Tem alguém vindo (ShikaNeji)

0.1 - "Você é como eu"

Se assustou com o alvoroço que estava acontecendo do lado de fora. Gritaria, conversas, passos apressados e uma voz masculina que reconheceria em qualquer lugar. Abriu a porta do quarto que dava para o corredor de sua casa e, quase que no mesmo instante, duas criadas passavam apressadas e cochichando entre si.

Olhou pelo corredor escuro e vazio à procura de algo. O único som vinha do lado de fora. Caminhou a passos largos mesmo que estivesse com pressa jamais corria já que seu clã tinha regras rígidas a respeito de comportamento e ações.

Boa parte dos- se não todos- membros do clã Hyuuga estavam reunidos no pátio central olhando para o que ocorria. Mesmo na ponta dos pés e esticando o pescoço não conseguia ver o motivo daquela confusão então, como queria ver por si só, voltou para seu quarto e subiu no telhado da casa passando pela janela.

Se moveu com cautela para não fazer barulho mesmo não sendo necessário visto que as vozes abafavam os ruídos. Ao ver o que ocorria no centro de toda aquela confusão desejou ter ficado quieto no quarto fingindo que nada estava acontecendo.

Um garoto do clã com a idade próxima a sua estava ajoelhado no chão, com o rosto machucado e molhado por lágrimas e com os cabelos sendo puxados por seu tio; Hiashi não estava apenas punindo o jovem, também o estava humilhando diante de todos.

Olhava apavorado para aquela cena, o que teria resultado naquela situação? Os burburinhos cessaram quando o líder do clã ergueu a mão, indicando que se pronunciará.

- Este jovem trouxe desonra e vergonha para o clã Hyuuga!- o puxou pelos cabelos o obrigando a ficar de pé para todos verem seu rosto- Esta noite ele foi flagrado se relacionando com um homem de outro clã.

Todos presentes arregalaram os olhos e taparam ou abriram a boca em espanto. Os cochichos voltaram.

Neji assistia tudo em silêncio, evitava até respirar e tinha certeza que se ficassem em silêncio os outros membros poderiam ouvir as batidas de seu coração. Se enxergava perfeitamente no local daquele garoto, espancado e sendo humilhado por algo que sequer tiveram escolha.

Novamente Hiashi ergueu a mão para ordenar por silêncio.

- Ele será julgado pelo conselho dos Hyuuga pela manhã, assim que o sol raiar iniciaremos e decidiremos a melhor punição para ele. Agora- soltou o jovem empurrando-o e o fazendo cair no chão- voltem para suas casas que daremos um jeito nessa vergonha.

Todos voltaram às suas residências, deixando o jovem quase inconsciente caído no chão para trás. Ninguém o ajudaria e sabia disso. Tinha em mente que seria expulso do clã e que não teria assistência nem de seus pais, então apenas olhava para cima. Estava vendo o céu e se esforçando para não desmaiar ali, até um rosto aparecer tampando sua visão da lua e, pela marca em sua testa, pode saber que ele é da família secundária.

- O que...

- Não se esforce- ordenou enquanto passava o braço do garoto caído por cima do seu ombro e seu próprio braço por debaixo dos joelhos dele para o erguer. Era mais leve do que imaginava. O garoto gemeu de dor ao ser levantado- Faça silêncio. Vamos passar perto do quarto do líder.

Passou andando na ponta dos pés para não fazer barulho e, consequentemente, chamar atenção. Foram para um pequeno galpão onde os materiais de jardinagem ficavam guardados, o deixou sentado escorado na parede ao fundo, voltou para fechar a porta e tirou a bolsa de pano que levou consigo antes de se abaixar em frente a ele.

- Por favor, tente se manter acordado. Vou limpar seus ferimentos, passar uma pomada e fazer uns curativos em você- começou a limpar o corte na testa com antisséptico.

- Arg... Por que tá fazendo isso?... Aí!

- Para de se mexer. Se não, vou te machucar.

- Tudo bem, mas-

- Não fale também- fez um curativo no ferimento já limpo e passou pomada pelos hematomas que viu- Pronto. Isso deve dar até você ver um médico ou só melhorar.

- Ah, obrigado... Mas porque me ajudou?

- Não importa. Agora espere aqui até eu voltar.

Saiu sem dizer mais nenhuma palavra e trancando a porta por fora para garantir que ninguém entraria no local enquanto não estivesse alí. De maneira sorrateira pegou uma garrafa d'água, bolinhos de arroz do jantar e uma parte do dinheiro que tinha guardado.

Quando a porta se abriu levou um susto, mas se tranquilizou ao reconhecer o rosto. Neji lhe entregou a comida e a água e voltou para trancar a porta.

- Os bolinhos podem estar frios por serem do jantar, mas foi o que encontrei- voltou e se sentou de frente para ele- aliás, como se chama?

- Estão ótimos. Muito obrigado pela comida! Sou o Akira.

- Muito bem, Akira, vou te ajudar a sair daqui assim que acabar de comer.

- Sair daqui... Sair do clã?

- Sim. Ou quer ficar e esperar até amanhã? Eles não vão só te deserdar, com certeza será mais humilhado e espancado ainda, na melhor das hipóteses. Essa é sua última chance de sair daqui antes de decidirem te apedrejar.

Terminou de comer em silêncio, até se decidir. Não foi difícil escolher. Seguiu Neji que o guiou por uma passagem escondida entre duas casas. O beco era estreito, os obrigando a andar de lado para passar por ele.

- Você era a pessoa que estava em cima do telhado?

- Então você me viu. Não esperava por isso.

- É, foi quando ele puxou meu cabelo. Acho que sei porque tá me ajudando- Neji permaneceu em silêncio- Você é como eu- acabou batendo no outro que parou bruscamente- O que-

- Chegamos. É só passar por aqui- já do lado de fora, entregou a bolsa de pano para ele- continue cuidando dos seus machucados e aqui tem um pouco de dinheiro, não é muito, mas vai te ajudar.

- Eu não posso aceitar isso, de verdade. Já me ajudou demais.

- E o que vai fazer sem dinheiro? Pedir ajuda do seu namorado ou sentar em um beco escuro e esperar que um milagre aconteça?

- Mas eu não posso aceitar isso.

- Não está em posição de negar isso- ao ver que Akira continuava relutante suspirou pesado- Tem razão,eu sou como você. Também estou apaixonado por um homem de outro clã, mas... diferente de mim, você estará livre para amá-lo. Por favor, me deixe te ajudar!

- Tudo bem, mas se precisar de algo apenas me chame...

- Neji.

- Me chame, Neji. Vou te agradecer de maneira mais apropriada quando puder- se curvou- mas, por agora, aceite minhas simples palavras de gratidão.

Se despediram e Akira sumiu da visão de Neji e ele voltou para seu quarto. O que fez foi perigoso, se alguém descobrir que o ajudou estaria com grandes problemas.

- Não adianta pensar sobre isso agora que já tá feito- resmungou para si mesmo antes de se deitar.

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Obrigado por ler!

Espero que tenha gostado.
O próximo capítulo sai o mais rápido possível.

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