Capítulo 24

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Raul não entendeu quando viu Lorena se levantar e segurar na mão de Kevin, a fim de atravessar a rua com ele. Mas, mais confuso ainda, ele ficou quando notou a vermelhidão no rosto da loira, sinalizando que ela fazia um grande esforço para conter o turbilhão de emoções que tinha por dentro.

— Olá, Raul. Tudo bem?

Mesmo que Lorena tivesse se concentrado mais, sua voz não poderia ter soado mais firme.

— Tudo bem, graças a Deus — o jovem rapaz respondeu ternamente.

Lorena estava em pé em frente à mesa, ainda segurando a mão de Kevin, que a olhava, entristecido. Qual era o motivo de suas lágrimas? — o garotinho se perguntava. Quanto à Raul, ele também estava intrigado com o semblante choroso da loira, mas não se sentia tão à vontade para perguntá-la o motivo. Ele ainda se sentia demasiadamente tímido em sua presença.

Porém, algo incomodou o jovem rapaz por dentro, então, vencendo o acanhamento, ele perguntou:

— Está tudo bem com você?

— Eu... — Lorena começou a responder, mas parou. Olhou para Kevin e sorriu, tentando completar: — Eu estou bem, sim. Eu só...

— Você está chorando de tristeza ou de alegria, tia?

Lorena riu daquela pergunta de Kevin, o que foi sua condenação, pois, entre o riso e o sorriso, o choro se manifestou intensamente, então ela não soube o que dizer. Em uma tentativa desesperada de conter as lágrimas, a loira soltou a mão do garotinho e limpou o rosto, enquanto se desculpava:

— Desculpa. É tanta coisa que eu...

— Tudo bem. Sente-se aqui — disse Raul, se levantando e cedendo sua cadeira para a loira.

— Não precisa, Raul. Eu estou bem...

— Você está tremendo.

Lorena olhou para suas próprias mãos e constatou que, de fato, estava trêmula.

— Eu sou assim mesmo, mas obrigada pela preocupação mesmo assim — disse ela, escondendo as feridas atrás do pequeno sorriso que abriu.

Raul, sem entender, coçou os cabelos e decidiu:

— Vou comprar uma água para você.

— Não precisa...Raul!

Chamá-lo foi em vão, pois ele, sem dar tempo à Lorena, já havia ido até o food truck.

— Senta aqui, tia — Kevin puxou a mesma cadeira onde estava Raul.

Desta vez, a loira não teve como resistir e se sentou.

— Chora não, tia. O Raul já tá vindo com a água.

Com seu jeito meigo, Kevin acariciou os cabelos de Lorena da mesma forma que Raul fazia quando ele ficava cabisbaixo ou chorava.

— Você tá com fome, tia? Porque eu chorava quando eu ficava com fome.

Lorena riu de toda aquela gentileza e abraçou o garotinho, que estava em pé ao seu lado, dando-lhe um beijo no rosto e dizendo:

— Não se preocupe, meu amor. Está tudo bem comigo, tá bom?

Kevin assentiu, ainda preocupado. Então, no mesmo instante, Raul retornou com a garrafa d'água e entregou-a à Lorena.

— Obrigada, Raul. Mas não precisava.

— Ontem por mim, hoje por você — disse o jovem rapaz com um sorriso pequeno e torto.

Lorena sustentou seu olhar sobre Raul por alguns instantes, até que ele mesmo se encarregou de desviar o olhar. Então a loira sorriu e bebeu um pouco de água.

O Malabarista - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora