Lorena tirou a chave do carro da bolsa e quis atravessar o hall do prédio, rumo à saída, a fim de partir para a delegacia. Havia visto o vandalismo que sua própria irmã fez em seu apartamento e julgou não haver mais tempo para perdões. O prejuízo financeiro que teve seria capaz de prejudicar até as melhores relações familiares. Porém, no calor de seus nervos, a loira não reparou que estava demasiadamente furiosa para dirigir. Por sorte, Raul a segurou gentilmente perto da saída e disse:
— Lorena, não é bom que você dirija nesse estado.
— Mas eu preciso ir à delegacia, Raul!
— Eu sei, mas você está muito nervosa. É melhor que você ligue para alguém e peça que te leve até lá.
Qualquer pessoa que conhecesse Lorena minimamente seria capaz de perceber que a loira era colérica. O estresse, a raiva e a ira, por vezes, eram seus maiores inimigos na hora de manter a razão. Mas, mesmo sendo assim, ela ouviu as palavras de Raul. Ele estava certo.
— Vou ligar para a minha mãe, então — disse ela, tirando o celular da bolsa.
— Muito melhor — concordou o jovem rapaz.
Então, ali mesmo no hall, Lorena ligou para Dona Luísa, que não tardou em atender:
"Oi, Lori."
— Mãe, dessa vez, eu mato a Luana. Se ela aparecer na minha frente, eu mato, mãe!
"Calma, Lorena. Mas o que foi que aconteceu?"
— Ela voltou para o apartamento e expulsou o Raul de lá. E, como se já não bastasse, destruiu tudo, mãe. Tudo! Tem noção do tamanho do prejuízo que eu tomei?
O silêncio foi a primeira resposta de Luísa, que, apenas após alguns segundos, perguntou:
"Onde ela está agora?"
— Fugiu, né? Ela não é doida de aparecer na minha frente. Eu não queria, mãe. Eu não queria envolver a polícia nisso, mas agora que se dane! Ela vai me pagar cada centavo.
"Calma, Lorena..."
— Calma?! Como que eu vou ficar calma, mãe? Eu tive um prejuízo de, pelo menos, 15 mil reais! Minha vontade é de estrangular aquela desgraçada da Luana até deixá-la inconsciente. O que ela tem na cabeça?! Merda? Isso tudo aqui foi conquistado com muito trabalho. O problema é dela se ela é uma vagabunda que não consegue economizar nem 10 reais.
"Lorena..."
— Não me peça para ficar calma, mãe. Não me peça! Até porque isso também é culpa de vocês. Da senhora e do meu pai. Sempre quiseram que eu tivesse calma com Luana e olha aí o que eu ganho com essa porcaria de paciência! Eu sempre fiz tudo por aquela desgraçada. Quando aquele namorado imbecil dela quis dá-la uma surra, eu fiz questão de sair no soco com ele. E, no entanto, o que ela fez por mim? Transou com o Victor no meu próprio apartamento e, depois, ainda teve a coragem de jogar na minha cara que ele me trocou por ela porque eu não dei atenção a ele. É claro! Era eu que tinha que fazer tudo. Trabalhar, cuidar dos meus filhos, pagar as contas que ele nunca teve a hombridade de pagar... No meio disso tudo, como é que eu ia ficar dando atenção para macho? Até porque até parecia que ele fazia de tudo para eu amá-lo cada vez menos.
Quando Lorena terminou de falar, estava ofegante, quase fora de si, e sua mãe, do outro lado da linha, escolheu o silêncio mais uma vez por alguns instantes, até que, com voz baixa, disse:
"Vou mandar seu pai aí".
— Vocês estragaram a Luana com toda essa proteção — continuou Lorena sem escutar as palavras da mãe.
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O Malabarista - Concluído
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...