ALGUNS DIAS DEPOIS
Bernardo entrou na cozinha como quem quer dizer alguma coisa, mas não sabe como. Ficou um tempo atrás da bancada, observando Lorena preparar um salmão grelhado. A loira não o havia visto ali, pois estava suficientemente distraída com a música que tocava em seu celular. Por isso, ao se virar e ver o filho, ela se assustou levemente, levando uma mão ao peito e dizendo:
— Credo, Bernardo! Que susto!
O garoto riu baixo, mas logo interrompeu o riso, deixando que um semblante sério tomasse conta do seu rosto.
— Mãe.
— Fala.
— Posso te perguntar uma coisa?
Lorena parou o que estava fazendo e jogou um olhar desconfiado para o filho, tendo um sorriso torto e pequeno nos lábios.
— O que é que foi, Bernardo? — Ela perguntou, brincalhona.
— Você deixa eu fazer uma tatuagem?
Lorena riu, voltando sua atenção para o salmão e respondendo:
— A resposta, você já sabe qual é.
— Por favor, mãe. O Jonathan e o Miguel vão fazer.
Bernardo, que já esperava aquela resposta, apoiou os cotovelos na bancada e suspirou alto. De maneira que Lorena o escutou e se virou, perguntando:
— Você não acha que é muito novo para isso, não?
— A vó disse que você fez a sua primeira aos 15 anos também. E ela deixou.
— Minha mãe e eu somos duas pessoas diferentes, Bernardo. Eu não vou deixar e nem adianta insistir.
— É só uma no antebraço, mãe.
Lorena foi até a sala de jantar, onde apanhou uma garrafa de vinho, e depois retornou para a cozinha, sempre com Bernardo a seguindo.
— Eu prometo que não te peço mais nada — o garoto insistiu.
— Você falou a mesma coisa quando eu te deixei furar a orelha — a loira contra argumentou e, virando-se na porta da cozinha, segurou o rosto do filho. — Aliás, deixa eu ver uma coisa aqui. Cadê aquele brinco que você infernizou a minha vida para comprar?
— Tá guardado. Eu enjoei dele — Bernardo respondeu se desviando das mãos da loira.
— E quando enjoar da tatuagem, vai arrancar o braço?
— Eu não vou me enjoar dela. Por favor, mãe!
Lorena colocou um pouco do vinho em uma taça e, virando-se para o filho, escorou-se na pia para responder:
— Quando você fizer 16 anos, eu deixo.
— Qual é, mãe?
— Bernardo, ou é isso ou é nada.
O garoto deixou o semblante cair, mas, por fim, se contentou. Afinal, sabia que não conseguiria mais do que aquilo.
— Combinado? — Lorena perguntou.
— Combinado...
— Agora, vem cá, me dá um abraço.
Bernardo, mesmo contrariado, foi até a loira e a abraçou, ouvindo-a dizer logo em seguida:
— Você sabe que eu sinto o maior prazer em te dar as coisas, filho. Mas tudo tem o tempo certo, tá?
— Tá bom, mãe.
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O Malabarista - Concluído
EspiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...