Eu sempre pensei no amor como uma linguagem, algo como o francês, a matemática ou mesmo a programação de computadores. Eu achava que quanto mais eu aprendesse sobre ela, quanto mais fundo eu mergulhasse nela, mais fluente eu seria.
Foi um pouco difícil no começo. Quando eu era adolescente, eu mal sabia a diferença entre amor e atração, mas hoje eu posso dizer, com toda a certeza, que há uma diferença abismal entre eles!
Bom, naquela época, eu me apaixonei pelo zagueiro central do nosso time de futebol do ensino médio. Pois é, bem clichê, eu sei. Não me julgue tão duramente, ainda hoje me dá água na boca só de lembrar daquele abdômen tanquinho, sem falar naquelas coxas grossas, meu pai eterno!
Noah foi meu primeiro homem, nós namoramos por alguns meses. Bom, ele me levou ao baile de formatura, e você já pode imaginar o que aconteceu depois... Então, eu passei na faculdade e mudei de cidade, já Noah recebeu um convite para ingressar na liga de futebol profissional e ficou. Nosso namoro sofreu o baque da separação física. Foi com a distância que eu comecei a perceber que o Noah não tinha muito a oferecer além do corpo. Se naquela época existisse Skype, e rolasse um sexo virtual de vez em quando, talvez ainda estivéssemos juntos, mas no final dos anos 80, tudo o que tínhamos eram cartas e telefonemas. Ele nunca escreveu e eu parei depois da minha décima carta. Quanto aos nossos telefonemas, bom, veja você mesmo.
"Oi, minha delícia, tudo bem?" Ele fazia uma voz rouca e eu derretia.
"Oi, amor! Tudo certinho. Dezenas de livros para estudar sobre Marcuse!" (Nessa parte eu costumava suspirar.)
"Quem?"
"Hebert Marcuse, o filósofo alemão." Minha voz aumentava uma oitava mostrando entusiasmo.
"Ah."
"E você, amor?"
"Hmmm... jogando futebol... dezenas de jogos, o mesmo de sempre."
"Que bom... eu acho."
"É sim. Estou com saudades, minha delícia!"
"Eu também, amor! Quando você vem?"
"Eu não sei... o calendário de jogos é apertado aqui."
"Tá." A decepção era nítida na minha voz.
"Desculpe. Eu tenho que ir. Te amo!"
"Se cuida! Também te amo!"
Agora releia vinte vezes, mudando o nome do filósofo. Bem chato, né? Então, um dia, depois de uma palestra sobre Rumi, o poeta, troquei o "também te amo" por "adeus". Como dizia Rumi: "Adeus é só para quem ama com os olhos. Porque para quem ama com o coração e a alma, não existe separação."
Primeira lição aprendida: o amor é mais do que apenas um corpo bonito.
A minha graduação em Filosofia mostrou-me o mundo da mente. Junto com Marcuse e Rumi, conheci Hans Albert, não o filósofo alemão, mas um colega. Hans e eu cursamos Filosofia da Religião juntos. Apesar da sala de aula apinhada de gente, ele sempre dava um jeito de se sentar ao meu lado e não demorou mais que dois cafés e um almoço para passarmos de conhecidos a amigos. Como amigos, partilhávamos refeições e livros e até descobrimos um hobby comum desde a infância: a fotografia. Então, decidimos fazer juntos uma matéria optativa para aprender sobre todo o processo fotográfico, do clique à revelação dos negativos.
No início dos anos noventa, Hans e eu passávamos muitas tardes no laboratório fotográfico. Lembro-me de uma, em especial; nossa tarefa era preparar uma exposição no campus com nossas melhores fotos. Enquanto pendurávamos a última leva de fotos para secar, Hans colocou a mão sobre a minha e, sob a luz vermelha, fixou seus olhos nos meus.
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Amor Áspero
Short Story1. Queda livre Às vezes uma simples escolha pode ter nos levar longe demais... 2. Carolaine Ela tinha uma alma de menina, mas só quem tinha olhos sensíveis podia ver... 3. O Homem Perfeito A busca pelo homem ideal pode levar uma vida inteira... 4. I...