Capítulo 30

8.2K 682 55
                                    

Foi Kevin que viu quando Cícero chegou ao prédio junto com Luís Fernando e Bernardo. Então, do mesmo jeito que Raul já havia lhe ensinado, o garotinho correu para abrir o portão, apertando o botão que o destrancava.

Toda aquela animação de Kevin, em essência, era porque ele esperava encontrar Ícaro para que brincassem juntos, mas murchou os ombros quando não o viu.

— Cadê o Ícaro? — perguntou a Bernardo, que foi o último a entrar.

— Ficou na casa da minha avó — respondeu Bernardo.

Apesar da decepção, Kevin logo se animou novamente, alheio às preocupações dos adultos.

— Lorena, sua mãe me contou por alto o que aconteceu — Cícero disse ao se aproximar.

— Você tem que subir lá para ver, pai. Ela quebrou tudo! — Os nervos, que já haviam se acalmado um pouco, voltaram a se aflorar.

— Mas você não tinha pegado a chave com ela?

— Pois é! Eu tinha. Mas, pelo jeito, a bonitona fez uma cópia sem a minha autorização.

Cícero, que há muito tempo tinha que lidar com aquela situação entre as filhas, coçou os cabelos, sem saber o que dizer ou fazer.

— Ela expulsou o Raul de lá, — continuou Lorena — como se o apartamento fosse dela. Eu já mandei uma mensagem para o meu advogado. Ela vai me pagar dessa vez!

— Lorena... — Cícero tentou opinar, mas foi interrompido pela filha:

— Não me venha defender a Luana, pai. Pelo amor de Deus!

— Eu não ia defender. Eu apenas ia te perguntar se não existe uma maneira melhor de resolver isso.

— A única maneira existente é ela me pagar cada centavo pelas coisas que ela quebrou. Lembra que ela estragou a lavadora e eu relevei? Mas não mais! Agora, eu não quero nem saber, ela vai se virar para me pagar.

— Sua irmã não trabalha, Lorena...

— Esse é o problema, pai! Se ela tivesse um emprego, ela não estaria por aí destruindo a minha vida.

— Isso é verdade, pai! — Luís Fernando interveio, tomando partido da irmã mais velha. — A Lori até colocou ela para trabalhar na clínica, mas ela ficou de má vontade.

— Não apenas isso. Ela quase acabou com a minha clínica, discutindo com os pacientes.

Outra vez, Cícero passou as mãos pelos cabelos e suspirou. De fato, sentia-se no meio de um fogo cruzado. Seu silêncio, porém, foi interpretado como omissão e parcialidade por Lorena, que não conseguiu evitar as palavras:

— A minha mãe e o senhor deveriam parar de passar a mão na cabeça dela...

— A gente não passa a mão na cabeça dela, Lorena — Cícero afirmou com voz firme, um pouco ofendido.

— Ah, não passa, pai? Claro que passa! Luana nunca assumiu as responsabilidades dos atos dela. Agora, tá aí! Uma mulher de 26 anos, vagabunda que...

— Lorena! É da sua irmã que estamos falando.

— Ué, pai? Só porque é minha irmã eu tenho que deixar de dizer a verdade? Se eu não passo a mão na cabeça nem dos meus filhos, eu vou passar na dela? Mas não vou mesmo! Ela é vagabunda, sim. E é bom que vocês parem de fazer as vontades dela, porque, amanhã, pode ser tarde demais.

Dito aquelas palavras, Lorena apenas se virou e apanhou sua bolsa, que estava sobre o sofá. Mas, antes mesmo de dar qualquer passo, ela sentiu que precisava falar algo mais:

O Malabarista - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora