(Des)encontros

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O trem aproximou-se da estação.

Anna viu um assento vago através do vidro das portas duplas. Como era a primeira da fila, correu para garantir o lugar quando as portas se abriram.

"Desculpe, este lugar está ocupado!"

Anna parou a poucos passos do homem trajando um conjunto esportivo, incapaz de chegar mais perto.

"Estou guardando para minha namorada."

Uma loira platinada passou por ela e sentou-se ao lado do homem. Ele ergueu os olhos do celular que segurava e cumprimentou-a com um sorriso contido antes de voltar a atenção para um jogo de futebol.

O casal não trocou uma única palavra até cinco estações mais tarde, quando se levantaram juntos.

"Depois de você." Ele estendeu o braço direito, indicando a saída.

A loira assentiu e os dois saíram do trem.

Anna ocupou o lugar onde o homem  estivera e sentiu algo cutucar a sua coxa esquerda. Levantou a perna e descobriu um crachá esquecido.

"André Snell, treinador de futebol juvenil", leu em voz alta. "Isso explica por que você sempre desce na estação do estádio."

Anna tirou o celular da bolsa que repousava em seu colo e discou o número impresso atrás do crachá.

"O que você está fazendo?"

Ela sentiu o olhar pesado da senhora sentada ao seu lado e se conteve, desistindo de apertar o botão verde na tela. Em vez disso,  adicionou o estranho aos seus contatos e evitou trocar mais olhares com a sua companheira de viagem.

A mulher continuou carrancuda até descer do trem, três estações depois.

Sozinha no banco, Anna digitou o número novamente e clicou no botão verde. O celular começou a tocar.

Uma vez. Duas vezes.

"Abaixe esse volume!"

"Silêncio!"

"Shhh!"

Ao sentir os olhares de todos os passageiros do vagão sobre si, Anna apertou o botão vermelho freneticamente e guardou o telefone na bolsa. Depois, virou a cabeça para a janela, encostou a testa no vidro e suspirou conformada.

Ela desceu na última estação. Poucas pessoas a acompanharam pela plataforma. Quando estava próxima à saída principal, ela tirou o celular da bolsa novamente.

"Agora não! Você vai se atrasar!"

Um cinquentão passou apressado por ela, esbarrando em seu ombro esquerdo. O celular quase foi ao chão com o impacto. Anna piscou algumas vezes, tentando se recuperar do susto.

"Nossa, já são dez para as oito. É melhor eu me apressar mesmo!" Ela checou a hora na tela e correu para o trabalho, segurando o aparelho na mão esquerda.

A correria habitual a fez esquecer o assunto. O atendimento na loja obrigou-a a manter o foco nas demandas e solicitações dos clientes. Até que não era ruim passar um tempo fora de sua cabeça.

O dia foi longo, Anna só conseguiu checar o celular às 18:32, quando voltava para a estação de trem. Havia duas chamadas perdidas de André Snell e um SMS: 

"Recebi uma ligação deste número. Eu te conheço?"

"Meu nome é Anna!" Ela digitou para apagar em seguida.

Amor ÁsperoOnde histórias criam vida. Descubra agora