CAN
Hoje faz um pouco mais de uma semana, que sai daquele hospital, com o coração em pedaços, deixando tudo para trás. Quanto mais os dias passam, a sensação que tenho é de que minha alma me abandonou, sinto-me vazio por dentro, como se minha essência tivesse sido arrancada a sangue frio, restando apenas uma dor enorme, tão grande que mal consigo respirar.
Ainda estou tentando elaborar tudo o que aconteceu. No dia anterior ao acidente, eu fui para casa da montanha com o caderno de Sanem, pois ela gostaria que eu lesse, antes de publica-lo como um livro. Ela queria aproveitar uma oportunidade para novos talentos, junto a uma editora americana e, pediu minha autorização, uma vez que o caderno tinha o registro detalhado de nossa história. Apesar de eu confiar nela e autorizar mesmo sem ler, ela fazia questão.
Desde que fizemos as pazes há pouco mais de 2 meses, quando desisti da viagem as Balcãs, mesmo com todo o amor e paixão que compartilhamos, percebo o quão frágil era nossa relação, parece que todo o amor não foi suficiente, para nos manter juntos.
Ficamos noivos e desejávamos nos casar o mais breve possível, mas as interferências externas de nossas famílias complicaram e muito nossos planos. A família de Sanem com exigências pautadas nas tradições, enquanto minha mãe, com suas ideias faraônicas, querendo um casamento digno da realeza, com vistas nas colunas sociais.
Diante da falta de consenso entre nossas famílias e após muitas brigas, a minha proposta para Sanem foi de nos casarmos no civil, com apenas duas testemunhas e, depois comunicar o ato consumado, mas Emre e Leyla se anteciparam e se casaram antes, gerando um transtorno enorme, que só piorou nossa situação e a vigília sob nossos próximos passos. Nossos irmãos foram espertos e agiram, vislumbrando o que os esperava.
Sanem visivelmente abalada com a reação de seus pais e da minha mãe, questionou-me sobre o que deveríamos fazer, e eu sugeri que déssemos um tempo no assunto casamento, ao menos até a poeira baixar, mas ela pareceu reticente e pouco confortável, mesmo que minha intenção fosse tranquiliza-la e controlar os ânimos.
Lembro dela me perguntar o que era o amor para mim, e eu respondi, que "depois de um tempo, um homem compreende, que apesar de ter liberdade para ir onde e quando quiser, essa liberdade é solidão!" Sim, eu acredito, que todos precisamos de amor e, quando você encontra aquela pessoa especial, que é objeto do seu afeto, onde quer que você vá, ela sempre estará com você, em você e, estar distante dela, sem ela, é estar mergulhado na solidão... como eu estou agora! Ela continua em mim, em cada um dos meus poros, mas a sua distância física denota a profundidade da minha solidão, já não sei ser eu, sem ela.
Eu me questiono, como um amor tão grande pode ser tão frágil e suscetível a interferências externas.
Sinceramente, eu não suportava a ideia de Sanem trabalhar com Yigit, nunca confiei nele, um homem sabe quando o outro deseja uma mulher, especialmente se for a sua mulher. Eu compreendo o desejo de independência de Sanem, de conseguir seus próprios feitos a despeito de estarmos juntos, ou da minha ajuda, mas porque não com outro editor? Eu apresentei um amigo, dono de uma das maiores editoras da Turquia, que se interessou pelos manuscritos dela, mas ela ficou ofendida, julgando que eu queria conduzi-la, que eu não confiava nela. Foi nesse clima frágil, que ela me trouxe seu caderno naquela noite. A situação era tão difícil, que ela o entregou na porta da minha casa e partiu sozinha, sem um beijo ou um abraço sequer.
Eu, francamente, não sabia o que fazer. Decidi refugiar-me casa da montanha, lá eu me sentia seguro e tranquilo, para ler o caderno e refletir sobre os últimos dias, sem falar das lembranças dos lindos momentos que passei com Sanem nesse nosso lugar. Fazia muito frio, eu estava cansado e adormeci assim que cheguei, afinal os últimos dias tinham sido muito difíceis entre nós e, sempre que estávamos assim, eu ficava em pedaços.
No dia seguinte, decidi me sentar ao sol, mas antes fui buscar mais lenha para a fogueira, para poder retomar a leitura. Lembro-me de retornar com a lenha, perdido em meus pensamentos, quando vi Yigit. Eu enrijeci todos os músculos e questionei o que ele fazia ali. Ele começou a dizer algo, mas quando olhou para a fogueira e começou a gritar "Por que você fez isso, Can?"; "Você não ama Sanem!"; "Por que você pôs tudo a perder?", "Por que queimou o caderno dela?"... Mas, o que ele estava fazendo lá e do que ele estava falando, por que estava tão alterado? Foi quando vi o caderno na fogueira e me desesperei. Consegui tirá-lo, já bastante danificado, queimando minha mão! Yigit veio irado para cima de mim, me empurrando, eu revidei empurrando-o com força, ele se desequilibrou e caiu, batendo a cabeça e perdendo os sentidos, diante de uma Sanem incrédula.
No hospital passamos horas de apreensão, eu arredio como defesa, diante da postura de acusação de Sanem. Emre e Leyla chegaram tentando compreender o ocorrido, observando a situação, sem opinar, mas o meu passado me condenava, pois todos sabiam o quão intenso e viceral, eu sou. Em dado momento, minha mãe entrou na sala de espera em prantos, afirmando que Yigit lesou a coluna, correndo o risco de ficar paraplégico. Fiquei desnorteado... como e quando me tornei alguém assim? Como eu pude chegar a esse ponto?
A enferneira nos autorizou entrar para vê-lo e fomos todos para o quarto, liderados por mim. Assim que ele abriu os olhos, eu me desculpei, me comprometendo a ajudá-lo no que fosse necessário. Ele respondeu que não era necessário, que ele não me denunciaria, pois sabia que não foi intencional e pediu que eu saísse de seu caminho. Sanem apertou a mão dele, condescendente e me olhou com olhar de crítica, cheio de lágrimas. Eu suspirei e sai do quarto arrasado.
Ela veio atrás de mim, me chamou e tivemos uma conversa bastante difícil e decisiva.
C: Eu não fiz de propósito, apenas não medi a força, foi um acidente. - tento me redimir.
S: E se ele morresse, Can?! Que tipo de raiva é essa?! Você... Vai me tratar assim?! O que está acontecendo com você, Can?! - acusando.
C: O que você está dizendo? Eu não queria prejudicá-lo. E muito menos magoar você! Eu preferiria morrer.
S: E queimou meu caderno? Para não me magoar? - questionou convicta.
C: Seu caderno... - suspirei incrédulo - Você acredita na possibilidade de eu ter feito isso?! - com ênfase.
S: Foi você ou o Yigit, o caderno não se queimaria sozinho. Mas, por que Yigit faria isso? - questionou.
C: Eu não fiz isso, Sanem. Eu não fiz isso! - como se repetir várias e várias vezes pudesse fazê-la rever sua acusação.
S: Diga-me... pelo menos uma palavra escrita nesse caderno. Diga, se você leu... - fiquei mudo.- Você não leu, não é? Pelo menos uma palavra?
C: Eu não quero te dizer nada agora. - digo evasivo.
S: Esse é o seu problema. Naquele caderno estava escrito tudo sobre o que havia entre nós. O fato de eu ser uma "toupeira"... As mentiras que eu disse, como foi com o Fabbri! Porque você não teve coragem de ler o caderno!
C: Coragem? - sarcástico.
S: Você busca acreditar no que quer. Tentando de alguma forma cobrir os meus erros. Eu tentei falar com você, mas você não me ouviu. Eu queria te dizer... você não quis falar comigo. - desabafou.
Eu escrevi uma carta, mas você a rasgou e jogou fora. Can, você ama a Sanem da sua cabeça... não eu! - concluiu.
C: Sanem, tudo bem, é o suficiente. Aqui não. Vamos sair daqui. - disse estendendo a mão para ela, mas ela recusou...
S: Eu não irei. - afirmou.
Passei a mão sã pelo meu rosto e cabelos e disse:
C: Se você realmente acredita, que eu poderia prejudicar o Yigit, ou você... queimar aquele caderno, que era tão querido para você... se você realmente acredita nisso... Eu não ficarei aqui em vão... - disse aos tropeços, aguardando sua resposta.
Nos encaramos em silêncio... com uma dor profunda refletida nos olhos.
C: Ok, estou indo embora. Adeus. - sai desolado e sem olhar para trás, na expectativa de que ela me chamasse, mas não chamou...
Eu pedi tantas vezes, que ela não soltasse minha mão, mas foi o que ela fez, não havia mais nada para mim ali. Eu, que sempre fiz questão da transparência e da verdade, fui condenado injustamente, por ela não acreditar na minha versão dos fatos, jamais a magoaria deliberadamente, ou mentiria. Como ela pôde duvidar de mim? Como ela pôde acreditar mais em um cara, que conhece há poucas semanas, do que em mim? Como ela pôde leva-lo no meu... no nosso refúgio secreto?
Fui para casa desnorteado, sem saber que rumo tomar, peguei algumas coisas de extrema necessidade, coloquei em uma mochila, desliguei o celular e coloquei no fundo, para não ter de atender ligações ou cair em tentação de ligar... Peguei o carro e sai em direção ao aeroporto, enquanto lágrimas caiam livremente pelo meu rosto... como e para onde irei? Nada me ocorria... talvez pegue o primeiro vôo disponível, só preciso sair de Istambul o mais rápido possível.**************************************************
Nota da autora:
Muito difícil essa situação armada pela própria mãe (bruxa) de Can, com apoio e aval do psicopata do Yigit (o cara nutre uma verdadeira obsessão por Sanem, sem sequer conhecê-la direito, ou que ela lhe desse qualquer esperança, abriu mão de toda sua vida e carreira no Canadá, permanecendo em Istambul). Ele abriu uma editora de um livro só, o de Sanem! Sim, porque o outro foi o de receitas de sua irmã Pólen.
Até quando Sanem permanecerá de olhos fechados para isso?
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Quando o amor é mais forte...
FanfictionEssa é uma fanfic ou fan fiction, baseada na série turca ERKENCI KUS (Pássaro Madrugador). Na série o casal principal permanece um ano afastado, por permitir, que influências externas, minassem sua relação. Nossa história narrará esse período de a...