Thomas fechou a porta do carro com força, descontando nela toda raiva que sentia. Churchill e os russos estavam tornando sua vida ainda mais difícil e ele gostaria de resolver seus negócios com eles o mais rápido possível, no entanto, os "whites", como eram chamados, não pareciam colaborar. Maldito jogo político.
Aquele dia estava sendo particularmente ruim, então, depois de ficar horas tentando pensar em uma solução para os seus mais recentes problemas, o Shelby voltou para Arrow House de tarde, na esperança de que trabalhar em casa melhorasse seu humor. Abgail, a governanta, surgiu na entrada assim que ele acabou de descontar sua frustração em seu Rolls-Royce.
- Senhor Shelby, não sabia que voltaria tão cedo. – Disse, solicita como sempre.
- Não era planejado.
Thomas marchou para dentro, ansioso para voltar a ocupar sua mente com as movimentações de suas empresas – coisas sobre as quais ele tinha controle, que ele poderia resolver.
- A Senhora Shelby saiu logo depois do almoço para resolver algumas coisas em Birmingham. Lady Mary chegou em seguida, mas insistiu em esperar a senhora. – A governanta explicou.
- Ótimo. – Thomas tirou seu sobretudo, o pendurando no hall – Ela está com Charlie, suponho.
- Na sala principal. – A governanta anuiu.
- Eu vou para o escritório. Avise-me quando Grace chegar. – Pediu, já caminhando em direção ao seu gabinete.
- Sim senhor. – Ele a ouviu dizer.
A grande mesa de madeira de seu gabinete estava bagunçada e os rascunhos sobre o futuro orfanado de Birmingham em cima dela denunciavam que sua mulher estivera ali. Ele precisava comprar uma mesa para ela agora, constatou, transformar algum dos ambientes da casa em seu próprio escritório. Depois de colocar as coisas dela de lado, Thomas enfiou a mão no bolso, procurando a chave da primeira gaveta da direita, a que ele usava para guardar os documentos que preferia que ficassem longe dos olhos dos empregados curiosos. Ele tateou o tecido em vão, só para se lembrar que a havia deixado em seu quarto na noite anterior. Exasperado, ele saiu do escritório, rumo ao andar de cima. Entretanto, antes que pudesse subir as escadas, o timbre agudo da voz de seu filho chamou sua atenção.
- Sim! – Ele dizia antes de explodir em gargalhadas.
O Shelby se aproximou lentamente da porta entreaberta da sala. Mary Dudley estava deitada no tapete, com seus cabelos avermelhados espalhados ao redor dela e descalça, enquanto segurava o pequeno Charlie no alto em seus braços.
- Então vou soprar sua barriga! – Ela falou, cumprindo em seguida sua promessa, e o menino gargalhava.
Thomas nunca a havia visto daquele jeito, tão a vontade e despojada. Que ela era linda, não era novidade. Mas o Shelby se permitiu dar um pequeno sorriso pela forma carinhosa com que ela tratava o seu filho. Realmente, ele jamais poderia imaginar que alguém que havia crescido em meio a tantos luxos fosse tão amável com sua família que vinha da lama e fumaça de Small Heath. Grace havia escolhido bem a madrinha do filho deles, afinal. Era perceptível para Tommy que a mulher amava Charlie como se ele fosse seu e ele nunca poderia reclamar de ter mais uma pessoa zelando e cuidando daquilo que lhe era mais precioso. Incrivelmente, tais pensamentos aliviaram um pouco da tensão dos ombros do homem e ele subiu em direção ao seu quarto mais bem-disposto do que havia chegado.
***
Mary P.O.V.
- Eu vou analisar as opções e fazer algumas anotações. – Falei enquanto juntava os papeis com os possíveis locais para o orfanato que Grace havia trazido.
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Grace e Mary - Thomas Shelby
RomanceO amor de uma amizade pode transcender tudo, até mesmo a morte? Grace e Mary são amigas desde que se conheceram no colégio interno, aos onze anos. Mais de uma década depois, as vidas das duas amigas haviam tomados rumos diferentes - Grace seguiu os...