Cecília caiu sentada sobre a cama de Lorena enquanto a observava colocar os brincos. Ainda há pouco, a loira havia contado à amiga toda a história. Disse que contrataria Raul em sua clínica odontológica para substituir o rapaz da segurança que havia saído; contou que lhe concederia o seu apartamento que estava fechado há um bom tempo e ainda comentou sobre o problema nos rins que ele estava enfrentando.
Ao cabo de vários minutos, Cecília se viu sem palavras.
— Eu acho que estou ficando louca — Lorena confessou com um certo ar de graça.
— Não, amiga. Louca você não está. Mas... Eu só estou tentando montar esse quebra-cabeça na minha mente.
— Eu não te culpo. Quero dizer, eu nunca fui o tipo de pessoa que sai por aí ajudando o próximo. Você que sempre foi assim.
Realmente, entre as duas, Cecília era a mais voltada para a caridade. Lorena, por sua vez, sempre foi um pouco mais indiferente aos problemas do mundo.
— Como é mesmo o nome dele? — Cecília perguntou, imersa em seus pensamentos.
— De quem?
— Do rapaz.
— Raul.
— Raul — Cecília repetiu, pensativa.
— Ele é de Pernambuco. Não tem pai, nem mãe... Acredita que, quando eles foram morar na rua, o Kevin tinha só 3 anos? Não consigo entender como ninguém o ajudou até hoje.
Cecília, saindo dos seus próprios pensamentos com aquelas palavras, sorriu docilmente e afirmou:
— Você o ajudou.
Lorena maneou a cabeça, concordando um pouco, e disse:
— Agora mesmo, eu vou levá-los para conhecer o apartamento. Quer vir?
— Eu iria, mas tenho aula de pilates às três — respondeu Cecília olhando as horas no celular.
— Meu Deus! O pilates. Se você soubesse há quanto tempo eu não faço.
— Falando nisso...
Cecília abriu a bolsa e apanhou o macacãozinho do qual havia falado mais cedo.
— É lindo ou não é?
Lorena apanhou a roupinha e a observou por um instante. Depois, disse, um pouco abatida:
— É lindo, sim.
Então, notando seu abatimento, Cecília se levantou e foi até a loira, apoiando uma mão em seu ombro direito e dizendo em um tom compassivo:
— Var dar tudo certo, Lori.
— Eu espero que sim. Mas é que, às vezes, eu só fico meio... Você sabe. Eu não queria ter mais filhos e muito menos com o Victor. E o cara de pau ainda teve a coragem de dizer que o filho não é dele. Como não é dele?
Ao ver que estava se alterando um pouco, Lorena conteve os ânimos e respirou fundo. Ela sabia que não valeria a pena se estressar por causa daquilo.
— Ele voltou a aparecer aqui? — Cecília perguntou, preocupada.
— Não. Mas é que, toda vez que eu lembro das merdas que ele fez e falou comigo, eu fico...
Outra vez, a loira se deteve e engoliu o palavrão que quis falar.
TRÊS MESES ANTES
Lorena estava sentada sobre sua cama, dividindo a atenção entre a TV e o MacBook em seu colo quando, sem a menor delicadeza, Victor abriu a porta e entrou, fazendo um cheiro forte de bebida invadir o quarto junto com ele.
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O Malabarista - Concluído
EspiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...