"Você tem certeza?"
"Tenho", eu menti. "Pode contar comigo sempre que precisar. Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim quando eu estava doente. Devo muito a você, Glória." Eu sorri sinceramente. "Nunca poderei retribuir à altura."
"Eu não pediria para você vir se tivesse uma alternativa. Eu sei o quanto este lugar significa para você, Raquel, mas não podemos perder nenhuma venda. Olha, você pode me ajudar a desembalar os produtos e ir embora. Não precisa ficar."
"Não se preocupe, Glória, o passado pertence ao passado." Embora minha expressão fosse a mais tranquila possível, meu sorriso não alcançava os olhos.
Glória balançou a cabeça. "Você não me engana, minha querida. Eu concordei em manter seu segredo, mas ainda sei a verdade.
"Você prometeu!" Eu sussurrei, subitamente preocupada.
"Eu sei e tenho mantido minha palavra nos últimos seis anos, enquanto vejo você morrendo de tristeza, trabalhando como se não houvesse amanhã, assando, cozinhando, fingindo ser feliz."
"Eu sou feliz!"
"Certo... não vou cair de novo nessa conversa que não leva a lugar algum."
Com isso, Glória me calou e entramos no mercado de Natal.
Cada uma de nós carregava duas caixas pesadas. Aquele mês de vendas garantiria nossa sobrevivência pelos próximos três ou quatro meses.
Evitei aquele lugar por anos. Já era hora de enfrentar meus demônios, apesar da dor.
Galhos de pinheiro e luzinhas piscando decoravam nossa barraca e uma placa branca pintada à mão com grandes letras vermelhas anunciava: "Gingerly Baked". Nossa padaria era bastante famosa; clientes dos quatro cantos do país vinham comprar nossos pães de mel, biscoitos de gengibre e doces natalinos. A época do Natal era bastante movimentada e não podíamos desperdiçar nenhuma oportunidade de venda.
Gabe estava atrás do balcão entregando um pacote para uma cliente. O longo avental vermelho o fazia parecer mais alto. Minhas pernas ficaram bambas e um tremor incontrolável tomou conta do meu corpo. Escondi meu nervosismo debaixo do meu casaco acolchoado e deixei o ar frio encher meus pulmões. Quando Gabe me viu, veio me ajudar na hora, retirando as caixas das minhas mãos e colocando-as sobre o balcão. Enquanto isso, Glória acomodava as dela no fundo da barraca.
"É muito bom ver você aqui, Raquel. Faz séculos desde a última vez que a vi no mercado!" Gabe presenteou-me com seu melhor sorriso.
"É, faz um tempinho", respondi, evitando seus olhos. "É bom te ver aqui também." Eu não menti; era ao mesmo tempo maravilhoso e excruciante. Não tive tempo de escapar de seu abraço. O encaixe do seu corpo contra o meu parecia tão perfeito e familiar que eu precisei lutar contra as lágrimas. Tentei disfarçar com simpatia: "Ei, você deve estar faminto e cansado. Pode ir, Glória e eu assumimos as vendas."
"Estou mesmo! Valeu! Amo vocês!" Ele me beijou na bochecha e acenou para Glória, que já atendia outro cliente.
Engoli minha tristeza e organizei o conteúdo das caixas no display de vidro do balcão. As pessoas disputavam a tapa bolos decorados, pães de mel, biscoitos, muffins e stollens. Duas horas depois, já tínhamos quase esgotado o estoque.
"Glória, vou à padaria buscar mais algumas caixas. Os clientes estão se aglomerando como formigas esfomeadas e ainda temos algumas horas pela frente esta noite."
Glória riu. "Verdade. Você dá conta sozinha?"
"Claro!" Flexionei o braço direito e acariciei meu bíceps com a mão esquerda.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Áspero
Short Story1. Queda livre Às vezes uma simples escolha pode ter nos levar longe demais... 2. Carolaine Ela tinha uma alma de menina, mas só quem tinha olhos sensíveis podia ver... 3. O Homem Perfeito A busca pelo homem ideal pode levar uma vida inteira... 4. I...