Capítulo 14

9.6K 759 33
                                    

Cecília caiu sentada sobre a cama de Lorena enquanto a observava colocar os brincos. Ainda há pouco, a loira havia contado à amiga toda a história. Disse que contrataria Raul em sua clínica odontológica para substituir o rapaz da segurança que havia saído; contou que lhe concederia o seu apartamento que estava fechado há um bom tempo e ainda comentou sobre o problema nos rins que ele estava enfrentando.

Ao cabo de vários minutos, Cecília se viu sem palavras.

— Eu acho que estou ficando louca — Lorena confessou com um certo ar de graça.

— Não, amiga. Louca você não está. Mas... Eu só estou tentando montar esse quebra-cabeça na minha mente.

— Eu não te culpo. Quero dizer, eu nunca fui o tipo de pessoa que sai por aí ajudando o próximo. Você que sempre foi assim.

Realmente, entre as duas, Cecília era a mais voltada para a caridade. Lorena, por sua vez, sempre foi um pouco mais indiferente aos problemas do mundo.

— Como é mesmo o nome dele? — Cecília perguntou, imersa em seus pensamentos.

— De quem?

— Do rapaz.

— Raul.

— Raul — Cecília repetiu, pensativa.

— Ele é de Pernambuco. Não tem pai, nem mãe... Acredita que, quando eles foram morar na rua, o Kevin tinha só 3 anos? Não consigo entender como ninguém o ajudou até hoje.

Cecília, saindo dos seus próprios pensamentos com aquelas palavras, sorriu docilmente e afirmou:

— Você o ajudou.

Lorena maneou a cabeça, concordando um pouco, e disse:

— Agora mesmo, eu vou levá-los para conhecer o apartamento. Quer vir?

— Eu iria, mas tenho aula de pilates às três — respondeu Cecília olhando as horas no celular.

— Meu Deus! O pilates. Se você soubesse há quanto tempo eu não faço.

— Falando nisso...

Cecília abriu a bolsa e apanhou o macacãozinho do qual havia falado mais cedo.

— É lindo ou não é?

Lorena apanhou a roupinha e a observou por um instante. Depois, disse, um pouco abatida:

— É lindo, sim.

Então, notando seu abatimento, Cecília se levantou e foi até a loira, apoiando uma mão em seu ombro direito e dizendo em um tom compassivo:

— Var dar tudo certo, Lori.

— Eu espero que sim. Mas é que, às vezes, eu só fico meio... Você sabe. Eu não queria ter mais filhos e muito menos com o Victor. E o cara de pau ainda teve a coragem de dizer que o filho não é dele. Como não é dele?

Ao ver que estava se alterando um pouco, Lorena conteve os ânimos e respirou fundo. Ela sabia que não valeria a pena se estressar por causa daquilo.

— Ele voltou a aparecer aqui? — Cecília perguntou, preocupada.

— Não. Mas é que, toda vez que eu lembro das merdas que ele fez e falou comigo, eu fico...

Outra vez, a loira se deteve e engoliu o palavrão que quis falar.

TRÊS MESES ANTES

Lorena estava sentada sobre sua cama, dividindo a atenção entre a TV e o MacBook em seu colo quando, sem a menor delicadeza, Victor abriu a porta e entrou, fazendo um cheiro forte de bebida invadir o quarto junto com ele.

O Malabarista - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora