmo? Por isso eu me pergunto... – Polly franziu as sobrancelhas – Por que a mantém por perto? Você gosta de ser o centro das atenções, a melhor, e nunca irá conseguir isso quando ela estiver no mesmo ambiente.

Grace sentiu a fúria percorrer sob sua pele. Era surpreendente como a Gray havia aprendido a atormentá-la.

- Você não sabe nada sobre minha relação com a Mary. Se você não consegue ter nenhum relacionamento saudável com outra mulher devido ao seu temperamento asqueroso, isso não é problema meu. Mas esse seu joguinho, tentar me colocar contra ela, não vai funcionar.

O olhar de Polly vacilou, mas ela ergueu o queixo antes de responder:

- Não é nenhum joguinho. É a verdade.

Antes que Grace pudesse responder, Thomas, que havia percebido como a tensão entra as duas começava a aumentar, chamou seu nome e ela aproveitou a oportunidade para começar a ignorar a mulher ao seu lado.

Mais tarde, quando todos saboreavam a sobremesa, a antiga agente da coroa observou como Michael se inclinava em direção a Mary, fazendo a mulher rir sobre alguma coisa que ele sussurrava em seu ouvido. Por Deus, ela mal conseguia esperar para que aquilo acabasse.

Grace e Mary - Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora