No dia seguinte, um sábado, Lorena deixou Bernardo e Ícaro na casa de seus pais para que ela pudesse resolver algumas coisas com Raul e Kevin. A loira até pensou em levar seu caçula junto para fazer companhia a Kevin, mas depois descartou a ideia, pois sabia que o loirinho era muito pirracento e ela não queria dificultar as coisas naquela manhã.
Estavam sentados na sala de espera de um cartório, aguardando pelo momento em que seriam atendidos. Ainda naquela manhã, Lorena fez questão de passar pelo shopping com Raul e Kevin, a fim de lhes comprar algumas roupas, de maneira que ficassem bem apresentáveis nos documentos que em breve tirariam.
— Raul, o que estamos esperando? — Kevin perguntou depois de muito observar o ambiente cheio de gente.
— Vamos tirar nossos documentos, amigão — respondeu o jovem rapaz com um pequeno sorriso no rosto.
Lorena, que havia saído rapidamente para ir ao banheiro, retornou para o seu lugar e, sentando-se ao lado de Kevin, olhou para Raul, perguntando:
— Não chegou a sua vez ainda?
— Não, mas já tá quase lá. A minha senha é a 44. E já está na...
Raul olhou na direção do painel que mostrava as senhas e logo percebeu que havia chegado sua vez.
— Ixi! Somos nós, Kevin. Vem!
Ambos se levantaram e seguiram até o lugar indicado para tirarem as fotos, enquanto Lorena, permanecendo sentada no mesmo lugar, sorriu sem desviar o olhar. Então, apanhando seu celular, a loira checou as últimas mensagens, percebendo o recado deixado por sua amiga Cecília:
"Mais tarde, eu vou à sua casa. Ontem, passando pelo shopping, encontrei um macacãozinho tão lindo. Vou levar para você ver."
Ao ler a mensagem, a loira não pôde deixar de sorrir enquanto levava as mãos, inconscientemente, até sua barriga. Completara 4 meses de gestação ainda há pouco e, embora não estivesse tão feliz com a gravidez, sempre quando sua amiga expressava aquele amor ela sentia como se a infelicidade fosse embora por um instante.
Passados alguns minutos, distraída com o celular, Lorena não notou o retorno de Kevin e Raul. Apenas voltou à realidade quando ouviu o jovem rapaz dizer:
— Não pude tirar a foto.
— O quê? Por quê? — Questionou Lorena guardando o celular.
— A barba. Disseram que eu tenho que cortar ou, ao menos, apará-la um pouco. Ela está muito grande.
— Ah... Verdade. Nem me lembrei desse detalhe. Mas o Kevin tirou?
A loira olhou de relance para o pequenino.
— Tirei — ele respondeu sorridente.
— Bom, então... — Lorena se levantou e colocou a bolsa nos ombros. — Vamos fazer assim, a gente vai aqui, em um supermercado, e compra uma gilete e um creme de barbear. Daí, você faz a barba lá no banheiro.
— É... Vamos ter que fazer isso.
— Então vamos lá.
— Vem, Kevin! — Raul chamou pelo irmão que havia se sentado novamente e ele veio praticamente correndo, sempre muito alegre.
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Depois de terem ido e voltado do supermercado, Lorena estava sentada no mesmo lugar da recepção, esperando por Raul, que havia ido ao banheiro. Kevin, que estava curioso com aquela história de barba, foi com o irmão, mas, assim que o moreno tirou os pelos do rosto, o pequenino pôs-se a gargalhar sem motivo aparente. Ele estava na idade do riso e não havia quem o controlasse. Além do mais, para ele, aquilo era uma verdadeira novidade. Nunca havia visto Raul sem barba. Aliás, sim o havia visto, mas já nem se lembrava.
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O Malabarista - Concluído
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...