Capítulo 10

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De madrugada, a chuva cessou. O céu, antes escuro, agora, quando ninguém o observava, exibia estrelas brilhantes. No quarto, Raul encarava o teto, sem sono. Pensava no quão feliz poderia ser se, de repente, voltar para a rua não fosse mais uma possibilidade. Por mais incomodado que se sentia, desejava intensamente que aquela noite não acabasse; que ela fosse eterna e ele pudesse permanecer ali, deitado sobre um bom colchão, embrulhado com um edredom de qualidade e sob um teto, sem se preocupar se Kevin sentia frio ou se os capangas de Tales apareceriam. Depois de 4 anos, aquela foi a primeira vez que a noite lhe trouxe um pouco de alegria.

Porém, há alguns dias, Raul vinha enfrentando um verdadeiro problema urinário que tentava ignorar e a verdade é que o quadro vinha piorando. E, deitado ali, ele ficou boa parte do início da madrugada lutando contra a vontade de ir ao banheiro. Primeiro, não queria transitar pela casa quando estavam todos dormindo e, segundo, queria evitar a dor que sempre acompanhava o ato de urinar.

No entanto, não havia remédio. O jeito foi se levantar e sair do quarto na ponta dos pés, indo direto ao mesmo banheiro onde havia se banhado mais cedo, tomando sempre cuidado para não encostar em nada.

Ao alcançar o banheiro, Raul entrou acendendo a luz e, parando diante do vaso sanitário, trancou os olhos enquanto tentava suportar a dor de urinar. Mas a dor, que havia piorado desde o dia anterior, não era muito gentil. Por isso, e para suportá-la, o jovem rapaz precisou levar um dos punhos até a boca, mordendo-o, de maneira a suprimir o gemido de dor que lhe queria escapar. Mas de nada adiantou.

Então, sem que pudesse evitar, Raul soltou um gemido de dor que viajou pela casa, se aproveitando do silêncio da madrugada, até que encontrou os ouvidos de Lorena, que vinha descendo para o seu típico lanche das duas da manhã.

A loira, então, parou no meio da sala e olhou para os lados, com as sobrancelhas erguidas. Mas, julgando ser algo da sua cabeça, ela resolveu ir até a cozinha, porém o mesmo som se fez escutar novamente.

— Mas que...

Caminhou na direção de onde o barulho tinha vindo e, assim que estava prestes a alcançar a lavanderia, passando em frente ao banheiro onde estava Raul, como mais cedo, Lorena se assustou quando percebeu a porta se abrir ao seu lado. E o jovem rapaz, não muito diferente dela, também se assustou.

— Desculpa, eu... — Raul tentou dizer.

— Era você que estava fazendo esse barulho?

Raul corou e passou os dedos entre os seus lisos e finos fios de cabelo, envergonhado.

— Você escutou?

— Mais ou menos — a loira respondeu com um meio sorriso.

— É que eu estou com um pequeno problema.

— Que tipo de problema?

— Eu...

Os olhos de Lorena, que eram de um azul cativante, intimidavam Raul, que sempre tentava evitá-los.

— Eu... Eu acho que... Eu acho que acabei de eliminar uma pedra.

— Uma pedra?

— Sim... E ela não era pequena.

A loira encarou Raul, confusa, e o viu suando.

— Mas, espere aí! Eu não entendi bem ainda. Como assim uma pedra?

— Pedra... Nos rins, sabe?

— Ah! Agora eu entendi. Nossa! Mas... Você está com pedra nos rins?

— Não sabia que estava até expelir uma.

O Malabarista - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora