Capítulo 15

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Lorena parou o carro em frente a um prédio alto, debaixo de uma sombra aconchegante, pois o sol estava castigando a cidade de Belo Horizonte.

— Uau! Que prédio alto, Lorena! — Kevin exclamou, encantado, enquanto olhava pela janela.

— É bem alto mesmo, né? — Lorena olhou de relance para Raul. Então, ao saltar do carro, abriu a porta de Kevin e contou-lhe com um sorriso alegre: — Aqui vai ser onde você e o Raul vão morar a partir de agora.

— Sério?!

— Uhum!

Lorena mal pôde esperar por qualquer reação e Kevin se lançou aos seus braços, abraçando-a forte. Raul, vendo aquilo e rodeando o carro, achou necessário conter um pouco a alegria do irmão, que estava apertando a barriga, já um pouco saliente, da loira. Ele ainda se lembrava de tê-la ouvido dizer que estava grávida.

— Cuidado, Kevin. Você está...

Mas o garotinho tampouco deu tempo a Raul. Soltando Lorena repentinamente, Kevin literalmente se lançou aos braços do irmão, que o segurou enquanto ele envolvia sua cintura com suas pernas.

— Nós vamos ter um lugar pra morar, Raul!

Ao ouvir o amiguinho dizendo aquelas palavras, Ícaro, com sua inocência de criança, perguntou:

— Vocês não têm casa?

Kevin negou balançando a cabeça e, depois, respondeu:

— A nossa antiga casa pegou fogo, mas isso já faz muito tempo... Não é, Raul?

Naquele momento, o jovem rapaz não soube ao certo o que sentir. Ele tinha um nó na garganta. Não queria chorar de tristeza, mas também não queria chorar de alegria. O choro preso em sua garganta estava mais para um choro de alívio; um alívio por não precisar ter mais as estrelas do céu como teto.

Então, na confusão de sentimentos, quando Raul ergueu o olhar, enxergou a imagem de Lorena um pouco borrada, eram as lágrimas lhe embaçando a visão. Kevin, por sua vez, notando o semblante pranteador do irmão, perguntou, preocupado:

— Que foi, Raul?

Mas, mesmo que Raul contasse cada detalhe do estranho alívio que sentia no peito, Kevin não seria capaz de entender, ou, pelo menos não por enquanto; precisava crescer um pouco mais para compreender. Mas Lorena, apenas pelo olhar, entendeu, pois ela já havia crescido e aprendido a ler as emoções. E, talvez, tenha sido por isso que seus olhos também arderam, enquanto Raul continuava a derramar lágrimas contra a sua própria vontade.

— Vamos entrar? — perguntou a loira, trancando o carro e passando para o lado de Raul para perguntá-lo: — Tudo bem?

— Tudo — ele murmurou em resposta enquanto tentava controlar as lágrimas.

— Por que você está triste, Raul? — Kevin perguntou.

— Eu não estou triste, amigão — o jovem rapaz respondeu com um tom choroso e puxou o irmão para perto, abraçando-o.

— Então por que você está chorando?

Lorena e Raul se entreolharam, erguendo as sobrancelhas ao mesmo tempo, então, pela primeira vez, a loira viu o jovem rapaz sorrir, ao responder:

— Estou chorando de felicidade.

Mesmo que tenha sido um sorriso choroso e pequeno, ainda assim, a loira se viu um pouco distraída.

Raul não possuía seu canino superior esquerdo mais, mas essa falha não foi capaz de tirar o encanto do seu rosto. Sim, Lorena reparou na falha. Com uma rápida olhada, fez um pré-diagnóstico. Bendita mania de trabalhar mesmo fora do trabalho.

O Malabarista - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora