Capitulo 6 - Constatações...

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LEYLA
Quando Sanem saiu da clínica, eu e Emre queríamos ir busca-la, mas ela preferiu ir com Mihriban direto para fazenda. Ela queria conhecer o lugar, ver o que precisava, para não ter que ficar vindo para Istambul várias vezes. Só depois de uns dias, ela passou em casa, pegou algumas coisas e levou para a fazenda, sob os protestos de nossos pais.

S: Mamãe, por favor compreenda, será melhor para mim deixar de frequentar alguns lugares, ou viver aqui em casa, onde eu tenho muitas recordações dele... e o médico recomendou, que eu fosse para um lugar onde haja ar puro, maior contato com a natureza... - implorou.

Nihat: Meu pássaro ferido, tem certeza que não quer ficar mais perto do nosso colo? - disse papai abraçando-a.

Mevkibe: Filha, eu queria cuidar de você! Você precisa se alimentar melhor, está tão magra...- mais condescendente, enquanto Sanem se dirigia ao seu quarto, para pegar suas coisas.

Mihriban: Fique tranquila, eu cuidarei dela como se fosse minha filha. Será saudável para ela, sair da cidade e ter uma vida mais tranquila. - disse baixinho para Mevkibe, sem que Sanem ouvisse. Mamãe concordou, suspirando, olhando para papai.

Leyla: Mamãe, nós precisamos apoiá-la, para que ela supere isso... Depois, não é tão longe assim, podemos visita-la. Tudo bem? - eu disse envolvendo-a em meus braços e dando um beijo em sua bochecha. Ela assentiu resignada.
Sanem se despediu de nós e saiu de cabeça erguida, apesar da visível tristeza nos olhos.
A fazenda não era tão distante, já que ficava nos arredores de Istambul, mas na correria do dia a dia, não íamos lá com frequência. No entanto, nos falávamos uma ou duas vezes ao dia, por video chamada.

Sanem amadureceu muito, terminou seu livro, que logo tornou-se um sucesso de vendas. No lançamento, cerca de 4 meses após a partida de Can, teve um coquetel em uma livraria, próxima à agência em Istambul. Nossos pais estavam visivelmente orgulhosos, assim como eu e Emre.
Olhando para minha irmã, ainda a achava bastante abatida, mas o que mais chamava atenção, era seu novo estilo de se vestir.
Ela passou a usar uns vestidos e roupas mais soltas e com tecidos de algodão, ou mais naturais... parecendo uma hippie. Seus cabelos estavam bem longos e ondulados, por secarem naturalmente. Emre chamou minha atenção, pois achou Sanem mais gordinha... 🙏🏻🙏🏻🙏🏻

Quase um mês após o lançamento, eu e Emre decidimos fazer-lhe uma visita surpresa, num domingo a tarde... Chegando lá, ela estava cochilando no sofá da sala e, só então, eu percebi a barriga de quase oito meses de gestação... 😳
Fiquei atônita, sem fala... Eu e Emre nos entreolhamos de boca aberta, voltamos os olhos para Sanem, que abriu os olhos e sentou-se assustada. Meu coração parecia que iria saltar pela boca, eu não sabia se ria ou chorava, se ficava feliz ou preocupada, se brigava com ela ou a abraçava...
Eu olhei em seus olhos e, simplesmente a tomei em meus braços, enquanto as lágrimas corriam pelo meu rosto sem freio.
Emre se aproximou envolvendo nós duas em seus braços, visivelmente emocionado, sem conseguir dizer uma palavra...
Ah, Sanem. Ah!

Quando nos recuperamos e nos olhamos nos olhos, ela disse:
S: Vocês serão titios...-com a voz fraca e embargada...

L: Por que você não disse antes? - disse com cuidado, sem pressiona-la.

Ela desviou os olhos de mim e encarou Emre.
S: Eu demorei para perceber! O resultado do primeiro exame deu um falso negativo e o médico achou, que eu estava atrasada por conta do estresse... Eu só tive certeza entre o quarto e o quinto mês, quando a barriga começou a crescer e fiz novo exame. Como eu estava muito magra e engordei pouco, demorei para notar...-ela respirou fundo - Emre, eu adiei ao máximo, porque eu não quero que o Can saiba... Eu não quero, que ele volte porque vai ser pai, ou por obrigação. Por favor?! - Emre respirou fundo, travou a mandíbula, baixou os olhos e assentiu.

Emre: Sanem, eu não falo com ele há meses, o que tem me preocupado... Mas, se você quer assim... - suspirou encarando-a com o olhar triste, desviando os olhos, para os meus em seguida.

S: Sim, eu quero assim... por favor?! - ela pegou as mãos dele e procurando seus olhos, continuou.- Não diga aos seus pais também. Eu sei que uma hora não vai dar mais para esconder, mas por enquanto, prefiro assim... - depois voltando-se para mim - Leyla, por favor não diga nada aos nossos pais?! - eu assenti. - Além do pessoal aqui da fazenda, apenas Muzo e Ceycey sabem, porque vivem por aqui. Eles tem sido excelentes companhias e estão muito babados e cheios de cuidados comigo... Ayhan e Osman também sabem... Yigit nem sonha e eu o tenho evitado, desde o lançamento do livro.

L: Você é quem sabe. Está ciente, de que não conseguiremos esconder do papai e da mamãe, por muito tempo, né? Eles estão com saudades de você. Mas, como você pretende fazer tudo sozinha?

S: Eu não preciso de muito dinheiro, para viver aqui na fazenda, tenho algumas economias e, com o sucesso do livro, a editora encomendou um segundo livro, enviando um adiantamento, para que eu possa fazer dedicação exclusiva e terminar o mais breve possível. Então, estou tranquila. Minha maior preocupação é com a saúde dos nossos pais, que ficarão muito decepcionados comigo. Eu adiei ao máximo, até para que eles não se preocupassem com a questão financeira.

Eu a abracei forte novamente e brinquei, para descontrair.
L: Onde está a minha irmãzinha sonhadora e despreocupada? Você invadiu o corpo dela? - ela me olhou e esboçou um sorriso amargo.

S: Ela está aqui, em algum lugar... mas, as atuais circunstâncias estão ocultando-a... - acariciando a barriga, com um sorriso meio bobo.

E: Sanem? Eu quero que você saiba, que sempre estaremos aqui para você. - encarando-a com os olhos marejados e apertando minha mão.

Ela assentiu com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso fraco. Depois respirou fundo e estendeu as mãos para que segurássemos.

S: Quem quer bolo de laranja? Vamos fazer um lanche? Eu fiz penderli (torta de massa folhada com queijo meia cura). - ela levantou sorrindo, se dirigindo a cozinha.

Lanchamos com ela, que por sinal tinha cozinhado umas coisinhas deliciosas, ficamos por ali jogando conversa fora, curtindo e acariciando a barriga dela.

No caminho de volta para casa, passamos boa parte em silêncio, até que Emre se pronunciou.
E: Preferida? O que fazemos com esses dois, hein?!- suspirando.

L: Estou passada...- respiro fundo- A princípio, eu preferia que ele não voltasse mais, ou se acaso o fizesse, que ficasse bem longe dela. Mas agora... Acho tão difícil criar um filho sozinha e ser mãe solteira na nossa sociedade, especialmente no nosso país! - olhando para ele e estudando seu perfil, enquanto ele dirigia. - Imagina quando meus pais souberem?!

E: Ela está sendo muito corajosa. Depois de tudo, não sei como está dando conta de lidar com tudo isso sozinha. - enfatiza. - Fiquei tentado de ligar para o Can... sempre achei que um poderia curar o outro, mas vou respeitar o desejo dela, ao menos por enquanto... - refletiu.

L: Vamos esperar um pouco, ver como as coisas se desenrolam, depois vemos como proceder. O que você acha? - ele concordou.

E: O choque foi tanto, que nem perguntamos o sexo do bebê e quando nasce... Can ficaria todo bobo, ainda mais sendo filho de Sanem.

L: Sim, ele sempre foi muito apaixonado por Sanem, mas muito passional, explosivo... será que ele a amava, ou foi só uma paixão? Para ficar tanto tempo longe... - digo suspirando.

E: O Can que eu conheço, nunca tinha se envolvido ou se apaixonado por nenhuma mulher antes, como foi com Sanem... Mas, como ele sempre foi muito fechado e carente, acho que não soube lidar com a avalanche de sentimentos, que o invadiu... Ele nunca perdoou a mamãe, por ter ido embora deixando ele com papai... Meu pai não soube lidar com ele e, no princípio, ele ficava muito sozinho em casa, depois no internato. Atualmente, ele e papai tem uma relação linda, são cúmplices, mesmo com toda distância, por conta das viagens de Can! Chego a ficar enciumado as vezes... Eu até posso compreender, afinal conviveram mais tempo, assim com eu lido melhor com a mamãe, ela não é nada fácil... - refletiu.

L: Não precisa me dizer, tenho sentido isso na pele! - com sorriso amarelo. - Será que seu pai tem falado com Can?

E: Vou conversar com ele hoje. - eu aperto sua mão e o encaro. - Fique tranquila, respeitarei o desejo de Sanem, por enquanto... mas preciso saber do meu irmão.

Permanecemos em silêncio até em casa e não tocamos mais no assunto.

Quando o amor é mais forte...Onde histórias criam vida. Descubra agora