Janeiro chegou, trazendo consigo as liquidações pós-Natal. Meu marido e eu não éramos ricos, ainda lutávamos a duras penas para mobiliar a casa alugada. Quando nos mudamos, um colchão no chão da sala servia de sofá e nossas roupas ficavam guardadas em malas, porque não pudemos comprar um guarda-roupa logo de cara.
O único quarto perfeito desde o início era o do nosso filho. A mobília incluía um berço dourado que foi herança de família, uma cômoda antiga de segunda mão, um tapetinho azul estampado com um cachorrinho e uma cabaninha infantil novinha em folha. A cabaninha foi um presente cuidadosamente escolhido; ocupava metade do quarto e tinha um túnel acoplado que levava a uma piscina de bolinhas.
Sammy já ia fazer três aninhos em abril. Uma criança feliz que adorava correr, nadar e, desde o Natal, brincar na cabaninha. Todos os seus brinquedos subitamente desapareceram de vista dentro da nova aquisição, que recebeu uma população de bichinhos de pelúcia e bonequinhos como inquilinos permanentes. Tom e eu queríamos comprar algo especial para o aniversário dele, mas não conseguíamos pensar em nada capaz de superar a empolgação que ele sentia pela cabaninha.
Abril parecia estar tão distante na época, mas o tempo voa com um pequenininho em casa. Nosso bebê estava crescendo rápido, já nas primeiras semanas do ano, ele aprendeu a usar o banheiro e abandonou completamente as fraldas diurnas. O treinamento para largar as fraldas não foi uma tarefa fácil. Sammy passou o primeiro dia seminu, pois meu manual ordenava que eu o sentasse no penico a cada quinze minutos. O segundo dia foi melhor, com idas ao banheiro a cada meia hora. No terceiro, uma visita ao trono a cada quarenta e cinco minutos e assim por diante. Para cada tentativa bem-sucedida, Sammy ganhava um adesivo de estrelinha dourada que eu colava no seu quadro de "treinamento adeus fraldas" fixado na porta do seu quarto.
Sammy tonou-se um menino grande. Acidentes eram raros. Lembro-me de dois. Uma vez, demoramos muito tempo para levá-lo ao banheiro quando estávamos longe de casa e, da última vez, foi no parque. Nosso menino se divertia olhando uma garota maior andar de bicicleta, ela tocava a campainha acoplada para abrir caminho à frente. A bike era vermelha e tinha fitas brilhantes saindo das manoplas que mais pareciam um arco-íris voador passando a toda velocidade. Sammy apontou, bateu palmas, pulou e...
"Mamãe, eu preciso ir ao banheiro!" Ele trançou as perninhas.
"Você pode esperar, coraçãozinho?" Eu me agachei até ficar no nível dos olhos dele. "Precisamos caminhar um pouco para chegar até lá."
"Não!" E ele já estava todo molhado. Lágrimas de decepção e vergonha escorriam pelo seu rosto.
"Está tudo bem, garotão." Tom puxou-o pela mão. "Venha, vamos deixar você seco e limpo." Ele levou Sammy até a casa da árvore e entregou-lhe um short e uma cueca limpos.
"Você consegue se trocar aí sozinho?" Eu perguntei de baixo.
"Sim, mamãe." Ouvi sua vozinha vindo da casinha de madeira. "Eu sou um menino grande!"
Tom encarou-me com um sorriso. "Uma bicicleta!"
"O quê?" Eu pisquei algumas vezes.
"O presente especial para o aniversário do Sammy, Susana. Acho que ele vai gostar de ganhar uma bicicleta." Um sorriso brotou em meu rosto. "É isso!"
Tom estava certo.
A oportunidade surgiu alguns dias depois, em uma grande liquidação pós-Natal promovida pelo supermercado local. Eu estava terminando minhas compras quando vi a placa: "Minha primeira bicicleta – 50% de desconto". A oferta era maravilhosa "rodinhas e capacete incluídos", anunciava a caixa. Sem pensar duas vezes, incluí a bicicleta nas compras. A promoção cabia perfeitamente no bolso: metade do preço dividido em três parcelas sem juros no meu cartão de crédito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Áspero
Short Story1. Queda livre Às vezes uma simples escolha pode ter nos levar longe demais... 2. Carolaine Ela tinha uma alma de menina, mas só quem tinha olhos sensíveis podia ver... 3. O Homem Perfeito A busca pelo homem ideal pode levar uma vida inteira... 4. I...