Capítulo 4

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O salão estava lotado com os convidados do casamento e a divisão era clara entre os parentes de Grace, que haviam vindo fardados, e os de Tommy. Polly Gray viu quando a melhor amiga da noiva, Lady Dudley, rodou pelo salão com Finn, que ficava vermelho só de estar perto da mulher. A tia do noivo não gostava de muitas pessoas, especialmente das que tinham dinheiro, porém, se surpreendeu quando percebeu que gostava daquela aristocrata, até mais do que daquela com que o sobrinho havia escolhido se casar. Grace se achava muito inteligente, na opinião de Polly, tentando se meter nos negócios da família e tendo sido uma maldita policial. Mas Mary não estava nem aí. Sendo uma herdeira, solteira, ela não tentava agradar ninguém e era difícil passar um tempo com ela sem rir um bocado. Eu poderia ser assim, a Gray pensou, se fosse uma herdeira rica e não tivesse que me importar com nada no mundo.

- Vigiando a Lady Dudley? – Ela ouviu seu filho perguntar, a fazendo bufar.

- A mulher tem classe. – Respondeu.

- E a senhora gosta dela. – Michael Gray acrescentou.

Polly deu de ombros, desviando o olhar para o rosto do filho, só para ver a maneira com que ele encarava a mulher do outro lado do salão.

- Você nem pense nisso. – Disse entre dentes.

- Do que está falando? – Michael se fez de desentendido para a mãe.

- Ela é muito velha para você.

- Ela só tem vinte e sete anos. – Ele revirou os olhos.

- E você tem dezenove. – A mulher bateu o pé.

- Não gostaria que seu filho fosse um lorde, Polly? – O homem perguntou antes de levar o copo de whisky que bebia aos lábios.

- Não seja estúpido. Você jamais seria um lorde, ela que perderia o título.

- Mas o dinheiro valeria a pena, não? – Ele murmurou.

- Ah, Michael, você é tão inocente as vezes... – Polly sorriu – Você realmente acha que ela lhe deixaria por as mãos na herança dela? Por que acha que ela ainda está solteira? Porque aquela mulher é esperta. – Disse calmamente – Ela tem a liberdade e o dinheiro, não vai abrir mão disso pelo que você tem no meio das pernas.

Michael apertou os lábios descontente e deu mais um gole em sua bebida.

- Talvez eu não queira a herança dela no fim das contas. – Resmungou.

A mulher analisou o rosto do filho com atenção antes de suavizar o semblante:

- Você gosta dela? – Perguntou baixo, um tanto quanto surpresa. Ela sabia que Mary era sedutora, mas não esperava que o filho, que era sempre tão fechado, caísse nos encantos dela.

Ele deu de ombros.

- Ela é bonita.

- Existem muitas mulheres bonitas por aí. – Polly ergueu uma das sobrancelhas bem delineadas.

- E divertida. – Ele suspirou – Mas a senhora está certa. O que uma mulher como aquela – Gesticulou para Mary, que agora ria com Linda em um canto – Vai querer com um pirralho como eu?

A Gray rangeu os dentes antes de dar um passo mais para perto do filho.

- Olhe bem, Michael. Eu não acho que ela vai cair de amores por você, ou vai se casar com qualquer pessoa que seja. No entanto, nós, os Grays, nunca – Ela segurou o queixo dele, o forçando a olhar para ela – desistimos do que queremos sem lutar, está entendido?

Ele assentiu.

- Então, vá lá.

- Agora?

- Vá lá, cacete, e fale com ela. – Polly disse sem paciência e assistiu enquanto o filho se afastava.

No outro lado do salão, Linda acariciava a barriga enquanto falava com Mary.

- Eu gostaria que fosse uma menina, mas também vai ser ótimo se for um garoto. Ele poderá tomar conta dos próximos irmãos.

- Ah, sim. Eu gostaria de ter tido irmãos quando era criança. – A lady levou a taça de champagne aos lábios.

- Eu também. É horrível ser uma criança sozinha.

- Não tinha ninguém com quem você brincar? – Mary questionou.

- Minha mãe sabia ser bem rígida. – A esposa do Shelby mais velho revirou os olhos – E você?

- Minha mãe morreu quando eu nasci, então... – A outra deu de ombros – E eu sempre estudei em colégios internos, então tinham várias garotas com quem eu pudesse brincar.

- Colégio interno. – Linda repetiu – Você acha que eles dão uma boa educação?

Lady Dudley assentiu.

- Mas vendo Charlie hoje, não sei se conseguiria ficar tanto tempo assim sem vê-lo. A decisão não é minha, no entanto.

- Tenho certeza de que Grace e Tommy vão decidir pelo melhor. – Ela respondeu a tempo do marido se colocar ao seu lado.

- Linda, o jantar vai ser servido. – Arthur falou.

- Ah, claro. Vamos então?

- Podem ir. Vou ao lavabo primeiro. – Mary sorriu.

A Lady Dudley não ficou sozinha por muito tempo e quando voltou do banheiro o lugar de Linda foi rapidamente tomado por Michael.

- Boa noite, senhorita. – Ele disse antes de pegar a mão dela, deixando um beijo no dorso enluvado.

- Ah, Michael, achei que já não precisássemos te tantas formalidades. – Riu, o fazendo enrubescer levemente.

- É sempre bom ser educado com uma dama. – O Gray respondeu – Soube que já vão servir o jantar, se importaria se eu me sentasse do seu lado?

- Achei que os lugares fossem marcados. – Ela franziu as sobrancelhas.

- Provavelmente são. Mas ninguém do nosso lado liga pra isso. – Michael deu de ombros.

- Bem, acho que infelizmente vou estar sentada do lado dos convidados de Grace. – Mary deu um leve sorriso, como se desculpasse.

- Posso me sentar na sua frente, então. – Assim que as palavras saíram de sua boca, o homem quis se bater internamente. Não queria soar tão desesperado.

- Tudo bem. – A lady sorriu verdadeiramente agora, deixando Michael um pouco mais aliviado.

Os dois seguiram para a sala de jantar e Polly notou quando o casal passou por uma das enormes portas de madeira. Até que a ideia não é tão ruim, pensou. Ainda tinha certeza de que a Lady Dudley nunca se casaria, mas ela não seria uma má companhia para o filho. Ele poderia ficar mais longe dos negócios ilegais da família, Tommy não arriscaria que a amiga da mulher descobrisse o que estava acontecendo. Eles se sentaram de frente um para o outro, como combinado, e aquela foi a primeira vez que Mary realmente notou Michael.

Grace e Mary - Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora