Capítulo 46

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ALGUNS DIAS DEPOIS

Bernardo entrou na cozinha como quem quer dizer alguma coisa, mas não sabe como. Ficou um tempo atrás da bancada, observando Lorena preparar um salmão grelhado. A loira não o havia visto ali, pois estava suficientemente distraída com a música que tocava em seu celular. Por isso, ao se virar e ver o filho, ela se assustou levemente, levando uma mão ao peito e dizendo:

— Credo, Bernardo! Que susto!

O garoto riu baixo, mas logo interrompeu o riso, deixando que um semblante sério tomasse conta do seu rosto.

— Mãe.

— Fala.

— Posso te perguntar uma coisa?

Lorena parou o que estava fazendo e jogou um olhar desconfiado para o filho, tendo um sorriso torto e pequeno nos lábios.

— O que é que foi, Bernardo? — Ela perguntou, brincalhona.

— Você deixa eu fazer uma tatuagem?

Lorena riu, voltando sua atenção para o salmão e respondendo:

— A resposta, você já sabe qual é.

— Por favor, mãe. O Jonathan e o Miguel vão fazer.

Bernardo, que já esperava aquela resposta, apoiou os cotovelos na bancada e suspirou alto. De maneira que Lorena o escutou e se virou, perguntando:

— Você não acha que é muito novo para isso, não?

— A vó disse que você fez a sua primeira aos 15 anos também. E ela deixou.

— Minha mãe e eu somos duas pessoas diferentes, Bernardo. Eu não vou deixar e nem adianta insistir.

— É só uma no antebraço, mãe.

Lorena foi até a sala de jantar, onde apanhou uma garrafa de vinho, e depois retornou para a cozinha, sempre com Bernardo a seguindo.

— Eu prometo que não te peço mais nada — o garoto insistiu.

— Você falou a mesma coisa quando eu te deixei furar a orelha — a loira contra argumentou e, virando-se na porta da cozinha, segurou o rosto do filho. — Aliás, deixa eu ver uma coisa aqui. Cadê aquele brinco que você infernizou a minha vida para comprar?

— Tá guardado. Eu enjoei dele — Bernardo respondeu se desviando das mãos da loira.

— E quando enjoar da tatuagem, vai arrancar o braço?

— Eu não vou me enjoar dela. Por favor, mãe!

Lorena colocou um pouco do vinho em uma taça e, virando-se para o filho, escorou-se na pia para responder:

— Quando você fizer 16 anos, eu deixo.

— Qual é, mãe?

— Bernardo, ou é isso ou é nada.

O garoto deixou o semblante cair, mas, por fim, se contentou. Afinal, sabia que não conseguiria mais do que aquilo.

— Combinado? — Lorena perguntou.

— Combinado...

— Agora, vem cá, me dá um abraço.

Bernardo, mesmo contrariado, foi até a loira e a abraçou, ouvindo-a dizer logo em seguida:

— Você sabe que eu sinto o maior prazer em te dar as coisas, filho. Mas tudo tem o tempo certo, tá?

— Tá bom, mãe.

O Malabarista - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora