Quando o amor é mais forte...

Capitulo 63 - Você me tem fácil demais...

"Você me tem fácil demais
E não parece capaz
De cuidar do que possui
Você sorriu e me propôs
Que eu te deixasse em paz
Me disse vai, eu não fui

Não faça assim
Não faça nada por mim
Não vá pensando que eu sou seu"

Nada Por Mim
Kid Abelha

SANEM
Eu precisava me afastar da convivência diária com Can, saber menos sobre a rotina dele e da vida dele! Eu já não fui na última consulta médica, precisava deixá-lo mais solto...
Talvez, eu estivesse sendo injusta, afastando ele da convivência diária com as crianças, mas eu precisava me preservar... Ele poderá vir vê-los sempre que quiser, sendo que eu não preciso estar presente.
Num primeiro momento, a melhor solução foi voltar para a casa dos meus pais... Pareceu cômodo e prático, por causa das crianças. Mas, eu preciso pensar um pouco, me reorganizar, pois não pretendo ficar morando com eles! Eu adoro morar na fazenda, mas com Can lá, terei de pensar em outra opção!

Quando cheguei no jardim, Emre e Leyla estavam tomando café da manhã com papai.... Ele ficou radiante  ao constatar, que eu havia voltado para casa e foi ver os netos...
Emre me questionou, sobre o que estava acontecendo e eu expliquei.
E: Mas você pretende sair da  agência? - eu assenti.
S: Por enquanto, eu ficarei ausente, até organizar minha vida...
E: Mas você investiu muito dinheiro e...
S: Como acionista, eu posso ter participação nos lucros, sem ter que trabalhar lá! Eu sou escritora, pedi adiantamento pelo livro, que eu preciso escrever...- ele assentiu com desolação e olhou para Leyla preocupado. - Esses dias vou ficar com o papai no armazém, para refrescar a mente.

CAN
No dia seguinte, quando vi a casa de Sanem toda fechada e ela não apareceu para irmos para a agência, como fazíamos todas as manhãs, senti o coração apertado... Talvez, ela tenha ido mais cedo... Mas, porque com as crianças e sem me avisar?
Tentei ligar para ela, algumas vezes no caminho até a agência, sem sucesso. Chegando lá, também não a encontrei. Fiquei preocupado... "O que está acontecendo, Sanem?"
Fui para a minha sala, Deren veio discutir sobre a filmagem e os próximos passos, mas eu estava com a cabeça em Sanem e não escutei uma palavra... 
Emre chegou com Leyla e pediu para conversar a sós comigo...
E: Can, Sanem voltou para a casa dos pais, com as crianças e não pretende voltar para agência tão cedo... Deixou tudo para trás... - eu assenti.
C: Talvez ela esteja precisando de férias! - disse evasivo...
E: Can, ela foi clara! Ela não pretende voltar para a agência, nem para a fazenda... - fiquei estático...
C: Ela é uma das maiores acionistas... ela adora a fazenda, tem uma vida organizada... - suspirei - Como vou ficar longe das crianças?
E: As crianças estão com meus sogros e ela disse, que ficaria uns dias ajudando o pai... - ele saiu e meu coração ficou, ainda mais apertado...

Fizemos uma reunião com Ayiça, mostramos o vídeo editado e ela gostou... Ela queria continuar discutindo algumas coisas, que dispensavam a minha presença e eu disse que precisava sair! Fui até a sala de Emre e escutei quando ela perguntou sobre Sanem, para Derem.
D: Está tudo certo, ela apenas não participará dessa fase... Você sabe? Ela tem as crianças e está escrevendo o 2º livro.
A: Assim espero... não quero que ocorreram interferências na campanha.
D: Fique tranquila... - Como Emre não estava, eu saí...

Cheguei no bairro e vi Sanem na mercearia do pai... entrei, respirei fundo e a encarei...
C: Você poderia ter se despedido, ou avisado que estava indo... - ela desviou os olhos e fez uma careta... ela estava visivelmente abatida, muito diferente da mulher, que veio trazer o chá, ontem à noite.
S: Sim, talvez eu deveria ter te avisado pelas crianças, mas por mim... - deu um sorriso torto.- ...como você não gosta, e não se interessa por mim, achei desnecessário... - ironizou.
C: Eu não me lembro. - soletrei... - E porque abandonou a agência?
S: Eu estou bem aqui, essa sou eu! - olhando ao redor.
C: Essa era você, não é mais! - ela baixou os olhos, depois continuou...
S: E você era o homem que me amava, que iria morar comigo, viajar pelo mundo, não é mais... - com pesar.
C: Eu mudei tanto assim? - nem eu sei mais...
S: Não! Acho que você é o que sempre foi, antes de me conhecer... Então, me permita ser quem eu sempre fui, antes de você! - mordeu os lábios. Eu assenti... - Vai ser melhor assim! Começaremos uma vida nova, cada um na sua...
C: Sim, porque você sofreu mais com esse acidente! - disse amargo.
S: Não se sinta culpado, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas não deu certo... - deu de ombros. - Melhor cada um seguir seu caminho...
Eu saí de lá destruído, com um aperto no peito, como se tivessem arrancado algo de mim, entrei no carro e fui... no percurso, várias cenas passaram pela minha cabeça! Eu já não sabia distinguir lembranças, de imagens construídas, pelo o que eu li no livro... Mas, eu tinha uma certeza: eu não queria ficar longe dela, era como se faltasse algo, um pedaço...

Saindo de lá, fui a uma reunião na WomanArt, com Ayiça e Furkan, onde encontrei Emre, Leyla e Deren. No final, todos gostaram e me parabenizaram pela apresentação. Ayiça continuou com suas investidas e eu a rejeitando sutilmente, colocando limites na sua invasão e me mostrando arredio aos seus toques...
A: Soube que você está com problemas na sua vida pessoal. - Eu a olhei desconfiado, escutando... - Se quiser adiaremos a escalada?
C: Não se preocupe, podem ir sem mim! - quando me virei para sair, ela segurou meu braço. Eu a encarei com um olhar frio...
A: Você é fechado, como eu, prefere resolver tudo sozinho. Mas, se precisar de ombro amigo...
C: Não se preocupe... - soltei o braço e fui...

Sai dali e procurei um lugar na orla... Eu precisava pensar, mas Sanem dominava todos os meus pensamentos, fiquei revirando as fotos do meu celular, tantas das crianças e de Sanem, há quase 2 anos atrás... nós parecíamos tão felizes e apaixonados...

Após o jantar, sentei no jardim e fiquei ali com o olhar perdido... Mihriban sentou-se ao meu lado e conversamos.
C: Que ironia, até ontem estávamos aqui, com várias pessoas ao redor e agora só sobramos nós! - analisei. - E papai?
M: Foi resolver algo em Istambul...
C: Há alguns dias, você e Sanem fizeram a festa das meninas, aqui... - ela sorriu reflexiva.
M: Can, será que não havia nada, que você pudesse fazer, para ela não ir?!
C: Eu não sei... eu fui até o bairro, para pedir, que ela voltasse, que eu sinto que a amo... Mas, não deu certo! O fato de eu não lembrar, está pesando muito para ela e, eu não sei se poderei recuperar a memória... Talvez eu não esteja pronto... - ela me interrompeu.
M: E você está pronto para perder Sanem?! - eu sorri amargamente.
C: Você faz perguntas difíceis...- "Eu não estou pronto para ficar longe dos meus filhos e, muito menos longe dela... sim, eu estou acostumado a estar com ela e às crianças, e no primeiro dia, já me ressenti..."